São histórias de amor à camisola. De compromisso e dedicação. Há quem conheça de cor (e não será por acaso que a expressão deriva da palavra coração) milhares de referências de peças em stock. Quem atenda centenas de chamadas telefónicas, todos os dias, e não falhe um nome de cliente.
Há quem tenha entrado para uma grande empresa, surpreso por tê-lo conseguido sem quaisquer cunhas, e, no mesmo ano, tenha sido aumentado por três vezes. E há ainda quem tenha cumprido, este ano, meio século de funções, na mesma casa, colecionando amizades e reconhecimentos, no momento da reforma.
No Dia do Trabalhador, celebrado, hoje, 1 de maio, o Check-up ouviu quatro histórias de quem não costuma dar entrevistas ou reclamar para si o protagonismo, mas cujas mãos ajudaram a escrever o sucesso das empresas.
Dias Pinto, Soc. Com. C. Santos
“Fui aumentado três vezes no meu primeiro ano de empresa”
Hoje, já não se importa muito, mas, no início, quando entrou para a Soc. Com. C. Santos, em meados de 1996, fazia-lhe muita confusão. Tinha 31 anos e não queria que lhe mudassem o nome. Dias Pinto não era… Dias Pinto. “O Dias foi quando entrei. Começaram a chamar-me assim. Não lhes passava cartão. Sempre tinha sido tratado por Paulo ou por Pinto”, conta. O Dias também lá estava no BI (António Paulo Dias Pinto), mas não usava. Reclamou. “Só Dias, não!”. E assim ficou para a história: Dias Pinto.
Aos 55 anos, olha com orgulho para a carreira que começou quando tinha 14 e para o quarto de século que já leva nesta empresa, onde é responsável pela oficina de veículos comerciais. E não esquece o momento em que viu o anúncio no jornal. “Concorri porque era a Mercedes-Benz. Mas julguei que fosse por cunha”, admite. “Fui à entrevista para o cargo de mecânico de automóveis com outros dois candidatos. Também tinha experiência de pesados, mas queria vir para os ligeiros, porque era mais levezinho”, diz.
Conquistou o seu lugar, sem cunhas, diga-se, mas na oficina de veículos pesados, com a promessa de que, em breve, vagaria o cargo de chefe nesta área e de que ele teria o perfil ideal para assumi-lo. Como poderia recusar? Só que tal tardava em acontecer. E teve de ser compensado. “Como mecânico, nesse ano, aumentaram-me o ordenado três vezes”, revela Dias Pinto ao Check-up.
Atualmente, é responsável da oficina de comerciais, onde faz de tudo um pouco. Como sempre fez, na verdade. Um serviço que tem vindo a mudar muito com os anos. “Os automóveis são muito diferentes. Dantes era mecânica antiga”, diz. E o ritmo também é outro. “Cheguei a reparar 40 comerciais num dia. Hoje, são 10 ou 11. Já não há tantas carrinhas comerciais, caiu muito nos últimos 10 anos”.
Dias Pinto continua a gostar muito da Mercedes-Benz. E da “família” que encontrou e da qual aprendeu a fazer parte. “Sinto-me valorizado”, garante, “ou já cá não estaria”.
Marco Ferreira, bilstein group
“No início, no inverno, ligávamos os aquecedores e o quadro ia abaixo”
As primeiras memórias de Marco Ferreira no bilstein group são imagens de camaradagem e de… muito frio. Entrou para a empresa em 2009, na altura com 23 anos, para assumir as funções de arrumação e expedição do material, como encarregado do armazém. “Foram tempos de bastante aprendizagem e de entreajuda dos colegas dos diversos departamentos”, conta ao Check-up.
Algo que não esquece? “Lembro-me, no início, nos invernos mais rigorosos, de utilizarmos aquecedores. Mas não podíamos ligar todos os filamentos porque o quadro energético não aguentava. Uma situação completamente ultrapassada com as novas instalações e condições de trabalho melhoradas”, recorda Marco Ferreira.
Hoje, exerce a função de distribution center team leader, onde tem a “responsabilidade pela área de devoluções e packaging”, conciliando-as com o apoio prestado à “receção e à expedição de material”, adianta.
Com 12 anos de bilstein group, Marco Ferreira regista a enorme evolução da empresa em termos de “dimensão” e, por conseguinte, o “aumento dos seus recursos humanos”.
São muitas as qualidades que encontra no bilstein group. “Gosto da solidez da empresa no aftermarket, do espírito de equipa com que trabalhamos e do lema que nos distingue: Fortes individualmente, imbatíveis em equipa”, diz Marco Ferreira, que, apesar de reconhecer ser “um pouco introvertido”, tem construído “amizades duradouras” dentro da empresa.
Sérgio Jesus, EuroMais
“Chego a atender mais de 100 chamadas de clientes por dia”
Sérgio Jesus entrou para a EuroMais em 2007. Tinha 27 anos. Por outras palavras, está na empresa desde o início. “Fazíamos de tudo um pouco. Sempre tive esta ligação à gestão de clientes. Faturava, separava, tudo”, revela.
Recorda que, no começo da sua atividade, a empresa era muito familiar. “Éramos apenas três e havia muito apoio e solidariedade entre todos. Hoje, somos mais de 30”, diz.
O seu trabalho, atualmente, passa por ouvir, falar e resolver. Chega a receber mais de 100 chamadas telefónicas por dia. “Com a pandemia acalmou um pouco, mas são muitas”, garante Sérgio Jesus ao Check-up. Talvez por isso, no seu dia a dia, opte por deixar o telemóvel particular no silêncio. Espécie de deformação profissional de alguém que passa a vida ao telefone com clientes.
Pela natureza das suas funções, Sérgio Jesus está na linha da frente da EuroMais, ainda que do outro lado da linha. E os episódios são muitos. “Muitos fazem o pedido como se precisassem de um coração, tal a urgência. Mas continuo a gostar de lidar com as pessoas”, assegura.
Já houve quem insistisse em pedir material errado e que, curiosamente, não ficasse satisfeito com o resultado. “Há uns anos, um cliente pediu umas medidas de pneus para uma retroescavadora. Mas dentro dessa linha de medidas, tanto pode ser um pneu industrial ou agrícola. Só que a construção não é igual. Expliquei-lhe isso mesmo: que não era a mesma coisa. Mas ele não quis saber, queria os pneus. E, claro, deu problemas na máquina. No trator, os pneus teriam durado uma vida inteira, mas na máquina… não”, recorda.
Felizmente, também há muitas histórias positivas e divertidas na atividade de Sérgio Jesus, que reconhece todos os clientes pelo nome ou timbre de voz. Na sua memória, ficou o cliente que lhe enviou, como prenda, um CD de música, onde aparecia, na capa, ao lado de duas belas raparigas.
Aparentemente, o cliente “tinha uma segunda vida profissional, como cantor pimba”. Ou ainda o senhor do interior do país, que, sempre que lhe ligava a encomendar algum pneu, fazia questão de enviar-lhe, de seguida, uns “salsichões” como forma de agradecimento. “A empresa fechou pouco depois”.
Aquiles Costa, Romafe
“Sinto-me realizado e agradecido pelos 50 anos vividos na empresa”
Quando olha para o caminho percorrido, Aquiles Costa confessa que nunca pensou que poderia ficar meio século na mesma empresa. O tempo voou desde aquele dia, em 1971, em que entrou para a Romafe, com apenas 16 anos.
“Foi a minha primeira experiência profissional. Quando entrei para a Romafe, tive de adaptar-me e aprender a exercer funções mais abrangentes que estavam relacionadas com toda a envolvência da empresa”, recorda, numa altura em que acaba de reformar-se, perante o reconhecimento de toda a empresa, depois de 50 anos dedicados a defender as cores da Romafe.
“A primeira memória que tenho da Romafe está mais relacionada com o espaço físico. Recordo-me que se localizava num pequeno apartamento, com apenas três funcionários. Agora que olho para trás, o crescimento da empresa é impressionante. Não me refiro apenas ao espaço, mas, também, ao volume de negócios”, conta.
Muitos anos e muitas histórias vividas na empresa que tinha “apenas” 25 anos quando Aquiles Costa entrou. Mas há uma que lhe ficou presa na memória. “Lembro-me de um episódio engraçado. Antigamente, em São Bento, faziam-se despachos. Certo dia, quando nos deslocámos até lá, como habitualmente fazíamos, encontrámos um saco cheio de carne esquecido na estação. Trouxemos para a empresa, distribuímos por todos e deu uns bons quilos para cada um”, recorda o até aqui diretor de serviços da empresa, cargo que exerceu durante 15 anos, “dedicando-me a ser uma das pontes e a estabelecer ligação entre os clientes e a empresa, focando-me nos serviços de orçamentação”, explica ao Check-up.
“O que mais me fascina na Romafe é o ambiente organizacional vigente, presente na identidade da empresa. Existe uma ótima relação entre colegas e os diversos departamentos e é possível sentir que todos estamos unidos e com o mesmo propósito”, afirma. “O ótimo ambiente da empresa foi um aspeto facilitador para que fizesse amizades, tanto no meu departamento como nos restantes. Também a relação direta com os clientes, ao longo dos anos, permitiu-me criar ligações de amizade”.
À laia de despedida da casa que o viu crescer como homem – e que, também ela, o fez enquanto empresa -, umas palavras de surpresa, orgulho, agradecimento e realização pela longa carreira na Romafe. “No início da minha carreira, não esperava que tal acontecesse. A verdade é que o tempo foi passando e quando atingi os 40 anos ao serviço da Romafe, os 50 anos tornaram-se num objetivo a atingir. Agora que alcancei essa meta, sinto-me realizado e agradeço a todas as pessoas que fizeram parte deste meu percurso, numa empresa que me permitiu crescer, tanto a nível profissional, como pessoal”, sublinha.