Na sequência do grande evento “Aftermarket Chat” – cujos artigos já publicados poderá ler aqui e aqui –, Philippe Colpron, diretor da ZF Aftermarket, concedeu uma entrevista ao Check-up, onde revelou todos os pormenores da estratégia da empresa na fulcral área da sustentabilidade.
Desde a importância da “união” entre parceiros ao retorno esperado para o investimento tecnológico ambiental, passando pelos detalhes da visão “Zero Emissões, Zero Acidentes e Zero Tempos de Inatividade”, nada o responsável deixou por dizer. Nem mesmo quando lhe pedimos que explicasse como convenceria um “jovem talento” a abraçar o setor.
“Juntos. Temos de trabalhar juntos”. Esta foi uma das mensagens mais vezes repetidas por todos os oradores do Aftermarket Chat A aposta na sustentabilidade tem sido compreendida por todos os parceiros da ZF? É uma mensagem fácil de passar?
Sim, tem razão. Estamos a dar muito destaque à “união”. Isso porque acredito que é uma característica central do que nos trouxe até aqui, como indústria. Por um lado, a colaboração que temos com os nossos parceiros. Por outro, também porque acreditamos que é um dos fatores de sucesso essenciais para a transformação do aftermarket de amanhã.
O que costumava ser uma cadeia de valor mais linear está, agora, a tornar-se muito mais circular, com muitos pontos de interação e com as mudanças das novas tecnologias, onde precisamos de trazer novos tipos de parceiros para este ecossistema de parcerias para torná-lo bem-sucedido.
E, isso, seria fundamental tanto para a sustentabilidade como para os outros fatores de sucesso. Como em qualquer novo tópico, pessoas diferentes têm diferentes níveis de maturidade das curvas e diferentes países também vivem em contextos distintos aos quais têm de se adaptar.
É, por isso, que acreditamos em ser locais para locais e, ao mesmo tempo, globalmente conectados para garantir que possamos entender e adaptar-nos às realidades locais. Queremos ter certeza de que podemos ajudar todos a melhorar, partilhando as nossas melhores práticas globais.
Por exemplo, estamos em contacto próximo com os nossos clientes para melhorar processos como a devolução dos cores, que são essenciais para as operações de reconstrução de peças.
O que significa, então, “união”, para si, no contexto da sustentabilidade no mercado de pós-venda?
Quando pensamos em sustentabilidade, fazemo-lo com um foco estrito no cliente. Desde nós, enquanto fornecedores de soluções, aos nossos clientes na rede de distribuidores, passando pelos instaladores e frotas, até aos utilizadores de mobilidade, fazemos parte de uma cadeia de valor complexa. Isto significa que temos de estar globalmente ligados e localmente enraizados nos nossos parceiros.
Ao mesmo tempo, também precisamos de formar novos tipos de parcerias, uma vez que é necessária uma inovação considerável para garantir o sucesso de todos à medida que entramos na nova era da mobilidade de próxima geração e CASES (Connected, Autonomous, Shared, Electrified, Sustainable).
O mercado de pós-venda necessita de novos modelos de negócio, melhores conceitos de serviço e uma compreensão mais profunda das expectativas dos clientes.
Só em conjunto com os parceiros poderemos atingir os nossos objetivos de Zero Emissões, Zero Acidentes e Zero Tempo de Inatividade por cada quilómetro percorrido, criando, simultaneamente, oportunidades de crescimento sustentável para o mercado de pós-venda.
Tal como noutras indústrias, a sustentabilidade é um tema “quente”. O que significa isso para o mercado de pós-venda?
Quando falamos de sustentabilidade, o primeiro tema que nos vem à cabeça é o ambiente – por boas razões. No entanto, para nós, o significado de sustentabilidade vai muito para além da simples proteção do clima. Além das questões ambientais do clima e da natureza, o foco também se encontra nas dimensões das pessoas e dos valores duradouros.
Naturalmente, estando no setor da mobilidade, a melhoria do impacto ambiental está enraizada no nosso ADN. Através da evolução tecnológica do grupo motopropulsor, do motor de combustão interna para híbridos e sistemas elétricos, com uma percentagem crescente de tecnologias baseadas em software, o nosso papel é acompanhar os nossos clientes em tempos de transformação.
Mais: é nossa responsabilidade, enquanto empresa fabricante, rever e adaptar os processos de produção que temos: desde o consumo de energia à gestão de resíduos das nossas fábricas, passando pela economia circular através de processos de reconstrução, por exemplo, temos de repensar, constantemente, a forma como operamos.
Reconhecer a complexidade deste tópico significa perceber que temos de trabalhar em conjunto com os nossos parceiros para atingir os objetivos ambiciosos que traçámos para a nossa indústria.
O investimento em práticas sustentáveis é o caminho certo – talvez o único possível. Mas quando pensa que esse investimento poderá ter retorno financeiro?
Acredito que haverá um retorno, claro, a longo prazo. Creio que o objetivo da sustentabilidade é que vamos ter um sistema mais eficiente para o uso de recursos, há menos desperdício, há menos uso de energia. Tudo isso, em última análise, será benéfico – em termos de mobilidade acessível e um mercado de pós-venda acessível.
Então, sim, haverá retorno sobre o investimento. No entanto, é verdade que, a curto prazo, temos de ver se alguns destes investimentos de transformação que estamos a fazer para sermos pioneiros na introdução dos primeiros produtos energéticos verdes no mercado poderão acarretar custos adicionais.
Acreditamos e esperamos que o esforço coletivo aceite isso e avance, porque são investimentos de curto prazo que precisamos de fazer para garantir que tenhamos um planeta sustentável a médio prazo.
Como abordam a vossa visão para Zero Emissões, Zero Acidentes, Zero Tempos de Inatividade?
Além das novas tecnologias, como os automóveis conectados, um dos principais impulsionadores do mercado de pós-venda é a digitalização. As soluções digitais não só permitem a transparência nas nossas complexas cadeias de abastecimento, como, também, maximizam o tempo de atividade e minimizam o consumo de energia.
Permitem a tomada de decisões precisas e baseadas em dados, a simplificação da complexidade crescente e a introdução de novos modelos de negócio – tudo para uma mobilidade mais ecológica, mais simples e mais segura para todos, um fator-chave da nossa visão Zero.
Com as nossas soluções digitais para frotas como exemplo, ajudamos os nossos clientes de frotas a operar de forma mais eficiente, tirando partido do acesso remoto aos dados dos veículos a partir de várias fontes, como transmissões ou pneus, e da análise preditiva – o que nos permite aspirar a um Tempo de Inatividade Zero.
Os dados analisados digitalmente significam uma redução não só dos custos (tempo de condução, combustível e manutenção, por exemplo), mas têm, também, um impacto direto na pegada ecológica de uma frota.
Tendo em conta esta enorme transformação do fabrico tradicional para soluções baseadas em dados, como é que assegura a sustentabilidade do negócio do mercado de pós-venda?
As novas tecnologias estão a perturbar o setor do pós-venda, que durante décadas se caracterizou pela venda de peças. Impulsionado pelas tecnologias CASES e pela digitalização, este setor oferece muitas novas oportunidades e requer profissionais em áreas completamente novas.
Em paralelo com esta transformação tecnológica, estão, também, a ocorrer mudanças geracionais. Esta nova geração pensa primeiro no digital – talentos com conhecimentos tecnológicos e consciência ecológica são uma força motriz para a mudança sustentável.
Estes talentos não estão, muitas vezes, familiarizados com o mercado de pós-venda e com o seu vasto campo de atividades e, por conseguinte, não o consideram uma área de progressão na carreira ou mesmo uma indústria onde possam realmente contribuir para a mobilidade do futuro.
O setor do pós-venda tem de trabalhar em conjunto para provocar esta mudança. Para estarmos melhor preparados para o futuro, precisamos de uma mudança para uma mentalidade digital para atrair os talentos certos para a sustentabilidade do negócio do mercado de pós-venda.
A sustentabilidade é crucial para o nosso sucesso atual e ainda mais para o futuro. Se formos bem-sucedidos, estaremos a criar um mercado ainda mais forte, um planeta mais verde e uma sociedade melhor.
Se tivesse de “convencer” um jovem talento a entrar neste setor, quais seriam as suas palavras?
Quando olhamos para o que pode impulsionar um jovem talento, podemos falar de sustentabilidade, podemos falar de digitalização, podemos falar de grandes desafios, podemos falar de mudar o mundo – através do uso das mais recentes tecnologias. Acredito que o aftermarket automóvel preenche muitos desses aspetos.
Quando olhamos para a transformação que precisamos para uma mobilidade sustentável no sentido da autonomia, a mobilidade e o ecossistema de intervenientes que precisam de viabilizá-la, é algo que tem enorme impacto social.
E sabendo que a indústria é dos principais impulsionadores para melhorar as emissões de carbono, temos um impacto num dos principais impulsionadores da geração mais jovem, que está a tornar o planeta num lugar melhor.
Por outro lado, o desafio é grande e o desafio é divertido. Vem de uma indústria que é globalmente diversificada e é um negócio que já está digitalizado, mas onde pontos de dados e análise avançada e gestão da “nuvem” é algo que vai continuar a crescer.
E convenhamos: veículos, automóveis ou camiões, ainda tocam as emoções de muitas pessoas em todo o mundo. Então, se estou a trabalhar para produtos, para veículos e para tecnologias que despertam alguma paixão…
Se adicionamos a isso competências que estão muito próximas dos talentos da próxima geração que eu já mencionei – digitalização, globalização -, mas, também, se fundem com o impacto social que se pode ter, acredito que é uma grande oportunidade que precisa de ser descoberta.