“Alegoria oficinal”

Platão não conhecia oficinas nem tinha de lidar com diagnósticos eletrónicos ou componentes de automóveis complexos, mas, se fosse mecânico, nos dias de hoje, poderia muito bem ter escrito o “Mito da Oficina-Caverna”.

Lá dentro, o tempo parou. Ferramentas gastas, velhos manuais e a crença inabalável de que “sempre se fez assim”. O mundo avança, os carros mudam, mas há quem continue a olhar para a parede, onde as sombras dos carburadores de outrora ainda parecem reais.

O problema é que, tal como no mito original, o progresso não perdoa quem recusa a luz do conhecimento. Cá fora, os veículos elétricos não têm correias de distribuição e os motores de combustão, que ainda “resistem”, são, agora, dominados por eletrónica avançada. E não falemos dos veículos elétricos e da revolução que encerram em si mesmos.

Quem sai da “oficina-caverna” e investe na formação, descobre um novo mundo cheio de desafios, mas, também, pleno de oportunidades. Quem se recusa a sair, bom… corre o risco de ser um profissional do Paleolítico num mundo de Inteligência Artificial.

Há algo de trágico nesta resistência ao saber. Imagine-se um pré-histórico vestido de fato-de-macaco a olhar para um veículo elétrico como se fosse um meteorito prestes a extinguir a sua espécie.

“A formação não é uma opção para os fracos, mas uma obrigação e um superpoder para os inteligentes. E se há algo pior do que ficar para trás, é não perceber que o ‘comboio’ já passou”

“Isto não tem motor! Isto não faz barulho! Isto não pode ser um carro!” – vocifera ele, enquanto tenta encontrar a vareta do óleo que já não existe. E a verdade é que o meteoro já caiu. A eletrificação, a digitalização e a crescente complexidade dos automóveis não são ameaças futuras – são o presente.

Claro que a experiência conta. O problema é achar que esta é uma vacina contra a obsolescência. Não é. Hoje, um mecânico (ou um profissional do aftermarket) sem formação é como um filósofo que se recusa a ler – cedo ou tarde, o mercado deixá-lo-á para trás.

A formação não é uma opção para os fracos, mas uma obrigação e um superpoder para os inteligentes. E se há algo pior do que ficar para trás, é não perceber que o “comboio” já passou.

Mas existe uma saída da caverna. Está nas formações técnicas, nos workshops, nas certificações e na atualização constante – e a palavra constante não é um pormenor. É um caminho de aprendizagem que separa os profissionais preparados dos sobreviventes do passado.

A escolha é simples: evoluir ou tornar-se numa relíquia num mundo que já seguiu em frente. O mito da “oficina-caverna” pode ter um final feliz. Mas só para quem decide abrir os olhos.

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