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“Mobilidade vs parque: oportunidades”

Todos os dias somos confrontados com notícias que dão conta que o futuro da mobilidade será diferente e que a componente elétrica será dominante.

De acordo com as notícias que nos chegam todos os dias, em que nos dizem que, por exemplo, a venda de carros elétricos disparou, que nunca se venderam tantas unidades deste tipo de viaturas, parece que só existem viaturas desse tipo nas nossas estradas e que quem não souber trabalhar com esse tipo de viaturas terá o seu negócio condenado.

Esta estratégia comunicacional teve um importante desenvolvimento quando, no passado mês de junho, o Parlamento Europeu votou para estabelecer o ano de 2035 como o prazo limite para que todos os veículos ligeiros de passageiros e de mercadorias novos a ser vendidos tenham de ter emissões zero.

Esta votação em plenário no Parlamento Europeu contou com o apoio de cerca de 55% dos parlamentares presentes, suportando, assim, a proposta da Comissão Europeia, de proibir a venda de carros novos com motores de combustão interna a partir de 2035.

Logicamente que todas estas notícias, para os operadores atuais, provocam muitas incertezas e levantam muitas dúvidas relativamente ao futuro do seu negócio. E, neste campo, gostaria de passar uma mensagem de alguma tranquilidade.

Em primeiro lugar, é verdade que a venda de carros elétricos está a disparar, mas, segundo dados da GiPA, a sua penetração no parque ainda é relativamente residual. Dos 146.637 veículos ligeiros de passageiros matriculados em Portugal no ano de 2021, 13.260 foram elétricos e 34.742 híbridos. Por outro lado, em 2021, foram matriculadas 63.012 viaturas a gasolina e 32.068 Diesel.

É verdade que a matriculação de viaturas elétricas aumentou 69% relativamente a 2020, mas ainda representa 41% do número de viaturas Diesel matriculadas. Realmente, a matriculação de viaturas Diesel tem vindo a descer. Desde 2001 que não era tão baixa. Nesse ano, a matriculação de viaturas Diesel representou 30% do total, valor agora ultrapassado. A tendência está aí, é verdade, mas teremos de a relativizar, porque não nos podemos esquecer que estamos a falar de matriculação.

Porque, para as oficinas e vendedores de peças, o seu negócio é efetuado no parque circulante. E, nesse campo, os números são algo diferentes. Quando falamos de parque, em primeiro lugar é relevante referir, que o parque está a envelhecer. Em 2021, a idade média do parque circulante era de 11,7 anos e a previsão para 2022 é que cresça para os 12,1 anos.

De acordo com as notícias que nos chegam todos os dias, em que nos dizem que, por exemplo, a venda de carros elétricos disparou, que nunca se venderam tantas unidades destas, parece que só existem modelos desse tipo nas nossas estradas e que quem não souber trabalhar com eles terá o seu negócio condenado

Paulo Pinto, Responsável Comercial Portugal da Schaeffler Automotive Aftermarket

Importante também referir que, em 2021, 38% do parque circulante era gasolina, 60% Diesel e os restantes 2,6% considerados alternativos (inclui viaturas elétricas e híbridas). A previsão para 2022 é que esta percentagem possa subir para 3,8%.

A percentagem de viaturas elétricas no parque circulante é, atualmente, de cerca de 0,9%, sendo que, em janeiro de 2031, poderá atingir os 10,2%, de acordo com dados da GiPA. Do mesmo modo, atualmente existem cerca de 2,5% de viaturas híbridas a circular, valor que poderá atingir os 15,9% em janeiro de 2031.

Acima de tudo, são previsões, porque, realmente, ninguém tem certezas do que aí virá. Mas o que estes números, antes de mais, demonstram, é que o impacto real no nosso quotidiano, ainda não é relevante para todos os operadores de mercado.

É verdade que algo está a mudar. E é verdade que é necessário mudar. Agora, qual será a verdadeira fórmula de mudança, ainda ninguém tem a certeza, sendo que quem acompanha estes dados tem vindo a constatar que as mudanças são, muitas vezes, voláteis e condicionadas a contextos externos.

Por exemplo, ainda agora estamos perante uma possível crise energética, sendo que a Europa, fruto da sua dependência de terceiros, está relativamente fragilizada nesse aspeto. Colocar o futuro da mobilidade europeia assente na componente elétrica poderá não ser fácil. Senão, vejamos.

A União Europeia quer reduzir as emissões de Gases com Efeito de Estufa em 55% até 2030 em comparação com os níveis de 1990, reduzir as emissões de veículos novos para zero até 2035 e aumentar o peso das energias renováveis ​​no mix energético do bloco para 40%.

Para alcançar estas metas, o lítio é um metal extremamente importante, sendo, cada vez mais, usado para baterias em aparelhos eletrónicos, desde smartphones a televisões, bem como para armazenar energia produzida por painéis solares, turbinas eólicas e em veículos elétricos.

Todos temos de ter calma, estar conscientes de que o mundo está a mudar, mas ter a verdadeira noção do que temos realmente no nosso mercado. E no que diz respeito a Portugal, o nosso parque circulante é, maioritariamente, composto por viaturas que dispõem de motor de combustão, com novas tecnologias é verdade, mas que, na essência, continuam a ser viaturas com as quais estamos habituados a lidar

Paulo Pinto, Responsável Comercial Portugal da Schaeffler Automotive Aftermarket

Ora, de acordo com o Banco Mundial, a produção de minerais, como grafite, lítio e cobalto, precisaria de aumentar quase 500% até 2050 para cumprir as metas climáticas, enquanto representantes europeus estimam que, para alcançar a neutralidade climática até meados do século, o bloco exigirá 18 vezes mais lítio do que usa atualmente até 2030. E quase 60 vezes mais até 2050.

No entanto, a Europa tem apenas uma mina de lítio, em Portugal, e a grande maioria das suas necessidades é, atualmente, coberta através de importações. A China é um player particularmente grande neste campo.

Embora tenha cerca de 7% das reservas mundiais de lítio, foi na China que se extraiu 13% do lítio em 2019 e mais da metade do lítio extraído naquele ano foi processado nesse país, sendo que mais de 70% das baterias de iões de lítio que entraram no mercado no ano passado foram produzidas na China.

Não me quero alongar neste prisma, mas podemos verificar que toda a estratégia a nível da mobilidade está assente numa dependência de terceiros. E como estamos a ver e a viver, está sempre dependente de muitas condicionantes e de tomadas de decisões políticas que podem alterar as metas e estratégias definidas e apresentadas com pompa e circunstância.

Todos temos de ter calma, estar conscientes de que o mundo está a mudar, mas ter a verdadeira noção do que temos realmente no nosso mercado. E no que diz respeito a Portugal, o nosso parque circulante é maioritariamente composto por viaturas que dispõem de motor de combustão, com novas tecnologias é verdade, mas que, na essência, continuam a ser viaturas com as quais estamos habituados a lidar.

Mas também devemos olhar para as viaturas chamadas alternativas, que incluem as 100% elétricas e híbridas, como uma oportunidade, visto que muitas delas continuam a gastar componentes que são semelhantes aos que estamos habituados a lidar.

Como referi, quando olhamos para uma denominada viatura alternativa, devemos encarar a situação como uma oportunidade de negócio, visto que vários fabricantes, como é o caso da Schaeffler, já disponibilizam vários componentes que equipam esse tipo de viaturas no negócio do aftermarket.

Temos de estar preparados e conscientes de que o mundo está a mudar. No nosso ramo virão mudanças, não nos assustarmos com algumas notícias com que somos bombardeados, mas estarmos alertas e preparados, elegendo os melhores parceiros que nos possibilitem uma maior tranquilidade e segurança para o futuro.

Não temos de ter receio no futuro, mas temos, acima de tudo, de ter serenidade e consciência de que realmente o mundo está a mudar.

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