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“Não preciso que alguém me dê algo para ser amigo dessa pessoa”, revela António Gonçalves

De bem com a vida. E, isso, reflete-se na forma de estar no negócio. O diretor-geral da Gonçalteam já viveu muitas histórias. Todas com final feliz. Amigo do seu amigo, orgulha-se da família que lidera.
Check-up Media António Gonçalves

De bem com a vida. E, isso, reflete-se na sua forma de estar no negócio. O fundador e diretor-geral da Gonçalteam já viveu muitas histórias. Todas com final feliz. Amigo do seu amigo, orgulha-se da família que lidera.

Cordial, frontal, pragmático. António Gonçalves é o rosto da organização que lidera. E a Gonçalteam é o reflexo dos seus valores: seriedade, idoneidade, respeito e transparência. O fundador e diretor-geral da empresa do Seixal já viveu muitas histórias. Todas com final feliz. Amigo do seu amigo (e são muitos os que tem…), orgulha-se da família de 11 pessoas que lidera, três de sangue e oito por afinidade.

Nesta entrevista ao Check-up, António Gonçalves é igual a si próprio. Sem meias palavras nem tabus. Até porque se há pessoa que diz o que pensa, é o fundador e diretor-geral da Gonçalteam. Sem nunca perder a ponderação do discurso nem a lucidez analítica que o caracterizam. A nossa conversa recuou a 2005, ano da criação da empresa, e terminou em 2021, com Portugal ainda a braços com a pandemia.

Se há coisa de que te orgulhas, é da data de criação da empresa…

Precisamente. A Gonçalteam surgiu em 2005. Tenho, de facto, orgulho na data em que criei a empresa. Até porque tal só aconteceu depois de, efetivamente, ter saído da anterior organização onde estava, na qual era empregado e não gerente.

Começámos com uma estrutura muito pequena. Não tínhamos grandes ambições, mas o objetivo, esse, estava muito bem definido: fazermos o nosso caminho e tentarmos ser melhores do que os melhores, sem prejudicar ninguém. A nossa ambição não era (como não é) “chutarmos” os outros para fora do mercado.

Sempre foi esta a postura da empresa. Seja com colaboradores, clientes, fornecedores ou até concorrentes. Achamos que toda a gente deve ter o seu rendimento, a sua mais-valia e a sua felicidade no mercado.

A Gonçalteam foi crescendo aos poucos. Primeiro, com consumíveis sem representação. Íamos comprar a um lado para vender do outro. Depois, tivemos algumas representações, que vieram ter connosco. Os clientes começaram a acreditar, cada vez mais, em nós. Passámos a ter pequenos equipamentos de maior importância.

Mais tarde, quando surgiram oportunidades de termos representações exclusivas, não as deixámos fugir. Sempre com honestidade, dedicação e trabalho. Fizemos sempre um percurso adaptado ao mercado.

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Na altura, pensámos em ter uma estrutura mais pesada para poder dar uma resposta mais musculada ao setor, mas não avançámos. Até porque as margens foram sendo “esmagadas”, situação que, aliás, tem vindo a intensificar-se nos últimos 10 anos.

Mudámos um pouco o azimute da empresa. Tivemos de alterar a forma como mantivemos a rentabilidade. Mas foi graças à nossa experiência e conhecimento que, nos últimos três anos, estivemos relativamente equilibrados, sem grande stress. Conseguimos ter sempre a nossa estrutura adequada ao mercado onde estamos.

Já tivemos oscilações de faturação, é verdade, mas como a nossa forma de estar não tem a ver com o valor final, conseguimos rentabilizar a nossa atividade. Temos uma estrutura leve e ágil. Defendemos que todos têm de estar bem no negócio.

De que valores não abdicas? Na vida e, em consequência, no negócio?

Dou muita importância à lealdade e à ética. Não preciso que alguém me dê algo para ser amigo dessa pessoa. Basta que ela seja correta, honesta e séria. E, isto, aplica-se na relação profissional ou pessoal.

Não procuro a ganância do negócio. Quero é que consigamos vender a nossa imagem para chegarmos a determinado sítio e ganharmos dinheiro. A nossa forma de trabalhar é totalmente transparente e pauta-se pela discrição.

Conseguimos trazer negócio para empresa sem ter de tirar à concorrência. Por vezes, sinto que estamos a ser incentivados a valorizar aquilo que não é importante. Acontece em todos os mercados, é verdade. Mas as pessoas excluem muito em vez de incluírem.

Quando a Gonçalteam tem uma oportunidade de negócio, não tem de tirar ninguém da frente. Tem é de ter acesso às mesmas condições e cumprir as regras do jogo, desde que, claro, os outros as cumpram. Depois, cá estaremos para fazer a diferença. A Gonçalteam nunca fez questão de ter exclusividade de marcas e produtos.

É esta a nossa filosofia. Trabalhar de forma correta, não querer o que não é nosso e andar sempre para a frente. Sediada na Seixal, a Gonçalteam dispõe, também, de um armazém no Porto, que foi adquirido para termos um espaço físico onde pudéssemos estar mais próximos dos clientes do norte.

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Espaço de exposição e de formação, existe quer no norte, quer no sul. Tenho orgulho em liderar uma família de 11 pessoas, três sangue e oito por afinidade.

Como é ter a família de sangue no negócio? É um conforto ou uma dor de cabeça?

Diria que as duas coisas. Todas as empresas de cariz familiar, como é o caso da Gonçalteam (são, aliás, quase todas neste tipo de negócio), têm a vantagem de poder ter a família a trabalhar para ajudar. Mas também temos a desvantagem da responsabilização profissional ser menos tolerante em relação aos nossos familiares.

Ou seja, se eu, porventura, me chatear com algum elemento da minha família que esteja a trabalhar na empresa, esse problema não vai acabar no final do dia, quando encerrarmos as instalações. Propaga-se até casa. Quer queiramos, quer não.

No entanto, conseguimos (eu, a minha esposa – Ana – e o meu filho – Fábio) gerir bem a relação pessoal e profissional. Mas nem sempre se consegue fazer a distinção entre uma coisa e outra. A fronteira é muito ténue. E, esse, é o grande problema dos negócios familiares. Mas o balanço é francamente positivo. Claro que, por vezes, existe algum facilitismo com eles, mas algo perfeitamente normal.

Estabelecemos um pacto entre nós, que determina que, em casa, só falamos de coisas superficiais relacionadas com trabalho até determinado ponto. Quanto o assunto é mais sério, marcamos reunião para o primeiro dia útil seguinte. Foi algo que instituímos: na empresa somos um pouco familiares; em casa somos 99% familiares e 1% empresa. É, também por isso, que nos damos bem.

Tive colaboradores que, quando saíram da empresa, me deixaram triste, porque eram boas pessoas. Alguns não tão bons profissionais, é verdade, mas boas pessoas acima de tudo. Temos de saber balizar as coisas. Costumo dizer, muitas vezes, nas ações de formação, que prefiro vender a um bom cliente que seja boa pessoa do que a cliente intratável, seja ele de que dimensão for. Se esse cliente for incorreto e nos tratar mal, não interessa aquilo que ele vale em termos de conta para a empresa.

A Gonçalteam é uma empresa que tem ambição. Não tem ganância. São coisas completamente diferentes. Costumo dizer que só preciso de ter €1 a mais em relação aquilo que consiga gastar. O dinheiro serve para gastar. Não serve para mais nada. E precisamos de gastar aquilo que, efetivamente, é necessário. Também tenho defeitos. São visíveis. Aliás, não os escondo. Mas a equipa que tenho compensa-os. Ou, melhor, minimiza-os.

A Gonçalteam não se resume apenas à representação das marcas HPA-FAIP e LAUNCH…

Sem dúvida. O nosso historial começou com consumíveis (ferramentas, pequenos equipamentos, acessórios) para oficinas de pneus. Há 10 anos, iniciámos a comercialização de equipamentos de marca branca, de origem asiática, adquiridos a um fornecedor português.

O que nos permitiu ficar ligados aos equipamentos. Depois, surgiu-nos a marca italiana HPA-FAIP. Nos primeiros dois anos, uma vez que as coisas não estavam organizadas, a comercialização era feita por nós e por outra empresa. Após esse período, a marca decidiu-se pela Gonçalteam, que passou a ser a sua representante exclusiva para Portugal.

Começámos a comercializar, como ainda hoje o fazemos, equipamentos específicos para serviços de pneus. Mas como este ramo começou a ficar demasiado competitivo e saturado, apercebi-me, há cerca de três anos, que tínhamos de ter um produto com um ciclo de vida de, no mínimo, mais 10 ou 15 anos, de modo a manter a sustentabilidade do negócio e a rentabilidade da empresa. É aqui que entra a LAUNCH.

A LAUNCH veio ter connosco através de amigos comuns. E como esta marca tem uma forma de trabalhar muito parecida com a nossa, o acordo foi rápido. Já havia outra empresa a vender a marca, mas não nos importámos, desde que, claro, as regras e condições fossem iguais. Se assim fosse, a Gonçalteam não tinha qualquer problema em competir e tentar vencer.

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Como a Gonçalteam atingiu os objetivos propostos, foi designada representante exclusiva da LAUNCH no nosso país, através da LAUNCH Ibérica. Tem sido uma nova fase para a empresa. Mas, depois, veio a pandemia, que limitou um pouco o negócio.

Em regime de exclusividade temos, também, a Dino Paoli nas pistolas de impacto, a Haweka no alinhamento (nos adaptadores não temos exclusividade), a Vessel e a nossa marca própria, GTeam, em consumíveis para pneus (remendos, colas, válvulas, pesos). Lançada há cinco anos, a marca GTeam representa cerca de 30% do nosso volume de negócios.

O mercado dos equipamentos de diagnóstico está inundado de marcas não oficiais e produtos desajustados…

Correto. Chegamos a ser solicitados para dar assistência a equipamentos fabricados pela LAUNCH para outros mercados. Portanto, o software está desajustado e não pode ser atualizado. O problema não está no hardware. É como comprarmos um armário vazio… Faz falta em Portugal uma associação, como existe em Espanha, que, primeiro, defenda o negócio e, depois, as marcas. E, isso, é o que está correto.

Se, no nosso país, apenas se vendessem equipamentos oficiais, a regra era que cada empresa que os vendesse defendesse o seu mercado. Não contra ninguém, mas a favor deles próprios. O problema é que estamos a competir uns com os outros com equipamentos que não são oficiais. O que é, a meu ver, um erro. Primeiro, temos de acabar com os equipamentos não oficiais e só depois competir entre nós com os oficiais. Isto parece-me perfeitamente claro.

Até vou mais longe: devia fazer-se como em Espanha. A partir do momento em que somos contactados para dar assistência a um equipamento não oficial, devia ser feita uma denúncia. Todos deviam ser obrigados a fazê-la. Porque isto, na realidade, prejudica o Estado, as empresas do setor, os clientes destas e o consumidor final (o utilizador do próprio veículo).

Quando a Gonçalteam vende um produto, não fornece apenas o equipamento. Também oferece dois anos de garantia, atualizações, formação e assistência. Se todas estas vertentes forem somadas e valorizadas, o nosso equipamento acaba por tornar-se bastante mais acessível do que aquele que tem sido adquirido pela Internet.

Portanto, comprar um equipamento de diagnóstico pela Internet, concebido para outro mercado, não é, de todo, uma boa prática. Nem sequer é recomendável. A LAUNCH dispõe de 15 engenheiros alocados ao call center na Península Ibérica, especializados em todas as marcas de veículos. Por um valor quase simbólico, é possível ter acesso a este serviço para saber mais sobre a marca.

A formação é outra área fundamental para a Gonçalteam. Onde consideras que a empresa que lideras faz a diferença?

Somos relativamente diferentes também nesta área. Damos formação a determinadas empresas num ramo de negócio. Ou seja, quando damos formação, não tentamos vender as nossas máquinas e os nossos produtos. E, isso, parecendo que não, é extremamente importante.

Mais: quando ministramos uma formação, não comparamos os nossos equipamentos com outros. Porque, na realidade, não é a máquina em si que faz a diferença, mas a forma como o operador trabalha com ela. É aqui que nos focamos. Explicando às pessoas, seja no diagnóstico, no equilíbrio ou no alinhamento de direção, como é que se pode tirar proveito do equipamento que se tem.

Check-up Media António Gonçalves sunglasses

Não é necessário que o operador tenha a nossa marca. Na formação, explicamos-lhe tudo e, regra geral, nos dias seguintes à ação, a pessoa contacta-nos para adquirir o equipamento. Não fazemos campanhas durante a ação para que os participantes comprem a nossa máquina nem dizemos que a nossa máquina é a melhor.

Formamos pessoas com os valores que regulam a Gonçalteam: ética, idoneidade, justiça, atenção ao cliente. O importante da formação é a ação, não a venda do equipamento. Temos equipamentos que fazem o mesmo serviço com patamares de preço bastante díspares.

Temos de perceber quem é o cliente e aquilo que, efetivamente, ele necessita para o seu negócio. Não vendemos “gato por lebre” nem inventamos artifícios estranhos para que o negócio aconteça de outra maneira. É esta a nossa forma de trabalhar. Desde sempre. Em todas as áreas onde operamos.

A pandemia fez com que passasses a valorizar algo que não valorizavas até então?

Boa pergunta. Creio que não. Na realidade, não mudei muito a minha maneira de ver as coisas. Mas, devo confessar, o que mais me surpreendeu foi acreditar que as pessoas, fruto deste problema sanitário, iriam mudar. Pensei, sinceramente, que tal iria acontecer. Sobretudo, depois de ter passado horas ao telefone com pessoas a falar sobre coisas giras da vida e sobre a necessidade de mudança.

Ouvi, vezes sem conta, que as pessoas teriam de mudar quando se sentissem soltas. Mas tudo não passou de uma ilusão. Na verdade, as pessoas mudaram apenas a forma como passaram a apresentar-se. Quando retiram a máscara, está tudo igual. Esqueceram o sentimento de quase dois anos de pandemia. Tudo o que andaram a apregoar e a promover através de meios digitais, não teve resultados práticos.

Mal as pessoas sentem que já não transportam um peso em cima dos ombros, voltam aos velhos hábitos. Tanta saudade e nostalgia durante as fases de confinamento… E, isso, está relacionado, também, com a falta de civismo. Há coisas que não se conseguem mudar. Criámos laços fruto do momento difícil que atravessámos e assim que passa a fase da emotividade, viramos costas uns aos outros.

Devíamos manter-nos unidos, respeitando os princípios de cada um, mas ajudando-nos. Devíamos associar-nos, respeitando sempre todos. Tirar proveito das nossas mais-valias para que todos pudéssemos ficar a ganhar. Multiplicando o que cada um tem para que pudéssemos todos ter mais. Mas, isso, se calhar, sou eu, que sou um romântico…

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