powered by

“Biocombustíveis avançados são a forma mais eficaz para uma mobilidade sustentável”, diz Ana Calhôa

Responsável da Associação de Bioenergia Avançada (ABA) defende que os combustíveis de baixo carbono são uma alternativa sustentável, reduzindo até 97% as emissões em comparação com os produtos fósseis.
Fotos
Check-up Media Ana Calhôa ABA

Não existe uma solução para promover a descarbonização e erradicar os gases poluentes da atmosfera. Existem várias. E podem conviver entre si, assim haja uma verdadeira discussão pública e vontade dos governantes.

Em entrevista ao Check-up, Ana Calhôa, secretária-geral da Associação de Bioenergia Avançada (ABA), explica que os biocombustíveis sustentáveis conseguem reduzir mais de 83% de emissões de carbono, dado que, dependendo da matéria-prima residual, podem diminuir até 97% de emissões de carbono, quando comparados com os combustíveis fósseis.

Por que motivo continuam a ser “esquecidos”, numa era em que só se fala de veículos elétricos? Porque ainda há caminho a percorrer e barreiras preconcebidas a derrubar. Mas a mensagem, como garante a nossa interlocutora, já começa a passar.

Os combustíveis de baixo carbono são a melhor solução para vencer a batalha pela descarbonização dos transportes?

Os combustíveis de baixo carbono são uma das melhores soluções para a descarbonização. No entanto, é importante sublinhar que só conseguimos alcançar o net zero através de um mix energético completo. Existem vários benefícios associados à adoção de biocombustíveis sustentáveis ou de baixo carbono. Desde logo, a redução de emissões de carbono, quando comparados com os combustíveis fósseis.

Check-up Media Ana Calhôa ABA serious

Os biocombustíveis avançados estão prontos para serem incorporados nos combustíveis fósseis, sendo a forma mais eficaz para uma mobilidade sustentável, sendo que o mercado automóvel já se encontra desenvolvido o suficiente para absorver misturas mais ricas e, por isso, são uma fonte de descarbonização possível de utilizar no parque automóvel existente hoje.

Paralelamente, ao reutilizarmos os resíduos, estamos a promover a economia circular e a garantir que, em vez de serem desperdiçados em aterros sanitários ou descartados incorretamente (poluindo, por exemplo, sistemas aquíferos), os resíduos são transformados em energia, contribuindo, assim, para a redução da dependência energética de Portugal.

Os biocombustíveis conseguem reduzir em 83% as emissões de carbono, face aos fósseis. Por que motivo a mensagem não passa?

Ainda testemunhamos como a falta de informação do público sobre esta solução coloca alguns entraves à expansão destas opções, sendo que, frequentemente, existe alguma confusão entre o que são os biocombustíveis avançados, produzidos a partir de resíduos, e os biocombustíveis tradicionais, produzidos a partir de óleos virgens, cujo impacto ambiental é bastante diferente.

A isto, alia-se, também, o facto de o mundo estar numa posição em que o foco está nas energias renováveis, igualmente relevantes e fundamentais para a transição energética. E, agora, temos de conquistar espaço na discussão pública também em torno do papel significativo dos biocombustíveis sustentáveis, que conseguem reduzir mais de 83% de emissões de carbono, uma vez que, dependendo da matéria-prima residual, podem reduzir até 97% de emissões de carbono, quando comparados com os combustíveis fósseis.

Check-up Media Ana Calhôa ABA far

Na ABA, estamos conscientes do poder da informação e, por isso, atuamos em proximidade com os nossos parceiros e associados, assim como com a sociedade, de modo a promover a bioenergia avançada e os combustíveis de baixo teor de carbono como uma opção viável, eficiente e sustentável, com potencial para desbloquear o futuro net zero que Portugal quer alcançar.

Acredita que se endeusa os veículos elétricos na mesma proporção com que se diaboliza os combustíveis de baixo carbono?

Os veículos elétricos têm tido uma expressão bastante significativa no mercado português, sendo, frequentemente, vistos como uma das potenciais chaves para a descarbonização e sendo umas das soluções com mais apoios a nível fiscal para promover a utilização destes veículos.

“É importante sublinhar que só conseguimos alcançar o net zero através de um mix energético completo. Existem vários benefícios associados à adoção de biocombustíveis sustentáveis ou de baixo carbono”

Acredito que é necessário adotar e promover todas as soluções sustentáveis, tais como os biocombustíveis avançados, em conjunto com as demais opções para que seja possível atingir a neutralidade carbónica.

Assim como educar a sociedade sobre os combustíveis verdes e desmistificar alguns dados incorretos, para reforçar a confiança dos consumidores nestas alternativas.

É, aqui, que a ABA entra: pretendemos alavancar a valorização da bioenergia avançada, mais especificamente dos biocombustíveis avançados ou sustentáveis, produzidos através de resíduos.

Os combustíveis de baixo teor de carbono têm a grande vantagem de as infraestruturas de abastecimento já existirem…

Os combustíveis de baixo teor de carbono não exigem a aquisição de novas infraestruturas porque são distribuídos através dos oleodutos, tanques e mangueiras já existentes e disponíveis nos postos de abastecimento. O facto de serem compatíveis com os veículos atualmente em circulação, incorporados em maior ou menor percentagem nos combustíveis fósseis tradicionais que ainda se utilizam, faz com que os biocombustíveis sejam uma alternativa mais eficaz e acessível a qualquer condutor, sendo esta uma vantagem económica bastante viável.

Se observarmos o parque automóvel existente e para a idade média de vida de cada veículo (ligeiro ou pesado), vamos perceber que ainda precisaremos no presente e no futuro de soluções sustentáveis para veículos com motor de combustão e é este um dos outros pontos que torna os biocombustíveis avançados e outros combustíveis verdes numa solução essencial para a descarbonização dos transportes.

Quais as principais vantagens dos biocombustíveis em termos de produção, eficiência e impacto ambiental?

Os biocombustíveis avançados promovem uma economia circular por utilizarem resíduos como matéria-prima, que, de outra forma, seriam desperdiçados ou mesmo poluentes para o meio ambiente, por serem descartados de forma errada.

Graças à reutilização de resíduos com potencial energético, tais como o óleo alimentar, gorduras animais e borras de café, Portugal pode desenvolver esta indústria e, consequentemente, reduzir a sua dependência energética.

Check-up Media Ana Calhôa ABA white

Complementarmente, a produção e comercialização de combustíveis de resíduos permitem o desenvolvimento de diferentes fases associadas à cadeia de produção desta solução energética, o que tem, também, um impacto positivo na criação de emprego.

Quais são os desafios mais significativos na produção em larga escala de biocombustíveis, atualmente?

 Os biocombustíveis já estão a ser utilizados no transporte rodoviário, sendo que há, inclusive, projetos bem-sucedidos em Portugal que recorrem a B100 (100% de biocombustível) nos veículos pesados. É possível aumentarmos esta incorporação e utilização de alternativas na frota hoje em circulação. No entanto, os desafios que se estendem perante nós estão associados tanto à transformação das tecnologias que utilizamos, como ao quadro legal e aos apoios aos operadores na cadeia de valor destes biocombustíveis, que precisam de ser mais robustos.

Por um lado, as tecnologias disponíveis operam numa escala reduzida, enquanto testes-piloto, e será necessário compreender como as expandir para que sejam economicamente viáveis. Por outro, é preciso reforçar a legislação e os incentivos a produtores, fabricantes e distribuidores, de modo a conseguirmos agilizar a aprovação de novos biocombustíveis e de novas especificações.

No mesmo sentido, será fundamental agilizar unidades de produção, armazenamento e distribuição destas opções no mercado de consumo, contribuindo para o desenvolvimento destas alternativas, que são imprescindíveis para a mobilidade sustentável.

Check-up Media Ana Calhôa ABA close

O poder local tem um papel de destaque na promoção deste consumo, enquanto bom exemplo a seguir e privilegiando a aposta nestas energias com uma pegada de carbono baixa.

Complementarmente, ainda não existe, em Portugal, matéria-prima suficiente para alimentar a produção de biocombustíveis avançados, o que implica uma necessidade de importar alguma matéria-prima. Neste panorama, a ABA promove a recolha de resíduos, desde óleos alimentares até borras de café, para que seja possível reduzir, gradualmente, a importação destas matérias-primas. 

Falta regulamentação para que estes combustíveis de baixo carbono possam chegar ao mercado a preços mais acessíveis?

O preço dos combustíveis é composto por vários fatores, como a cotação do mesmo, os impostos (IVA, ISP – taxa de carbono, contribuição de serviço rodoviário e imposto sobre produtos petrolíferos), a ADC (armazenagem, descarga e reserva) e a incorporação de biocombustíveis, que, atualmente, representam apenas cerca de 3% do valor final cobrado ao consumidor, sendo este um valor bastante residual.

“Se observarmos o parque automóvel existente, vamos perceber que ainda precisaremos, no presente e no futuro, de soluções sustentáveis para veículos com motor de combustão”

Acreditamos que, ao alargar esta opção a mais utilizadores e dando escala ao mercado, será, também, possível atingir um preço igualmente competitivo, sendo, para já, necessário um investimento na expansão destas opções para qualquer consumidor – das frotas comerciais aos consumidores privados.

No panorama regulamentar, Portugal tem revelado estar no caminho certo. As medidas implementadas até agora demonstram que existe bastante potencial para apostar nas soluções alternativas verdes.

No entanto, na visão da ABA, há ainda mais espaço para incentivos não só a nível fiscal, mas, também, a nível de mensagem do Governo, contribuindo para que os biocombustíveis avançados e outras soluções verdes cheguem aos consumidores e contribuam para descarbonizar a mobilidade e o país.

Últimas

Atualidade

Atualidade