Num ambiente de oficina, o ouvido pode ser tão valioso quanto uma ferramenta. Identificar a origem de um ruído mecânico exige atenção, experiência e sensibilidade. E entre os sons mais comuns — e mais confundidos, diga-se — estão os ruídos provocados por pastilhas de travão e por rolamentos desgastados.
À primeira vista (ou melhor, à primeira escuta), ambos podem parecer semelhantes: um som metálico, por vezes contínuo, que se intensifica com a velocidade. Mas existem diferenças claras para quem sabe o que procurar.
Ruído grave ou agudo?
O ruído típico de pastilhas de travão gastas é agudo, semelhante a um assobio ou chiar. Surge, sobretudo, quando se trava, embora, em casos mais extremos, possa ouvir-se em andamento. Este som deve-se ao contacto metálico entre a base da pastilha e o disco, sinal de que o material de fricção se esgotou. Algumas pastilhas incluem até um indicador sonoro: uma pequena lingueta metálica que, ao tocar no disco, avisa que é tempo de trocar.
Já o som de um rolamento em fim de vida, é mais grave, constante e acompanha a rotação da roda. Costuma intensificar-se em curva, quando o peso do carro força mais um dos lados. Se, ao virar para a direita, o som aumenta, o problema estará, geralmente, no rolamento do lado esquerdo — e vice-versa. O ruído é mais parecido com um rolar surdo, um zumbido que vai aumentando com a velocidade, independentemente de se travar ou não.
Rotação irregular
Para confirmar a origem, o mecânico pode fazer um teste de alívio de carga: com o carro suspenso e a roda livre, basta rodá-la com a mão e escutar. Um rolamento danificado emitirá um som de fricção ou rotação irregular. Já um problema de pastilhas, será praticamente impercetível neste contexto.
Outro detalhe importante: um rolamento com folga também pode provocar um ligeiro movimento lateral da roda — algo que não acontece com pastilhas gastas.
Distinguir estes dois ruídos evita trocas desnecessárias, perda de tempo e insatisfação do cliente. Para isso, o ouvido do mecânico deve estar tão treinado quanto a sua mão. Afinal, na arte da reparação, há sons que falam mais alto do que muitos sensores. E saber escutá-los é um talento sempre valioso na oficina.