Quem vê o olhar sério com que enfrenta a lente da nossa fotógrafa, Estelle Valente, dificilmente “tirará” o retrato verdadeiro de Jorge Pinto. As imagens são a preto e branco, mas a sua essência tem muitas outras cores – além do verde e branco do seu Sporting. Como é tradição, nestas conversas, o administrador da MF Pinto recebeu o Check-up num clima de boa disposição e energia contagiante.
Uma entrevista que encerra um intenso 2022, ano em que empresa de Sintra – e com loja também no Porto, desde 2017 – cumpre 18 anos de existência no mercado. E em que regista, também, o melhor balanço de toda a sua história. Haverá melhor maneira de entrar na maioridade?
O que fazes para manter a energia positiva que emanas sempre?
Não há nenhuma receita (risos). Tento fazer as coisas que gosto. O desporto, por exemplo, é uma coisa que me ajuda bastante. Às vezes, as energias más – que todos temos – limpo-as a jogar padel ou à bola. Ou até ir ao futebol…
Descarregar no árbitro, por exemplo?
(risos) Por vezes, é mesmo preciso descarregar. Se te lembras de algo que tenha corrido mal, é importante descarregar um pouco. Nem que seja na raquete de padel.
A boa disposição da equipa é meio caminho andado para o sucesso da empresa?
Seguramente.
Sentes isso?
Sinto, pois. Até porque uma das coisas mais importantes que procuramos fazer na empresa é criar condições para que os colaboradores se sintam bem. Condições para que gostem de trabalhar aqui. Isso ajuda muito.
O mundo continua mergulhado numa crise com demasiados “braços”. Mas a MF Pinto encerra 2022, ano em que cumpriu 18 anos, com números muitos positivos…
É verdade. Este é o melhor ano de sempre para a MF Pinto. Vamos crescer na ordem dos dois dígitos. Foi um ano bom para nós. Dentro do que tínhamos imaginado.
Agora, para o próximo ano, volta, mais uma vez, a incerteza, devido a toda a conjuntura. Não sabemos o que acontecerá. Mas prevemos mais algumas dificuldades em 2023.
Quando comparas com o melhor ano de sempre também não é fácil continuar a subir…
Sim, também é isso. Chega a uma determinada altura em que não podemos continuar sempre subir, sobretudo num mercado limitado e pequeno como o nosso.
Como descreves a entrada da MF Pinto na idade adulta? Ainda te lembras de quando era bebé?
Lembro-me perfeitamente. Já passaram uns aninhos, mas ainda me lembro bem. Tem sido um caminho longo, com alguns revés, mas sempre no bom sentido. Sou uma pessoa naturalmente otimista. Chegámos aqui, consolidámos as coisas ao longo dos anos e estou contente e orgulhoso com o que conseguimos fazer nestes 18 anos.
Ainda tens tempo de olhar para trás e ver o caminho percorrido?
Tenho, sem dúvida. De vez em quando, faço esse exercício de memória e é uma ótima sensação.
Há alguma coisa que gostasses de ter feito diferente neste percurso?
Haverá várias, seguramente. Cometemos imensos erros, como é normal. Mas teria começado a internacionalização da empresa mais cedo.
Em que ano arrancou a internacionalização da MF Pinto?
Em 2011. Mas devia ter começado a internacionalização pouco depois da criação da empresa. A decisão de ir para outros mercados foi muito bem-sucedida. Se tivesse feito isso antes, provavelmente teríamos alcançado outros patamares mais cedo. Mas foi uma aposta ganha.
O segredo do sucesso está em manter um portefólio com produtos de qualidade e sempre atualizado? Este ano, a MF Pinto acrescentou marcas de renome, como SIARIA (filtros de habitáculo), Stanadyne (aditivos de combustível), CIMAT, Bendix, BorgWarner, DTS…
Sim. Fomos acrescentando parcerias fortes com marcas globais. Como, por exemplo, a BorgWarner e a Bendix, que foi, agora, relançada e, por isso, é que conseguimos entrar para o negócio de uma forma oficial. Sem os parceiros certos também não conseguimos ter sucesso.
Depois, para crescer, só há duas formas: aumentar a gama ou arranjar outros mercados. Ou ambas. Não há outra maneira de fazê-lo. Por um lado, acrescentámos essas marcas (como a Bendix, que foi a mais recente) e, depois, vamos continuando a desenvolver a nossa parte de exportação, de novos mercados. O mercado nacional é absolutamente finito, pequeno e já muito maduro.
Para crescer, agora, só além-fronteiras…
Seguramente. Ainda temos algumas quotas de marcas de nicho onde podemos crescer, porque entrámos há pouco tempo. Com a Bendix, por exemplo. Mas no negócio da travagem, quantas marcas existem? Umas 60? É muito complicado. Podemos crescer ainda, mas a visão que temos é a de um mercado com muitas empresas – e bem – e que chega a determinado ponto e esgota.
Quanto representa a exportação para a MF Pinto?
Representa 40%. Já foi mais. Tem vindo a descer um pouco. Mas pode vir a ser 50%. Também reforçámos a parte comercial em Portugal, sobretudo, no norte. Estamos a crescer um pouco.
O norte é muito forte. O nortenho está mais preparado para gastar dinheiro no carro do que o lisboeta. A malta gosta de carros e investe. Está mentalmente preparada para investir.
A aposta na diversificação e em produtos e peças que não componham o motor é uma forma de ir acautelando um futuro cada vez mais elétrico?
É exatamente isso. Estamos a dividir as coisas e a procurar essa diversificação dos produtos. Ainda que, do “ponto de vista elétrico”, não tenhamos chegado à conclusão do que se pode vender para baterias, por exemplo. Mas havemos de lá chegar, seguramente. Nesse sentido, a parceria com a BorgWarner – que comprou a Delphi há uns anos e está a adquirir empresas de baterias – pode ser uma via nesse sentido.
É uma nossa representada e através dela haveremos de estar bem colocados nessa área. Essa é a nossa expectativa. Eu não sei é em quê ou como. Mas hei-de saber. Eles estão a investir muito. Compraram várias empresas que têm a ver com a parte elétrica dos carros. Num determinado momento, essa parte – alguns componentes – virão para o aftermarket.
Diesel e turbo continuam os pulmões da MF Pinto?
Continuam. E nos próximos anos é expectável que ainda o sejam. A parte estrutural dos veículos elétricos tem de ser tratada e ainda demorará algum tempo. Vai demorar. Não tenho dúvidas.
Tem sido difícil manter e acrescentar stock com as conhecidas dificuldades das entregas por parte dos fornecedores?
Tem, muito. Afeta-nos, sem dúvida. Falta de stock, de matérias-primas. Não entregam. Neste momento, já nem discutimos prazos de entregas. Seis meses? Oito? Quando dizem seis meses é oito, nove ou 10. O tempo de prazos rigorosos, sob pena de rutura de stock, já nem discutimos.
Como se combate isso?
Tenta-se fazer stock. Guardar mais. Também existe um custo financeiro inerente a ter mais stock. E esperar que normalize. Algo que não está a acontecer. Nem perto disso. Mas não há nada que possamos fazer.
Já sabíamos da tua paixão – e do teu irmão – pelo padel. E, este ano, a MF Pinto patrocinou mesmo Bernardo Ferreira. Este tipo de ações será para continuar no futuro?
Ele tem 24 anos e está a fazer o nacional. Ganhou um torneio. Há um mês partiu o pulso. E, agora, recomeçou. É sempre bom apoiar a malta nova e o desporto em geral.