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“Uma das maiores mudanças na Sparkes foi a sua digitalização”, revela Diamantino Costa

Da fundação da empresa à eletrificação do automóvel. Nesta entrevista, o diretor-geral da Sparkes faz várias revelações. Como o facto de a companhia ser, hoje, mais portuguesa do que britânica.
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Especializada na reconstrução de caixas de velocidade manuais para veículos ligeiros, a Sparkes & Sparkes (ou, simplesmente, Sparkes) comemora, em 2023, 33 anos de atividade.

Fundada pelo casal inglês Sparkes (Peter e Ruth), que ainda hoje se mantém na gestão, a empresa é, hoje, mais portuguesa do que britânica, como revela ao Check-up Diamantino Costa, diretor-geral.

Mais há muito mais para ler nesta entrevista, como, por exemplo, o rebranding efetuado em 2021, um ato de coragem que rompeu com uma imagem que tinha três décadas, e uma das maiores mudanças a que a organização foi sujeita: a digitalização.

A Sparkes & Sparkes celebra, em 2023, 33 anos de existência. Que balanço faz destas mais de três décadas de atividade?

Sendo a Sparkes & Sparkes a empresa que é hoje, uma companhia bastante conhecida no mercado automóvel, especialmente na reconstrução de caixas de velocidade, que tem como clientes inúmeras empresas de grande prestígio, onde se incluem grupos de oficinas a gestoras de frotas, desde os mais conhecidos stands de automóveis até ao mecânico que trabalha sozinho, sendo uma marca reconhecida em todo o país e, também, cada vez mais em Espanha, não podemos deixar de fazer um balanço muito positivo.

Somos uma empresa sólida, cumpridora, muito (e reconhecidamente) especializada naquilo que fazemos, com uma capacidade temporal de resposta incrível, pelo que o balanço é francamente positivo.

Mas tal não significa que pensamos já ter atingido o topo, que tudo está conseguido. Temos ainda muito caminho a percorrer. Queremos continuar a crescer, queremos expandir-nos ainda mais para outros países, nomeadamente para Espanha.

Temos muitos projetos para a Sparkes & Sparkes. Sei que temos o conhecimento, a especialização e a capacidade, a todos os níveis, para crescer muito mais, de forma sustentada. Vamos aos poucos, mas, certamente, que chegaremos lá.

Ainda se lembra bem de como era o mercado da reconstrução de caixas de velocidade manuais quando a Sparkes & Sparkes começou?

Não estou na Sparkes & Sparkes desde o início da empresa. Cheguei há “apenas” 10 anos. Mas quando a Sparkes & Sparkes chegou a Portugal, pelo que me contam os fundadores da empresa, não havia mercado de reconstrução de caixas de velocidade.

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Existia até uma grande desconfiança quando a Sparkes & Sparkes pedia a caixa velha (que é uma condição de venda que continuamos a colocar aos nossos clientes).

Tenho um amigo que foi mecânico durante muitos anos e quando lhe disse que vinha trabalhar para uma empresa que apenas reconstruía caixas de velocidade, disse-me que isso não tinha futuro, porque cada mecânico reparava as caixas de velocidade que precisavam de ser arranjadas.

Disse-me que não achava possível que um mecânico fosse comprar uma caixa já reconstruída em vez de reparar ele próprio o componente. Provavelmente, nessa altura isso seria uma realidade.

Quando a Sparkes & Sparkes chegou a Portugal, as pessoas não sabiam o que eram peças reconstruídas (na verdade, ainda hoje há muita confusão em relação a peças reconstruídas) O que é facto é que ajudámos a criar em Portugal o mercado da reconstrução de peças auto.

A Sparkes & Sparkes deve o seu nome ao apelido do casal inglês que a fundou. Podemos dizer que a empresa é, hoje, mais portuguesa e menos britânica?

Efetivamente, a Sparkes & Sparkes deve o seu nome ao apelido dos fundadores: Peter Sparkes e Ruth Sparkes. A empresa sempre teve um certo “orgulho” em ser conhecida como uma companhia inglesa.

Os ingleses são uma potência automóvel (entre outras coisas) e são, reconhecidamente, dos melhores também na reparação automóvel. Sendo a Sparkes & Sparkes gerida por ingleses, beneficiou muito dessa especialização, seja na forma de saber como fazer o serviço bem feito, seja na aquisição de peças que eram impossíveis de obter em Portugal.

Aliás, uma prova desse orgulho é que, durante décadas, a bandeira do Reino Unido fez parte do logótipo da empresa. Mas o mundo foi-se globalizando e os nossos mecânicos já trabalham há vários anos na Sparkes & Sparkes, pelo que cada vez dependemos menos do que provém do Reino Unido.

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A empresa depende muito pouco do Reino Unido (embora continuem os donos a ser os mesmos e a influenciar – e bem – a companhia). Somos, hoje, uma organização mais portuguesa do que britânica.

Mas a nossa origem “inglesa” continua muito enraizada na empresa, no sentido em que os valores que a família Sparkes incutiu continuam muito presentes: a seriedade, o cumprimento dos prazos, o facto de a nossa garantia ser mesmo para os clientes, a particularidade de reconstruirmos, nós mesmos, aqui em Santo Tirso, as nossas caixas e de não as comprarmos a outros para revender… Por outro lado, conseguimos, hoje, ser um pouco menos “rígidos” em alguns aspetos, o que faz com que sejamos uma empresa muito mais ágil.

Considera que o stock de peças novas, de rolamentos e de mais de 1.000 caixas de velocidade são trunfos da empresa que lidera?

A gestão de stocks é, no meu entender, um dos maiores desafios que se colocam a um gestor. Hoje, as empresas não podem “dar-se ao luxo” de ter um stock demasiado extenso, porque isso, além de ser oneroso, acarreta muitos riscos.

Desde logo, o risco de uma peça rapidamente passar a ser obsoleta e ficarmos com elas para “pisa papéis”. E, isso, acontece com alguma frequência na nossa atividade. Por exemplo, uma caixa que dê muitos problemas numa determinada peça pode levar a que se entenda que se deve ter uma grande quantidade dessas peças. Mas se a própria marca corrigir esse defeito, há o risco de nunca mais se usarem essas peças. Por outro lado, não podemos correr o risco de não ter nada em stock e apenas comprarmos o que se vai vendendo. Tem de haver um equilíbrio.

Nós, na Sparkes & Sparkes, tendo, obviamente, esse equilíbrio, gostamos de ter stock para um determinado tempo, para uma quantidade de caixas. É raro termos de dizer a um cliente que não temos stock para determinada peça. Se temos essa peça em comercialização, então, normalmente, temos em stock.

Sem dúvida que isso é um trunfo. Ninguém, hoje, quer ter uma viatura parada à espera de uma peça, até pelos prejuízos que isso acarreta. Nós temos essa consciência e, por isso, dispomos de um stock ajustado aos nossos consumos e às nossas vendas.

Claro que para isso contribui, decisivamente, a forma como gerimos os dados na nossa empresa. Temos muita informação e usamos muito as estatísticas para gerir os nossos stocks.

E ainda existe a garantia de um ano e devolução da unidade usada em troca…

Na verdade, a nossa garantia, nas caixas de velocidade, é de três anos, sem limite de quilómetros, com exceção dos clientes empresariais, em que a garantia é de um ano sem limite de quilómetros.

Orgulhamo-nos de dar uma garantia melhor do que a de muitos fabricantes de automóveis. Temos um produto de excelência. Sabemos disso e queremos que os nossos clientes o saibam também.

Além do mais, a nossa garantia é, realmente, uma garantia para os nossos clientes. Se alguma coisa correr mal com as nossas caixas de velocidade, queremos resolver o problema ao cliente o mais rapidamente possível e com o menor número de perguntas possível.

Mesmo uma avaria numa caixa de velocidades nossa depois de terminada a garantia, gostamos que os clientes nos enviem a caixa para percebermos o que aconteceu e o porquê de ter acontecido.

Não é invulgar assumirmos garantias depois de terminado o período destas ou de fazermos um preço muito especial na reconstrução de uma caixa Sparkes & Sparkes fora de garantia.

A devolução da caixa velha é uma obrigatoriedade para os nossos clientes. Para se reconstruir uma caixa de velocidades, é necessário ter uma caixa de velocidades velha… Por isso, a condição é sempre entregar a caixa velha. Além do mais, isso é, também, importante em termos ambientais. Não ficarem caixas velhas, com óleo, por reciclar.

Todas as caixas de velocidade que reconstroem são fornecidas com a quantidade correta de óleo de elevada qualidade, correto? E ainda colocam à disposição do cliente um serviço de montagem…

Um dos principais problemas que a Sparkes & Sparkes teve, no início, era o problema do óleo: muitos clientes apenas queriam o mais barato (ainda hoje é um pouco assim). E, então, o óleo que era colocado na caixa de velocidades era o mais barato, não sendo respeitadas as normas dos fabricantes.

Tal levava a que houvesse problemas nas caixas de velocidade. Quando não se utiliza o óleo adequado, as caixas avariam… Por isso, a partir de determinado momento, a Sparkes & Sparkes optou por fornecer as suas caixas de velocidade sempre com o óleo adequado para cada uma.

E não fornecemos um óleo qualquer, fornecemos óleo da melhor qualidade, da FUCHS, com quem temos uma parceria que muito nos orgulha. Peter Sparkes diz, muitas vezes, que só com esta medida conseguiu reduzir mais de metade das reclamações.

A nossa parceria com a FUCHS é, nesse sentido, muito proveitosa. Além de que nos permite, se necessário, analisar o próprio óleo, em certas situações, para perceber melhor o que se passou.

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Quanto ao serviço de montagem, não é prioritário para nós, até porque não queremos fazer concorrência aos nossos clientes. O que queremos é que as oficinas nos comprem as caixas e as instalem nas viaturas dos seus clientes.

Mas há sempre uma situação ou outra em que é útil. Temos até algumas oficinas que preferem que sejamos nós a instalar as caixas nas viaturas dos seus clientes. E fazemos isso sem problema algum.

Que características mais valoriza nas pessoas que consigo trabalham?

Gosto de pessoas cumpridoras, que não me “obriguem” a inspecionar o que estão a fazer. Gosto de pessoas que sejam responsáveis e que não olhem só para si.

O que detesta fazer a nível profissional?

Detesto “fazer de polícia”. Detesto andar a ver o que cada um faz ou deixa de fazer. Detesto ter de chamar a atenção a alguém por não estar a fazer aquilo que lhe compete. Detesto ter de dizer várias vezes a mesma coisa.

Em 2021, a Sparkes & Sparkes renovou totalmente a sua imagem. Foi um ato de coragem romper com um “formato” que já tinha três décadas?

Foi, de facto, um ato de coragem, porque foi uma grande mudança. Desde o início, na nossa imagem, no nosso logótipo, estavam as bandeiras de Portugal e do Reino Unido juntas.

As pessoas associavam a Sparkes & Sparkes ao Reino Unido e não foi fácil a decisão de mudar. Sabíamos que tinha algum risco o rebranding, mas, nessa, altura, achámos que era o momento de nos libertarmos dessa ideia de que éramos uma empresa inglesa, até porque, entretanto, tivemos o “brexit”. Era necessário criar uma imagem mais moderna, fresca, simples, facilmente compreensível. Achamos que foi uma aposta ganha.

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A nova loja online e o pedido de orçamentos no website da Sparkes & Sparkes são dois exemplos do salto que a empresa deu na área digital…

Uma das maiores mudanças na Sparkes & Sparkes foi a sua digitalização. O website, a loja online e as redes sociais são exemplos disso. Mas a parte mais importante foi criar uma espécie de plano de continuidade do negócio.

Não queríamos, como não queremos, que o papel reinasse na nossa empresa. Queríamos, como pretendemos, que, se acontecesse alguma coisa a alguém ou nas nossas instalações, por exemplo, tal não implicasse perda de dados ou de informação. A informação é, para nós, muito valiosa e não podemos correr o risco de perdê-la.

Hoje, todos os documentos na empresa são digitais. Tudo está em formato digital. Toda a informação que tínhamos foi digitalizada, todas as informações e documentos que recebemos são digitalizados.

Sabemos quantas cotações damos, a quem as fornecemos e que preço indicamos sem precisar de falar com ninguém. Essa informação está disponível. Se um colaborador ficar em casa, por algum motivo, não temos de ligar-lhe a perguntar nada. Podemos deixá-lo sossegado. Todas as faturas… Tudo é digitalizado. Tudo está em arquivo digital.

É essa informação que nos permite fazer estatísticas e, por exemplo, fazer uma adequada gestão dos stocks. Foi difícil e dispendioso, mas dá-nos uma segurança, um conforto e uma facilidade de acesso à informação muito grandes.

Em 2022, a Sparkes & Sparkes atingiu o seu melhor ano de sempre em termos de vendas. E o arranque de 2023 foi muito bom. É caso para dizer que o mercado da reconstrução de caixas de velocidade manuais continua a engrenar?

É verdade que o ano de 2022 foi o melhor ano de sempre e 2023 arrancou muito bem. Tenho a certeza de que este ano vai voltar a ser o melhor, como, aliás, tem vindo a acontecer sempre, exceto nos anos da pandemia.

Há, certamente, muitos motivos que explicam esta boa “performance” e olhamos para todos com a atenção que cada um merece. Temos a vantagem de ter atrás de nós 30 anos de empresa, de termos conhecimento de informação, de contarmos com colaboradores realmente especializados naquilo que fazem.

Temos um grande stock de caixas e de peças, que vamos comprando e que nos permite dar uma resposta muito rápida aos clientes. Em mais de 90% das situações, uma caixa que nos chegue hoje para reconstruir, estará a ser entregue ao cliente amanhã.

Esse é, certamente, um dos motivos pelos quais muitos clientes preferem a Sparkes & Sparkes. Outro é saberem que ficam com o assunto resolvido. Trabalhamos muito para nos posicionarmos como uma referência no mercado.

Que balanço faz da participação, em abril deste ano, na expoMECÂNICA e na Feria del Automóvil, tendo a primeira decorrido em Matosinhos e a segunda em Valência, com pouco intervalo?

Fizemos duas feiras em abril deste ano e correram as duas muito bem, ainda que sejam duas exposições completamente diferentes e com objetivos muito distintos.

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A expoMECÂNICA é “a nossa feira”. Estivemos presentes sempre, desde a primeira edição. É a feira da “nossa terra” e é, seguramente, uma das melhores do ramo na Europa. O staff da Kikai está de parabéns pelo excelente trabalho realizado.

Nesta feira, encontramos a maioria dos nossos clientes, que só conhecemos de falar ao telefone ou de comunicar por email. Só por isso, já valia a pena a participação. Mas é, também, uma excelente oportunidade para conhecer potenciais novos clientes, já que a feira, ao estar tão bem montada, atrai um grande número de visitantes.

A feira de Valência é uma feira de automóveis, destinada ao público e não apenas a profissionais, como a expoMECÂNICA. Já temos alguns clientes empresariais em Espanha e sentimos que é preciso dar visibilidade à marca Sparkes.pt.

Aliás, é esse o motivo que nos levou a estar presentes na Galiexpo, em Vigo. São certames visitados por muita gente, o que faz com que consigamos chegar a “grandes massas”.

Somos uma empresa conhecida dos mecânicos, dos gestores de frotas, dos responsáveis das oficinas e de quem toma decisões nesta matéria. Mas é preciso que as pessoas, que os consumidores finais, também nos passem a conhecer.

Como está a correr o negócio em Espanha? É este o único mercado de exportação da Sparkes & Sparkes?

O negócio em Espanha está a andar… Temos já alguns clientes certos, tanto para caixas de velocidade como para peças. Começamos a receber contactos de oficinas de gestores de frotas porque começa a haver o “passa a palavra”. E, isso, é bom.

Não é fácil vender diretamente de Portugal para Espanha, mas estamos convencidos de que estamos no caminho certo. E que, com resiliência e muito trabalho, vamos ter excelentes resultados no país vizinho também.

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Alguma vez equacionou alargar o portefólio de produtos e serviços da Sparkes & Sparkes?

A Sparkes & Sparkes é uma empresa especializada em caixas de velocidade manuais. Há uns anos, passámos a vender não apenas as caixas de velocidade completas, mas, também, as peças.

Sabemos que há oficinas que querem reparar as suas caixas, uma vez que têm conhecimentos para fazê-lo e que o fazem bem.

Entendemos que lhes podemos vender as peças que usamos na reconstrução das nossas caixas. Isto para dizer que já alargámos um pouquinho o nosso portefólio…

Somos líderes de mercado em Portugal e sabemos que não é muito fácil continuar a crescer ao ritmo a que temos crescido se não alargarmos o âmbito territorial onde atuamos e/ou aumentarmos o leque de coisas que fazemos ou vendemos.

Tendo isso bem presente, temos, também, a certeza de que não nos queremos dispersar de tal modo que possamos perder a especialização de que dispomos na área em que atuamos. São, por isso, decisões que têm de ser (e são) muito ponderadas.

A eletrificação do automóvel “assusta-o” ou ainda serão necessários muitos anos até que o negócio da Sparkes & Sparkes possa “sofrer” com isso?

A eletrificação do automóvel não me assusta nem me tira o sono, mas estamos atentos. Sabemos que teremos ainda durante muitos anos viaturas com motores de combustão e com caixas de velocidade. Mas sabemos, também, que não podemos olhar para a Sparkes & Sparkes e ficar a pensar que, se calhar, daqui a 20 anos perdemos o nosso negócio…

Temos de olhar para o que se passa com calma, sem medo, mas com “olhos de ver” e tomar a iniciativa de aproveitar outras oportunidades que surjam. Não podemos fazer de conta que não é um problema e ficar “quietos e mudos”. Mas, também, não precisamos de entrar em depressão.

 

 

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