A Soc. Com. C. Santos promoveu, no dia 18, uma conversa digital sobre eletrificação de veículos comerciais ligeiros. Infraestruturas de carregamento (privadas e da rede pública) e formação dos condutores são essenciais no processo, segundo frisaram os participantes.
Com transmissão em direto nas redes sociais do concessionário Mercedes-Benz e smart, a nova SocTalks contou com responsáveis de organismos e empresas com necessidades quotidianas de viaturas comerciais ligeiras.
Subordinada ao tema “Desafios da eletrificação no transporte urbano de passageiros e mercadorias”, a conversa (que pode ser vista e ouvida aqui) contou com a participação de Adelina Rodrigues (chefe da Divisão de Energia e Mobilidade da Câmara Municipal da Maia), Pedro Correia (responsável de formação operacional da DPD Portugal), Tânia Monteiro (diretora de operações da Living Tours) e Aquiles Pinto (relações públicas da Soc. Com. C. Santos).
O debate foi moderado por Carlos Moura, jornalista da revista Turbo Comerciais e representante português no júri dos prémios “International Van of the Year” e “International Pick-Up”.
Liderar caminho
A Câmara Municipal da Maia tem como meta a descarbonização do território e, portanto, a frota de viaturas é uma das suas prioridades. “No ano que passou, convertemos 60% da nossa frota para elétrica”, começou por explicar Adelina Rodrigues.
“Conseguimos poupanças grandes face à frota anterior e as autonomias são suficientes para o tipo de atividade que desenvolvemos, até porque acontece, sobretudo, dentro do concelho da Maia. Esta opção tem resultados muito positivos”, revelou.
A empresa de entrega de encomendas DPD tem em curso a integração de 55 unidades eSprinter (com decoração diferente das viaturas de combustão que fazem serviço) na frota em operação em Portugal.
O processo arrancou em 2022 e a empresa já efetua entregas 100% elétricas em Lisboa (códigos postais entre 1000 e 1900) e tem eletrificação parcial em 12 cidades do país. Está, além disso, em curso o alargamento a outros centros urbanos portugueses.
“Já conseguimos resultados muito interessantes, mesmo com algumas limitações que existiram em termos de prazos de entrega das viaturas e das obras que tivemos de fazer em termos de infraestruturas”, afirmou Pedro Correia.
“Para nós, foi fundamental liderar esse caminho e começamos a ter esse retorno, quer dos clientes, quer dos destinatários. É gratificante ver que a eletrificação e as baixas emissões no last mile paga dividendos. Isso, para nós, é indicador de que este é um trabalho com pertinência”, reforçou.
O operador turístico Living Tours tem como objetivo avançar com a eletrificação da frota. Já o fez na atividade de tuk-tuks e prepara-se para integrar duas viaturas elétricas de nove lugares para os tranfers entre aeroporto e hotéis.
“Não renovámos toda a nossa frota para os serviços mais longos porque ainda existem algumas limitações em termos de carregamento, mas temos consciência de que a poluição nos centros das cidades é um problema e temos de dar o nosso contributo rumo à sustentabilidade”, partilhou Tânia Monteiro.
A quota de elétricos na Mercedes-Benz em Portugal no ano de 2021 foi de 20% nos automóveis e inferior a 10% nos veículos comerciais ligeiros, uma tendência que a Soc. Com. C. Santos acompanhou.
“Os centros das cidades vão ter cada vez mais população e cada vez mais a qualidade do ar será importante. Do lado das marcas – nós somos um concessionário – cumpre ter oferta para dar a melhor resposta possível às necessidades do mercado. Isso está a resultar na eletrificação da gama disponível”, referiu Aquiles Pinto.
A mesma fonte considera que há margem para a procura de veículos comerciais ligeiros elétricos acelerar, até porque “a disponibilização da oferta destes foi um pouco mais lenta do que a de passageiros” e os “incentivos fiscais à utilização” existem menos neste segmento.
Questão de autonomia
A autonomia das viaturas não é um problema nestes operadores. Para isso, foi importante, porém, criar infraestruturas de carregamento e prestar a devida informação aos utilizadores.
“Temos locais específicos para carregamento e não há registo de viaturas sem bateria, até porque os próprios utilizadores têm o cuidado de carregarem os veículos sempre que a carga está abaixo dos 50%”, explica a chefe da Divisão de Energia e Mobilidade da Câmara Municipal da Maia.
“Em seis meses, conseguimos colocar a nova frota em funcionamento e nunca nenhuma viatura ficou sem carga. E são 90 viaturas”. Sobre os utilizadores, Adelina Rodrigues indica que “no início, houve alguma resistência”. Mas, hoje, a autarquia “não tem qualquer problema”, acrescenta
Também o responsável de formação operacional da DPD Portugal fala em dois desafios: infraestrutura e ceticismo de alguns utilizadores. Sobre a infraestrutura, a empresa equipou as instalações com carregadores (embora sublinhasse que, em termos gerais da eletrificação automóvel, “há um desafio na infraestrutura, seja a nível empresarial, seja a nível dos particulares”).
Sobre os utilizadores, Pedro Correia salientou a importância da formação. “Não podemos migrar um condutor de uma viatura com motor térmico para uma viatura elétrica sem lhe dar a devida formação. Isto porque grande parte da rentabilização desta tecnologia está no facto de a maioria destas viaturas ter regeneração, o que permite que carreguem em operação”, explicou.
“É preciso ensinar a conduzir viaturas elétricas e temos resultados interessantes, de viaturas que chegam com autonomias superiores a 40% ao final do dia de trabalho, porque o condutor percebe a missão”, enfatizou.
Carregamento público
Quando a utilização de viaturas elétricas obriga ao carregamento em postos públicos, a visão pode ser outra. Uma parte importante da atividade da Living Tours são os programas de visitas com uma distância e tempo um pouco maiores do que os transfers.
Isso é um obstáculo aos objetivos de eletrificação da frota da empresa, segundo Tânia Monteiro. “O nosso destino mais procurado é o Douro e, aqui, movemo-nos em meios mais rurais, onde não há possibilidade de carregamento de veículos”, disse.
“Felizmente, já há muitas quintas no Douro que têm wallboxes de carregamento, mas estamos a falar de uma ou duas em cada quinta, o que não dá garantias de que consigamos carregar a viatura nos cerca de 30 minutos em que o nosso grupo está no espaço. Também em circuitos como Santiago de Compostela, Fátima ou Coimbra, não é fácil conseguir ter hipótese de carregamento”, refere a diretora de operações da Living Tours.
Redução de custos energéticos
Apesar do preço das viaturas elétricas ainda ser superior ao dos modelos de combustão equivalentes, todos os operadores indicam que há potencial de corte de custos energéticos.
“Com a totalidade da frota antiga, tínhamos um custo anual de €300.000 em combustíveis rodoviários. Com a transformação, reduzimos o consumo de gasóleo em cerca de 50% e o de gasolina em mais de 60%”, deu conta a chefe da Divisão de Energia e Mobilidade da Câmara Municipal da Maia.
“Além disso, a maioria das nossas viaturas é carregada em média tensão. Ou seja, em termos de custos conseguimos uma elevada poupança com a eletrificação da frota”, assegurou.
A DPD Portugal também acredita na redução de custos, muito mais se a fonte energética for própria. “Faz sentido o aproveitamento de energias renováveis nas nossas instalações, onde estamos a colocar painéis solares e outras tecnologias semelhantes”, afirma o responsável de formação operacional do grupo de entrega de encomendas no nosso país.
“Será um ponto muito interessante das novas instalações que estamos a construir em Loures, que serão a nossa nova sede em Portugal e onde funcionará o depot de Lisboa. Se conseguirmos gerar a nossa própria energia, maximizamos a poupança”, alertou.
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