“Instituições europeias estão cada vez mais despertas para o aftermarket independente”, diz Joaquim Candeias

Presidente da DPAI destaca o papel da FIGIEFA e da ACAP na defesa do aftermarket independente e sublinha a crescente atenção europeia ao setor automóvel.
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Check-up Media Joaqiuim Candeias

Com otimismo fundamentado e foco na cooperação europeia, Joaquim Candeias, presidente da DPAI (Divisão do Pós-venda Automóvel Independente) da ACAP, partilha a sua visão sobre o presente e o futuro do aftermarket automóvel independente.

A entrevista decorre no seguimento da prorrogação do MVBER (Regulamento de Isenção por Categoria para o Setor Automóvel) até 2028 — decisão que considera uma vitória não apenas para o setor, mas, sobretudo, para o consumidor final.

Ao longo da entrevista dada ao Check-up, o responsável salienta a importância de garantir o acesso equitativo aos dados dos veículos e a necessidade de legislação atualizada que acompanhe a evolução tecnológica do setor.

Refere ainda a forma como a digitalização, a cibersegurança e o direito à reparação têm conquistado centralidade nos debates europeus, sublinhando o papel ativo da FIGIEFA na representação dos interesses das PME e dos grandes grupos internacionais de compras (ITG).

Com o Parlamento Europeu cada vez mais atento às especificidades do aftermarket, Joaquim Candeias acredita que estão a ser criadas condições para um setor mais justo, competitivo e orientado para o consumidor.

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Destaca, também, a colaboração com entidades como a AFCAR e a importância de um envolvimento coordenado entre associações nacionais e europeias.

Para si, importante é ainda reforçar o valor da união entre empresas e associações, lembrando que a defesa de um mercado livre e informado depende da mobilização de todos.

Para o presidente da DPAI, o aftermarket independente continua a demonstrar a sua capacidade de adaptação, sustentabilidade e inovação — valores que, acredita, serão decisivos para o futuro do setor.

Quais são, na sua perspetiva, os principais desafios que o aftermarket automóvel enfrentará até 2028, no contexto da prorrogação do MVBER?

O desafio é demonstrar que o acesso ao veículo desde o quilómetro zero deve ser uma opção de escolha do proprietário. O proprietário não deve estar obrigado a fidelizações de garantias ou de outros produtos que minimizam a escolha do consumidor final.

Como avalia o papel dos grupos internacionais de compras dentro da FIGIEFA e de que forma esta representatividade alterou a dinâmica interna da associação?

Os grupos internacionais de compras (ITG) são players extremamente importantes dentro do aftermarket independente, uma vez que representam a maioria de todos os players.

“O aftermarket é uma área extremamente flexível e tem demonstrado que estará desperto e disponível para a sustentabilidade e para a evolução própria destas necessidades”

A vinda dos ITG para a FIGIEFA trouxe mais representatividade à própria FIGIEFA e, também, apoio financeiro que contribui para a continuidade da associação.

Considera que a atual versão do MVBER responde de forma eficaz às novas exigências tecnológicas do setor, nomeadamente no acesso aos dados dos veículos?

Os veículos atuais são tecnologicamente bastante evoluídos. Por esse motivo, qualquer legislação que seja criada tem de ser revista com bastante periodicidade. É possível que, neste momento, o MVBER, não consiga cobrir toda a evolução destes últimos anos.

A digitalização e a cibersegurança são temas centrais no debate europeu. O que está em causa para os operadores independentes se não houver um acesso justo e equitativo aos dados?

Isso não vai acontecer. O Parlamento Europeu está perfeitamente elucidado de que todos devem ter os mesmos valores e que toda a legislação é sempre em prol do consumidor final. A opção de escolha faz parte dos benefícios do consumidor final.

Qual tem sido a resposta das instituições europeias às propostas e preocupações apresentadas pela FIGIEFA? Sente que há sensibilidade política para as especificidades do setor?

As instituições europeias estão cada vez mais despertas para o aftermarket independente e, isso, é importante para criar condições e soluções iguais para todos os operadores.

A FIGIEFA tem defendido um maior envolvimento do Parlamento Europeu na avaliação do MVBER. Que vantagens resultariam de uma participação mais ativa das organizações?

A participação é q.b. O dossier tem sido defendido adequadamente. O que falta é divulgação e promoção eficaz nos mercados para que a informação possa chegar a quem dela possa beneficiar, neste caso, o consumidor final. Se existir uma participação mais ativa das organizações, existe concorrência e evita-se a criação de um monopólio.

Em que medida o prolongamento do MVBER até 2028 representa uma vitória para o setor e o que pode ser feito nos próximos anos para assegurar a sua renovação futura?

A vitória não é para o setor, mas sim para o consumidor final. O que pode ser feito é haver uma divulgação massiva, a todos os níveis, para que o conhecimento de quem utiliza um automóvel seja, de facto, efetivo e permita saber o que pode ser feito mediante a lei em vigor.

A integração vertical dos construtores de automóveis em áreas tradicionalmente ocupadas pelos independentes tem sido motivo de alerta. Que riscos concretos esta tendência representa?

Creio que nenhuns. Traz vantagens ao setor porque vai obrigar à sua evolução e profissionalização, fazendo a diferença e garantindo a continuidade do negócio.

A FIGIEFA sublinha o papel das PME como espinha dorsal do aftermarket. Que medidas específicas têm sido defendidas para proteger estas empresas?

A FIGIEFA tem imensos dossiers na defesa do consumidor final que pode utilizar no aftermarket independente, que é, maioritariamente, constituído por PME. Portanto, ao defender o setor, defende de imediato as Pequenas e Médias Empresas, que são a grande maioria do setor.

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Como vê a evolução do conceito de “direito à reparação” na Europa e que barreiras ainda persistem à sua plena implementação?

Vejo com “bons olhos” esse conceito. As barreiras são a desinformação, que cria condições para outros agentes limitarem a implementação adequada desta diretiva.

A cooperação com entidades como a AFCAR tem sido uma aposta estratégica. Que resultados concretos têm sido alcançados através destas coligações?

É difícil de mencionar concretamente os resultados, mas eles são, de facto, evidentes, porque tornam todos os lobbies bastante mais envolventes, porque tem mais entidades a “gravitar” e a força é muitíssimo maior.

A codificação de peças e a proteção por direitos de design industrial são temas sensíveis. Como garantir um equilíbrio entre inovação e liberdade de reparação?

O design industrial já está implementado em praticamente toda a Europa, incluindo Portugal. Garante um equilíbrio entre o próprio fabricante e os direitos do autor para reposições e reparações posteriores.

Qual a sua visão sobre a sustentabilidade no aftermarket? Considera que a reutilização e a reparação têm sido devidamente integradas nas políticas europeias?

O aftermarket é uma área extremamente flexível e tem demonstrado, ao longo dos anos, que estará desperto e disponível para a sustentabilidade e para a evolução própria destas necessidades.

“Gostava que houvesse mais participação. Considero-me um pioneiro. Tenho tentado incentivar, cada vez mais, o envolvimento de empresas dentro da associação, neste caso a ACAP, mas as outras também são importantes”

Relativamente à reutilização e reparação das peças, as mesmas devem ser legisladas adequadamente, assegurando que os fabricantes iniciais não são postos em causa e garantindo que o produto se mantém sempre com a marca original de fabrico.

Que papel espera que a DPAI/ACAP e outras associações nacionais desempenhem na articulação com a FIGIEFA e na defesa ativa do setor em Bruxelas?

Apenas a DPAI/ACAP é afiliada da FIGIEFA em Portugal. Não quer dizer que não exista disponibilidade das outras entidades de defender os mesmos dossiers e os mesmos lobbies do qual a ACAP está envolvida. Por isso, é bem-vindo ter um setor minimamente unido.

Por fim, que mensagem gostaria de deixar às empresas do aftermarket português sobre a importância do envolvimento ativo nas questões regulatórias europeias?

Gostava que houvesse mais participação. Considero-me um pioneiro. Tenho tentado incentivar, cada vez mais, a participação de empresas dentro da associação, neste caso a ACAP, mas as outras também são extremamente importantes.

Peço é que, de facto, não fiquem sozinhos, porque em grupo conseguem, garantidamente, resolver os problemas de todos e tornar o setor cada vez mais apetecível para toda a gente.

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