Conheci o Pedro Nascimento há uns anos, mas parece que privo com ele há décadas, tal é a empatia que existe entre nós e o especial apreço que nutrimos um pelo outro. Se, no início, parecia que era apenas o corte de cabelo e o gosto pelo futebol que faziam com que “falássemos a mesma linguagem” (ele jogador de Primeira Liga até aos 30 anos; eu jogador de bairro desde sempre), a convivência encarregou-se de demonstrar que são mais os pontos que nos unem do que aqueles que nos separam, embora cada um, entenda-se, na sua especialidade e dentro da sua geografia.
Serve esta declaração de interesses para confidenciar que existem entrevistas que se misturam com conversas de amigos, nas quais as linhas que definem as fronteiras se confundem e não são fáceis de encontrar. Talvez por isso (ou, sobretudo, por isso) existam tarefas que dão imenso prazer executar. Um pouco à semelhança da máxima “Faz o que gostas e não terás de trabalhar um dia”.
Mas antes de entrarmos na entrevista propriamente dita, vale a pena recordar o percurso de Pedro Nascimento. Jogador profissional dos 12 aos 30 anos, ainda antes de acabar a carreira ao serviço do desporto-rei (o que viria a acontecer no ano 2000) o nosso interlocutor lançou-se no mundo dos negócios com a criação da empresa Nascimento & Mota e com o incremento no mercado nacional dos pneus novos e semi-novos.
Em 2008, constatou que havia ainda um nicho de mercado, com a criação da entidade gestora Valorpneu, para um centro de reciclagem de pneus. Assim nasceu a Pneugreen. A seguir, Pedro Nascimento identificou uma lacuna no que dizia respeito à necessidade de escoar um dos produtos reciclados do pneu, neste caso SBR, o granulado de borracha derivado dos pneus.
O que o levou à criação da Pneugreen 2, dedicada à transformação desse tipo de granulado de borracha para piso de segurança, com aplicação em parques infantis. Em 2015, surgiu a oportunidade de ir à Madeira fazer a recuperação de uma empresa (Pneuzarco), viabilidade essa que veio a revelar-se impossível.
Contudo, foi durante a sua estadia insular que o nosso entrevistado constatou que a Madeira estava a tornar-se num mercado emergente e com algumas oportunidades. Por isso, quando lhe surgiu a hipótese de ter um espaço no centro do Funchal (um antigo concessionário Mercedes-Benz) para que pudesse abrir o primeiro centro auto na Madeira (Pneuimpex), Pedro Nascimento não hesitou.
E como cultiva, segundo revela, o desapego, não lhe é difícil criar e vender, sejam os bens materiais ou pessoais. Por isso, vendeu a Pneuimpex e iniciou, de imediato, o projeto MaxRepair. Mas ainda existe a Leirilis no seu percurso…
A Leirilis, ao entrar no capital social da Pneuimpex, conseguiu estender o seu mercado da distribuição de peças em Portugal para a Região Autónoma da Madeira. O incremento no canal das peças de novos produtos, como pneus e equipamentos, com marcas exclusivas, é um trabalho que Pedro Nascimento executa em regime de outsourcing.
Trabalho que, de resto, faz com alguma regularidade para certas empresas. Além disso, complementa a incrementação de novos produtos com formação a vendedores e prepara o novo serviço no cliente.
É nos momentos de crise que surgem, muitas vezes, oportunidades. Podemos assumir que foi o que se passou com a criação da MaxRepair?
A MaxRepair tem na sua génese a área automóvel. No entanto, verifiquei uma janela de oportunidade na área da manutenção habitacional. A minha experiência no setor de aplicação e na produção de pisos em borracha (Pneugreen) foi uma vantagem para este novo setor da empresa.
Quem não precisa sempre de um canalizador, de um eletricista, de um pedreiro e de um pintor em casa? Quem não tem dificuldades no momento de conseguir encontrar um especialista nesta área?
Por isso, se o cliente nos confia o seu carro, porque não confiar-nos, também, a sua casa? Já dispomos de infraestruturas, mobilidade, meios humanos de back-office e do mais importante: os clientes. Porque não alargar o serviço?
Qual foi a ideia que esteve na génese da criação da MaxRepair e quando começou a sua atividade?
Neste momento, vivo a maior parte do meu tempo no Funchal. Conheço os meus clientes e sei a dificuldade que eles têm quando precisam de um serviço que não esteja relacionado com o automóvel. Estou a falar de um serviço de manutenção habitacional.
Em plena crise pandémica, em que as nossas oficinas tiveram quebras na ordem dos 80%, de forma a evitar o lay-off e analisando a polivalência da minha equipa, diversifiquei a atividade para novos serviços de manutenção habitacional e disponibilizei-os aos meus clientes.
Foi muito simples. E foi um sucesso desde o primeiro minuto. Teve tanta adesão, que me vi obrigado a reforçar a equipa, com colaboradores dotados de outras valências na área habitacional.
Em que consiste, no fundo, a atividade da MaxRepair? Que serviços presta e a que tipo de público se destinam?
A MaxRepair, para além da manutenção automóvel, disponibiliza formação técnica alargada a técnicos de ar condicionado, caixas de velocidade manuais e automáticas, gestão oficinal, técnicos de pneus, alinhamento tridimensional com king pin, veículos elétricos e híbridos, entre outros.
Na área da manutenção habitacional, a MaxRepair presta serviços de eletricidade, canalização, pedreiro, carpintaria e pintura, só para citarmos alguns exemplos. Portanto, estamos a falar de pequenas obras.
Diversificar é o lema da MaxRepair. Que serviços são mais requisitados? Os destinados à habitação ou ao automóvel? E, já agora, qual a perspetiva futura? Mais habitação, menos automóvel? Ou o seu contrário?
Surpreendentemente, a área da manutenção habitacional, passados dois meses desde o início da sua atividade, superou a faturação da área de manutenção automóvel. Desde então, mesmo com a recuperação do setor automóvel, a faturação da manutenção habitacional continua a superar a faturação da área de manutenção automóvel.
A grande dificuldade do setor habitacional, neste momento, são os poucos recursos humanos disponíveis, que, em contrapartida, tornam a mão de obra extremamente cara, superando em muito o custo da mão de obra de um mecânico de primeira.
A manutenção habitacional parece não ter caído tanto como a manutenção automóvel durante os períodos de confinamento. Terá sido isso que manteve a MaxRepair acima da linha de água em tempos de pandemia?
Posso dizer que durante a pandemia foi a manutenção habitacional que assegurou postos de trabalho e a continuação da empresa. Conseguimos, também, que a mesma não tivesse registado qualquer quebra de vendas na faturação global.
A Academia MaxRepair é outras das diferenças da empresa. Em que consiste?
Sou formador na área automóvel há mais de 10 anos. As minhas formações estão, inclusivamente, certificadas pelo IMT.
Formações essas que permitem aos profissionais do setor automóvel, como, por exemplo, os inspetores dos centros de inspeção, continuarem a ter a sua carteira profissional ativa, complementando com horas de formação certificada obrigatória.
No entanto, a formação que a Academia Automóvel MaxRepair disponibiliza é, toda ela, focada no setor automóvel.
A MaxRepair atua na área circunscrita ao Funchal. É expectável que alargue o seu raio de ação a outras regiões da Madeira ou, porventura, ao continente?
Neste momento, o único setor que me permite ter uma área mais abrangente é o da formação automóvel. Apesar de ter algumas solicitações para efetuar trabalhos de manutenção habitacional fora da ilha da Madeira, a grande dificuldade na integração de técnicos especializados ainda é uma limitação.
É o caso de pedreiros ou carpinteiros, por exemplo, em que a falta de mão de obra não permite satisfazer todas as solicitações. Só seria possível em caso de franchising, o que não está fora de hipótese, caso surja alguma parceria.
Como está organizada a MaxRepair? Quantos colaboradores dispõe e quantas áreas/secções/serviços inclui?
A MaxRepair dispõe de quatro pessoas na área da manutenção automóvel, duas delas no back-office, e 12 elementos na área da manutenção habitacional. No entanto, a área da manutenção habitacional obriga-nos a subcontratar, de forma a conseguirmos resolver as solicitações do momento.
Como tem sido a atividade da MaxRepair em 2021 e o que se pode perspetivar para 2022?
A MaxRepair teve um crescimento de dois dígitos face a 2020 e continuou com esse registo até então. Neste momento, existem, contudo, dois obstáculos que podem condicionar o crescimento da empresa. Um deles, é a dificuldade de conseguir mão de obra especializada. O segundo, prende-se com o aumento das matérias-primas e com a disponibilização das mesmas na ilha da Madeira.