Com o aumento gradual dos veículos elétricos nas estradas europeias – e nacionais -, surgem, também, novas preocupações e muitos mitos urbanos em torno da segurança, sobretudo, quanto ao risco de incêndio.
Enquanto algumas pessoas acreditam que os veículos elétricos possam ser mais propensos a pegar fogo devido às suas baterias de iões de lítio, estudos demonstram que, na realidade, a frequência de incêndios em veículos elétricos é, em média, menor do que em veículos de combustão.
Claro está que parte desta diferença poderá ser explicada por um fator simples: o número de veículos elétricos em circulação ainda é muito inferior ao de veículos equipados com motor de combustão. Mas será esta a única razão?
Ardem mesmo menos?
Aparentemente, sim. Estudos europeus e dados de fabricantes indicam que a incidência de incêndios em veículos elétricos é inferior à de veículos “tradicionais” a gasolina ou a gasóleo. A investigação do Instituto Alemão de Pesquisa Automóvel (IFZ) revela que a ausência de combustíveis inflamáveis em veículos elétricos — como gasolina ou gasóleo — reduz, significativamente, o risco de fogo, enquanto a bateria de iões de lítio é, em geral, segura.
Além disso, dados fornecidos por fabricantes como Tesla, Audi e Nissan, por exemplo, confirmam que o risco de incêndio em veículos elétricos é baixo. Na verdade, um relatório de 2021 da National Fire Protection Association (amplamente utilizado em estudos europeus) demonstra que mais de 60% dos incêndios em veículos está relacionado com modelos de combustão.
Porém, existe um fator importante a considerar: os veículos elétricos representam ainda uma pequena franja dos carros em circulação. A venda de elétricos tem vindo a crescer, mas, comparativamente, os veículos de combustão continuam a dominar o mercado. Logo, o número reduzido de incidentes com elétricos pode dever-se, também, ao facto de existirem menos destes veículos nas estradas.
Baterias de lítio a “arder”
O verdadeiro problema não reside na frequência dos incêndios, mas sim na complexidade do combate ao fogo em veículos elétricos. Aí, sim, podemos ter um problema. Quando ocorre um incêndio numa bateria de iões de lítio, o processo de “fuga térmica” torna-se num desafio para as equipas de emergência.
Ao contrário dos incêndios convencionais, onde o combustível é rapidamente queimado ou apagado, as baterias de iões de lítio tendem a reacender várias vezes, libertando grandes quantidades de calor e gases tóxicos.
Um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (Alemanha), em 2022, apontou que os bombeiros enfrentam dificuldades para extinguir um incêndio numa bateria de lítio apenas com água, método convencional.
Em alguns casos, inclusivamente, são necessários milhares de litros de água e várias horas para controlar as chamas. Em modelos específicos, as equipas de emergência recorrem até a tanques de água para submergir o carro e evitar reacendimentos.
Outro risco associado às baterias de iões de lítio é a emissão de gases perigosos durante um incêndio, o que representa uma ameaça adicional à segurança dos bombeiros.
Em resposta, diversos países europeus, como Alemanha e França, têm investido em formações específicas para dotar os bombeiros de competências para lidar com incêndios em veículos elétricos.
Inundar bateria
As marcas estão atentas e a trabalhar no assunto. A par das medidas gerais de segurança, a Renault desenvolveu uma tecnologia inovadora para os seus veículos elétricos, que visa facilitar o combate a incêndios nas baterias.
O sistema consiste num dispositivo de “inundação” das células da bateria, ativado em caso de incêndio. Este sistema permite que as células sejam encharcadas de água, o que ajuda a arrefecer, rapidamente, a bateria e impede que o processo de fuga térmica se alastre.
Ao inundar a bateria diretamente, o sistema reduz a possibilidade de reacendimentos e protege outras partes do veículo, minimizando o risco de propagação das chamas.
Este tipo de solução representa um avanço significativo na segurança dos veículos elétricos, uma vez que permite aos bombeiros combater o fogo de forma mais eficiente e segura. No entanto, a Renault ainda destaca que o sistema é complementar e que a formação e os procedimentos de segurança para intervenções em veículos elétricos continuam essenciais para garantir uma resposta eficaz.
Com o aumento das preocupações de segurança, os fabricantes de veículos elétricos têm investido em tecnologias para prevenir incêndios e facilitar o combate às chamas.
A Tesla, por exemplo, implementou um sistema de “corte de corrente”, que desliga, automaticamente, a bateria em caso de acidente grave. A Audi, por sua vez, utiliza um sistema de proteção reforçado para as baterias, que minimiza o risco de fuga térmica.
Além disso, muitas marcas desenvolvem baterias mais seguras, com células desenhadas para resistir a impactos e a variações de temperatura. A BMW investe em sistemas de refrigeração avançados, que reduzem o risco de sobreaquecimento.
Em paralelo com os fabricantes, o projeto europeu GEMINI+ e a European Automobile Manufacturers Association (ACEA) trabalham na criação de normas de segurança e no desenvolvimento de monitorização contínua para tornar as baterias ainda mais seguras.