Para muitos condutores, abrir a porta de um carro novo e sentir aquele aroma inconfundível é uma experiência fundamental no processo da compra. Mas o que poucos sabem é que esse cheiro não é obra do acaso.
Nos bastidores da indústria automóvel, existem profissionais especializados na análise e controlo dos odores do habitáculo. Um trabalho bastante especializado, de resto.
Estes especialistas, muitas vezes chamados de Odor Engineers ou Smell Experts, trabalham para assegurar que os materiais usados no interior dos automóveis criem um aroma agradável e coerente com a identidade do fabricante.
Marcas como BMW, Mercedes-Benz, Audi e Ford, entre outras, investem recursos consideráveis na criação e padronização do cheiro a novo, visto que este pode influenciar a perceção de qualidade e decisão de compra.
Laboratório do olfato
Os fabricantes realizam testes rigorosos para avaliar os odores libertados pelos materiais internos dos automóveis. Couros, tecidos, plásticos, colas e espumas são submetidos a análises em laboratórios especializados, onde são aquecidos a temperaturas elevadas para simular o efeito do tempo e do calor do sol.
Na Ford, por exemplo, existe uma equipa na China dedicada, exclusivamente, à avaliação de odores. Os especialistas cheiram amostras de materiais e habitáculos completos, classificando-os com base na intensidade e qualidade do aroma. O objetivo é garantir que o cheiro do carro seja sempre agradável e não tenha notas químicas desagradáveis que possam desencantar os consumidores.
Na Mercedes-Benz, o desenvolvimento do cheiro a novo é levado ainda mais longe. A marca germânica conta com um especialista, chamado de “nariz do carro”, que analisa, minuciosamente, cada componente do habitáculo. Se um material exalar um odor demasiado forte ou não se harmonizar com os restantes, pode ser rejeitado ou reformulado.
Assinatura sensorial
O cheiro de um automóvel novo não é apenas uma questão de conforto sensorial. Estudos indicam que o aroma de um veículo pode influenciar a perceção do cliente sobre a qualidade e até mesmo sobre o luxo do carro. Marcas premium investem na criação de fragrâncias exclusivas, que se tornam numa assinatura sensorial dos seus modelos.
Além disso, um cheiro desagradável pode prejudicar a experiência do condutor e dos passageiros, afetando até o bem-estar durante viagens prolongadas. Por isso, os fabricantes evitam materiais que libertem compostos voláteis desagradáveis e desenvolvem processos para reduzir odores artificiais indesejáveis.
Cheiro do futuro…
À medida que a indústria automóvel avança para um futuro mais sustentável, os desafios no desenvolvimento do cheiro a novo também aumentam. Muitos dos materiais tradicionais, como couros naturais e colas à base de solventes, estão a ser substituídos por alternativas ecológicas. No entanto, estas novas soluções precisam de ser testadas e ajustadas para manter um aroma agradável sem comprometer os padrões ambientais.
Mais: algumas marcas começam a explorar a personalização dos aromas do habitáculo. Já existem fabricantes que oferecem sistemas que permitem ao condutor escolher entre diferentes fragrâncias dentro do carro, ajustando o ambiente conforme o gosto.
O cheiro a novo pode durar apenas algumas semanas, mas o impacto sensorial que ele causa pode permanecer na memória do condutor durante anos. E, nos bastidores da indústria automóvel, há quem trabalhe, arduamente, para garantir que essa memória seja sempre positiva.