Quando um cliente chega com queixas de ruídos na suspensão, a pressão está do lado do mecânico. Espera-se que o problema seja rapidamente detetado e resolvido. Mas nem sempre é assim tão linear. Ruídos ao virar, ao passar por buracos ou em pisos irregulares podem ter origens distintas — e trocar peças sem certezas pode resultar em frustração e trabalho duplicado.
Um dos erros mais comuns é assumir que o ruído vem da peça com mais folga visível. Embora o desgaste seja uma pista, nem sempre o componente mais gasto é o que está a gerar o barulho. Borrachas ressequidas, apoios ligeiramente deformados ou folgas mínimas em zonas móveis podem produzir sons intermitentes, difíceis de reproduzir com o carro parado.
Test-drive é essencial
O test-drive com atenção ao tipo de ruído — metálico, seco, repetitivo, isolado — é fundamental. Ajuda a perceber se a origem está no eixo dianteiro ou traseiro, lado esquerdo ou direito, em carga ou em extensão da suspensão. A seguir, com o carro elevado, o uso de alavancas e abraçadeiras ajuda a simular o esforço das peças em movimento.
Componentes como casquilhos de barra estabilizadora, copos de amortecedores e rolamentos de apoio são frequentemente os culpados. São peças que, mesmo com aparência regular, podem gerar ruídos com pequenas folgas internas. A aplicação de pressão ou rotação controlada permite detetar essas anomalias.
Será mesmo da suspensão?
Além disso, a fixação de peças novas também pode ser causa de ruído. Um aperto incorreto, especialmente quando feito com o carro suspenso e não com a suspensão em carga, pode provocar torção nos casquilhos e gerar barulhos poucos dias depois da reparação.
Por vezes, o ruído nem vem da suspensão, mas de zonas adjacentes: apoios de escape, escudos térmicos soltos, elementos de carroçaria a vibrar. Eliminar ruídos exige método, paciência e escuta ativa. Evitar a substituição errada de peças não é apenas uma questão de poupança para o cliente — é um sinal claro de profissionalismo técnico.