Sob o piso de cada veículo elétrico (VE) encontra-se o componente mais valioso e, ao mesmo tempo, mais problemático: a bateria. Este componente não só representa até 50% do custo total do veículo, como, também, é crucial para o seu desempenho.
Mas o que acontece quando este componente essencial começa a perder capacidade ou precisa de ser substituído? As baterias dos VE são construídas para durar, sim, mas nem sempre resistem ao tempo e à utilização intensiva. Além disso, o fim da sua vida útil não significa apenas deitá-las fora: a reparação e a reciclagem tornaram-se questões cruciais, tanto para o setor automóvel como para o futuro do planeta.
Vida útil
A vida útil de uma bateria de lítio de um VE é, em média, de 8 a 10 anos, dependendo de fatores como o número de ciclos de carga, as condições de condução e a manutenção regular. Contudo, após alguns anos, muitos proprietários começam a notar uma redução na autonomia do veículo, o que pode ser atribuído à degradação natural das células da bateria.
Aqui, entra o papel do mecânico. Antes de recomendar uma substituição completa — que pode custar milhares de euros —, existem formas de diagnosticar e, em alguns casos, reparar a bateria. Ferramentas de análise avançadas permitem identificar células defeituosas que podem ser substituídas individualmente, prolongando a vida útil do conjunto e reduzindo os custos para o cliente.
Além disso, a manutenção preventiva, como garantir o bom funcionamento dos sistemas de arrefecimento da bateria, pode atrasar, significativamente, a degradação.
E a reparação?
A reparação de baterias de alta voltagem é dos maiores desafios para as oficinas. Estas unidades são compostas por módulos de células interligados, e qualquer intervenção exige conhecimento profundo de eletrónica e segurança. Uma bateria com danos internos pode ser perigosa, uma vez que os componentes químicos podem reagir de forma instável, causando sobreaquecimento ou, em casos extremos, incêndio.
Oficinas especializadas em reparação de baterias estão a surgir, muitas vezes, equipadas com câmaras de teste que simulam condições extremas para garantir a segurança das intervenções. Mas não só. Vários fabricantes oferecem kits de reparação específicos para os seus modelos elétricos, embora o acesso a estas tecnologias nem sempre seja barato ou fácil.
Reciclagem, o novo começo
Quando a reparação não é viável, o próximo passo é a reciclagem. Porém, este processo está longe de ser simples. As baterias de lítio contêm materiais valiosos, como cobalto, níquel e manganês, que podem ser reaproveitados, mas, também, substâncias tóxicas que precisam de ser tratadas com cuidado.
Na Europa, os regulamentos para a reciclagem de baterias de VE estão a evoluir rapidamente, com objetivos ambiciosos para reaproveitar até 95% dos materiais. No entanto, o processo ainda é caro e tecnicamente complexo, exigindo instalações especializadas.
Por outro lado, algumas baterias em fim de vida estão a ser reaproveitadas em projetos de armazenamento de energia. Por exemplo, módulos usados podem ser agrupados para criar bancos de baterias estacionários, utilizados em habitações ou até para alimentar infraestruturas elétricas.
Gestão de baterias
Com o aumento do número de veículos elétricos nas estradas, a gestão de baterias tornou-se numa das áreas mais promissoras para os mecânicos. A especialização em diagnósticos, reparações e até no envio de baterias para reciclagem pode ser uma vantagem competitiva num mercado em rápida transformação.
Os desafios são grandes, mas as oportunidades também. A capacidade de compreender e trabalhar com baterias posicionará oficinas e profissionais como peças-chave na revolução elétrica, especialmente num setor onde a sustentabilidade está no centro das atenções.
