O dia de Hélder Pereira começa cedo. Às seis da manhã já está no Jamor, onde leva o filho, Guilherme, à natação e aproveita para correr alguns quilómetros antes de iniciar mais um dia intenso de trabalho.
Como sales director IAM da MANN+HUMMEL Portugal, a sua rotina é marcada por reuniões estratégicas, visitas a clientes e uma atenção constante às dinâmicas do aftermarket, um setor que considera mais ágil e inovador do que o do primeiro equipamento (OEM).
Momentos antes da entrevista, teve lugar a reunião mensal com Jorge Sala, sales director IAM Western Europe do Grupo MANN+HUMMEL.
Entre deslocações e compromissos, acompanhámos Hélder Pereira num dia de trabalho e aproveitámos para conversar sobre a atividade da MANN+HUMMEL, o impacto da eletrificação na indústria da filtração e os desafios que o setor enfrenta nos próximos anos.
Durante o dia, Hélder Pereira teve a oportunidade de testar um BMW i5 eDrive40 Touring, carrinha 100% elétrica que representa a nova geração da mobilidade.
Foi a sua primeira experiência ao volante de um veículo 100% elétrico e a questão da autonomia foi um dos temas que abordámos durante a viagem.

Foi um dia de trabalho intenso, mas, também, de reflexão sobre o futuro. Entre os desafios da eletrificação, a adaptação da indústria e a competitividade do aftermarket, uma coisa ficou clara: a MANN+HUMMEL está preparada para o que vem a seguir.
Como correu a reunião com Jorge Sala?
Correu bem. Temos reuniões regulares todos os meses para analisar o desempenho do mês anterior, tanto por parte de clientes como de marcas. Faço sempre um relatório mensal e, em reuniões de 30 a 45 minutos, ajustamos estratégias conforme necessário.
Esta reunião coincidiu com o balanço do ano…
Sim, foi a primeira reunião do ano com ele, onde analisámos o desempenho de 2024 e perspetivámos 2025. Foi um pouco mais longa, porque discutimos algumas alterações estratégicas para adaptar marcas a novas dinâmicas de mercado. Tentamos sempre ser proativos e não reativos, avaliando, mensalmente, o desempenho por cliente e ajustando conforme necessário.
Estas reuniões tornam-se mais fáceis quando o ano corre bem, como foi o caso de 2024?
Sem dúvida. Quando um ano corre mal, os sinais aparecem ao longo dos meses — não há surpresas em dezembro. Como fazemos análises contínuas, conseguimos prever o fecho do ano com bastante precisão. Felizmente, o nosso mercado é estável, o que nos permite ter uma visão clara do futuro.
Há alguma novidade para 2025 que possas revelar?
A inovação é uma constante. Todos os anos lançamos novas referências e aplicações, mantendo os clientes informados sobre substituições, anulações e novos produtos.
“A sustentabilidade é uma prioridade. As nossas fábricas trabalham, maioritariamente, com gás e o custo energético é muito elevado. Para reduzir essa dependência, estamos a investir em painéis solares, garantindo maior autonomia energética”
Em 2024, apostámos fortemente no desenvolvimento de filtros para secadores de ar e vamos continuar essa estratégia. Somos o maior fabricante mundial nesse segmento e queremos reforçar a nossa presença no mercado nacional.
Além disso, queremos dar um foco especial aos filtros de habitáculo para veículos elétricos. A eletrificação não elimina a necessidade de filtração, pelo contrário. Queremos mostrar onde estamos presentes, em que aplicações e em que modelos elétricos, desmistificando a ideia de que um carro elétrico não necessita destes componentes.
Um modelo elétrico, como o BMW i5 eDrive 40 Touring que testamos hoje, serviria para a tua rotina profissional?
Esta foi a minha primeira experiência ao volante de um veículo 100% elétrico. O meu principal receio prende-se com a autonomia. Mesmo quando é anunciada uma autonomia de 450 km na prática, há sempre variáveis a considerar.
Tens a chamada “ansiedade de autonomia”?
(Risos) Ainda não, porque é a minha primeira experiência. Mas faço cerca de 40.000 km por ano, com deslocações semanais ao Porto e a Viseu. Muitas dessas viagens rondam os 600 km num único dia.
A autonomia torna-se uma questão central. Para mim, os modelos plug-in fazem mais sentido, porque oferecem flexibilidade entre o modo elétrico e o motor de combustão.
Voltando à MANN+HUMMEL… A eletrificação não vos assusta?
De forma alguma. O mercado de motores de combustão ainda terá uma presença significativa nos próximos 30 a 35 anos, considerando os veículos já em circulação e os novos lançamentos até 2035.




Além disso, nos elétricos, a necessidade de filtração não desaparece, apenas muda. Enquanto um modelo de combustão tem quatro filtros principais, um veículo elétrico pode ter mais de nove. Há filtros essenciais para a gestão térmica das baterias, para proteção contra humidade e impurezas, entre outros.
A grande questão será a reposição das peças. Hoje, sabemos exatamente quando substituir um filtro de óleo ou combustível, mas a manutenção dos componentes dos elétricos ainda está em evolução. Com o tempo e a experiência, o mercado irá definir ciclos de substituição para estes novos filtros.
O que é certo é que, apesar de haver menos componentes nos elétricos, o custo unitário é mais elevado. Na MANN+HUMMEL temos uma visão clara do futuro, pois acompanhamos a evolução do parque automóvel e as necessidades de filtração em cada nova tecnologia.
A MANN+HUMMEL tem um diálogo constante com os fabricantes de automóveis?
Sim, e é essencial. Sendo uma multinacional fornecedora de primeiro equipamento, 80% do nosso negócio vem desse setor. Há uma relação de dependência mútua: os construtores de automóveis precisam dos fabricantes de componentes e vice-versa.
“O aftermarket está mais preparado para os desafios do que o OEM. Em termos de tecnologia, ferramentas, gestão de stock e logística, estamos muito à frente. Os nossos clientes conseguem identificar peças com precisão, gerir encomendas com base em dados reais e oferecer um serviço rápido e eficiente"
Quando uma marca planeia lançar um novo modelo dentro de três ou quatro anos, já nos está a envolver no processo, solicitando soluções específicas. Somos nós, fabricantes, que desenvolvemos tecnicamente os componentes, não as marcas de automóveis.
As marcas têm voltado a pedir projetos para motores térmicos? Se é que podes revelar…
Sim, e posso dizer que, em 2025, já vimos mudanças nesse sentido. Algumas marcas que tinham planeado abandonar os motores de combustão estão, agora, a rever essa decisão e a solicitar novos projetos.
Achas que há uma marcha-atrás da indústria?
Diria que é mais uma marcha-atrás da realidade. Não basta colocar carros elétricos na estrada, é preciso garantir uma infraestrutura de carregamento eficiente.
Há países preparados, como a Noruega, que começaram este processo em 1990. Mas há outros, como Portugal, onde a eletrificação está a crescer rapidamente em vendas, mas a infraestrutura ainda não acompanha essa evolução.
A transição energética tem de ser equilibrada. Se a indústria for demasiado rápida, pode não haver capacidade de resposta ao nível da rede elétrica, carregamentos e soluções para utilizadores que não têm garagem, por exemplo.

Como está a MANN+HUMMEL a lidar com a questão da sustentabilidade?
A sustentabilidade é uma prioridade. As nossas fábricas trabalham, maioritariamente, com gás e o custo energético é muito elevado. Para reduzir essa dependência, estamos a investir fortemente em painéis solares, garantindo maior autonomia energética.
Durante a pandemia, 60% do aumento de custos teve origem na energia. Foi um alerta para a necessidade de controlar este fator. As fábricas funcionam 24 horas por dia e a energia representa o maior custo de produção. Procuramos sempre soluções para otimizar este consumo, tanto por razões ambientais como económicas.
Em novembro, moderaste um debate no Fórum DPAI sobre o futuro do aftermarket independente. Na tua opinião, ainda está muito à frente do primeiro equipamento?
Sem dúvida. O aftermarket independente continua a crescer muito acima do mercado. A MANN+HUMMEL tem registado um crescimento superior à média e o mesmo acontece com os nossos concorrentes. Como o parque automóvel não aumentou, isso significa que estamos a ganhar quota de mercado ao primeiro equipamento.
Além disso, o aftermarket está mais preparado para os desafios. Em termos de tecnologia, ferramentas, gestão de stock e logística, estamos muito à frente. Os nossos clientes conseguem identificar peças com precisão, gerir encomendas com base em dados reais e oferecer um serviço rápido e eficiente.

O primeiro equipamento está a tentar seguir esse caminho?
Sim, vemos cada vez mais fabricantes de primeiro equipamento a tentar adotar as boas práticas do aftermarket. Empresas independentes têm uma gestão de stock e logística comparável à indústria farmacêutica, com uma eficiência impressionante.
O mercado de primeiro equipamento está a encolher e, para se manter competitivo, tem de aprender com as boas práticas do aftermarket. A flexibilidade, rapidez e capacidade de resposta do setor independente continuam a ser os seus grandes trunfos.