A sensação é conhecida: o carro pega, mas não está “limpo”. Engasga, falha ao acelerar e parece perder vigor. Em muitos casos, o culpado não é o combustível nem uma avaria súbita. Trata-se, muito simplesmente, da humidade elevada. Por outras palavras, quando o ar fica saturado de vapor de água, vários componentes essenciais do motor respondem de forma diferente.
Começa pela faísca
Nos motores a gasolina, tudo começa pela faísca. Velas envelhecidas, cabos de ignição cansados ou bobinas com microfissuras tornam-se muito mais sensíveis à presença de água no ar. A humidade facilita fugas de tensão e correntes parasitas que desviam a energia necessária à ignição. O resultado são falhas intermitentes, especialmente em aceleração ou sob carga.
A admissão também sofre. O ar húmido contém menos oxigénio por unidade de volume, o que obriga a centralina a corrigir mistura para manter a combustão estável. Se existirem sensores já perto do limite — como o sensor de massa de ar (MAF) ou o sensor de temperatura do ar (IAT) — o motor pode começar a oscilar porque recebe informação imprecisa. A humidade extrema também aumenta a probabilidade de condensação em condutas ou filtros de ar muito saturados.
E nos motores Diesel?
Nos motores Diesel, o cenário é diferente, mas igualmente influenciado pela água no ar. Embora a combustão por compressão seja mais resistente, a humidade pode realçar problemas latentes nos sensores de pressão do rail, nos injetores ou no sistema EGR, cuja acumulação de resíduos reage de forma mais instável quando a densidade do ar muda.
Outro ponto frequentemente ignorado é a humidade sobre componentes eletrónicos expostos — fichas, conectores e massas do motor. Um ponto de massa oxidado pode funcionar relativamente bem em dias secos, mas tornar-se errático quando a humidade aumenta, criando quedas de tensão que levam a falhas aparentemente inexplicáveis.
Em resumo: dias húmidos não “criam” avarias, apenas revelam fraquezas. Sensores sujos, contactos oxidados ou filtros saturados tendem a manifestar-se precisamente quando o ar se enche de vapor de água. Uma revisão preventiva, com atenção especial a ignição, sensores e ligações elétricas, é a melhor defesa contra o motor mais “queixoso” nos dias húmidos.