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“Não corremos atrás do crescimento, mas da melhoria contínua”, revela Luís Aniceto

Da fundação da empresa à terceira geração da família. O administrador da S. José Pneus faz um périplo pelas mais de cinco décadas de história da companhia que lidera com os irmãos.
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Não se consegue resumir 57 anos de história numa entrevista. Nem era suposto. Mas consegue sentir-se o peso da história nas palavras de Luís Aniceto, que gere, com os irmãos, José e Helena, os destinos da empresa fundada a 28 de março de 1966 pelo seu pai: José Abrantes Aniceto.

Referência incontornável na distribuição de pneus a nível ibérico, a S. José Pneus tem nas marcas BKT, Semperit e Goodride, cada uma com o seu posicionamento e oferta específica, alguns dos ex-líbris.

Em 2019, a empresa liderada pelo “clã” Aniceto virou mais uma página na sua já longa história, com a mudança de instalações para um lote com 52.000 m2 de área. O seu stock de 300 mil pneus deve-se à capacidade de armazenamento total de 32.000 m2.

No tom cordial, pausado e ponderado que o caracteriza, Luís Aniceto faz um périplo pelas mais de cinco décadas de história da companhia que lidera com os irmãos. Não esconde o orgulho que tem na empresa e deixa o coração falar sempre que se menciona o nome do fundador.

A 28 de março de 2023, a S. José Pneus apagou as velas dos 57 anos. Mudam-se os tempos, mas o foco na satisfação do cliente, a ética e o profissionalismo com que a empresa encara a sua atividade mantêm-se. Sente-se realizado com o “império” que ajudou a erguer?

Creio que “império”, ainda que esteja entre aspas, é uma palavra demasiado forte. Se me perguntar (e digo isto sem qualquer falsa modéstia, atenção), se me sinto realizado pelo ponto atual onde está a empresa, sim, sinto, naturalmente. A S. José Pneus tem um grande historial, tem vindo a evoluir e impõe-se no panorama nacional como sendo, provavelmente, o maior distribuidor de pneus.

Temos um projeto que, cada vez mais, passa, também, por sermos uma empresa de referência na distribuição ibérica de pneus. E mantemos esse objetivo. Continuo, como antes já estava, aliás, orgulhoso da obra construída por todos nós (administração e colaboradores), com a ajuda, claro está, dos clientes. Sem eles, não teria sido possível chegar onde chegámos.

Ainda se lembra bem do tempo em que a atividade principal da empresa era a recauchutagem, ao mesmo tempo que também prestava assistência técnica aos clientes, em Cantanhede?

Comecei a trabalhar na empresa em 1978. Fará, em novembro de 2023, 45 anos desde que cá estou. Lembro-me perfeitamente. Na altura, viviam-se tempos muito difíceis. Passámos por uma grande crise. Os anos 80 foram muito complicados.

Com a entrada da segunda geração a ajudar o meu pai, sempre nos empenhámos arduamente para elevar o nível da empresa, firmes no nosso objetivo de melhorá-la.

Check-up Media Luís José Helena

Naturalmente que, na altura, o foco era algo diferente e tinha a ver, principalmente, com a parte da recauchutagem. Introduzimos, à época, algumas coisas diferentes, nomeadamente a importação de carcaças de camião (recauchutávamos e vendíamos o pneu completo). E, isso, nos anos 90, era o principal foco da empresa, tendo sido crucial para subir do nível em que estávamos.

Em 1996, conseguimos mudar de instalações. A empresa saiu do espaço que ocupava, ao fundo da casa dos meus pais, no centro da cidade, e passou para aquele que foi o nosso primeiro edifício da zona industrial de Cantanhede. Lembro-me perfeitamente do quanto se trabalhou para isso. Todos nós trabalhámos muito. E quando digo todos, é na verdadeira aceção da palavra.

Sente que a empresa, na procura incessante por ser melhor a cada dia que passa, continua a honrar na plenitude o lema (“Confiança absoluta”) criado pelo seu fundador, José Abrantes Aniceto?

Perfeitamente. Sempre tivemos essa frase como lema. Frase essa que se retirou, aliás, da primeira página de publicidade que o meu pai fez num jornal, em 1967. Muitos anos depois é que essa publicidade nos chegou às mãos. Mas revimo-nos logo nesse lema. Que significa transmitir às pessoas uma confiança, até pessoal, em toda a nossa forma de estar e de trabalhar.

E é isso que, ainda hoje, continuamos a ter na empresa de diferente, eventualmente. Queremos mostrar sempre o lado pessoal e cordial, com o objetivo de contribuirmos para ajudar os clientes.

Do que é que mais se orgulha na empresa que lidera juntamente com os seus irmãos, José e Helena?

Do facto de as pessoas terem uma boa opinião sobre a ética e a seriedade com que a família é conhecida, bem como o profissionalismo que sempre procurámos imprimir na nossa forma de estar.

Sempre debaixo desta missão, que passa, no fundo, por conseguir fazer evoluir a empresa, que é, hoje, uma referência nacional e ibérica. É essencialmente isso que nos orgulha mais.

Check-up Media Luís Aniceto S. José Pneus 3

Que características mais valoriza nas pessoas que consigo trabalham? Considera-se um “patrão” exigente?

Desde logo a honestidade, a transparência e a forma de estar que se coadune com os valores da empresa. Isso é absolutamente fundamental. Depois, o empenho. Esperamos de quem connosco trabalha o mesmo empenho que nós, enquanto administradores, aplicamos.

Se isto é exigência, então, sim, sou exigente. Mas diria que a exigência é cada um superar-se e tentar ser melhor a cada dia. E, sobretudo, ter “face” para falar seja com quem for.

A BKT é um ex-líbris da S. José Pneus, marca cujos produtos têm sido amplamente galardoados. Como começou a relação com a multinacional indiana?

Começámos a trabalhar com a BKT quando ainda não éramos importadores da marca. Na altura, havia um pequeno importador local. Mas conhecíamos bastante bem o produto (tínhamos já muito know-how no negócio dos pneus porque dispúnhamos de recauchutagem e de um posto de assistência). Em 2005, iniciámos a distribuição com a Semperit e começámos a juntar outras marcas à nossa oferta, que podiam ser úteis e que as pessoas procuravam.

Quanto nos “apareceu” a BKT, com uma linha de catálogo que não era trabalhada pelo importador, analisámos e fomo-nos aconselhando com algumas medidas de pneus, até para fazermos armazenamento. Mas a nossa dinâmica não tinha nada a ver com a do importador da marca na altura, que não era uma empresa muito focada no negócio de pneus, na verdade.

Em 2007, procurámos o contacto com a multinacional indiana, que, na altura, mostrou um nível de exigência muito grande. Mas conseguimos afirmar-nos e demonstrar que tínhamos capacidade para distribuir toda a gama de pneus BKT, coisa que o importador que existia não fazia.

A BKT era, já na altura, uma empresa ambiciosa, que queria crescer, ter gama e mostrar uma oferta completa. E nós fomos ao encontro desse projeto. Foi-nos pedido um elevado número de contentores (10) para fazermos a primeira importação. O impacto inicial foi forte, mas quando colocámos a primeira encomenda, vimos que resultou no dobro (18 contentores) em relação aquilo que a marca exigia.

Porquê? Porque queríamos apostar no projeto e mostrar que tínhamos intenção de trabalhar a gama toda para dar ao mercado tudo aquilo que lhe fazia falta. A BKT percebeu que estava a trabalhar com uma empresa que sabia o que estava a fazer e que tinha os objetivos bem definidos.

Depois, em 2012, foi-nos apresentada a possibilidade de fazermos a distribuição da BKT também em Espanha. A marca já nos conhecia, estava por dentro da nossa dinâmica e sabia o que teria de fazer. O mercado espanhol era extremamente difícil. Mas entrámos. Passámos a ter a primeira marca de pneus que ia de Portugal para Espanha, numa altura em que todas as outras faziam o percurso inverso. E, isto, também nos deixa orgulhosos.

O acordo de exclusividade celebrado, este ano, com a Prinx Chengshan permite à S. José Pneus distribuir a Fortune na Península Ibérica. A gama completa e as soluções transversais que a marca apresenta em vários segmentos pesaram na decisão?

Tal como referi anteriormente, a partir de 2012 começámos a fazer a distribuição ibérica da BKT. Ao fim de 10 anos, verificámos que a nossa empresa ganhou bastante dimensão e foi evoluindo, tanto em Espanha como em Portugal. Achámos que fazia sentido olhar para o mercado a partir de uma perspetiva ibérica, como um todo, e não de forma isolada.

Quando nos apareceu a possibilidade de a marca Fortune passar a ser distribuída a nível ibérico, entendemos que ia ao encontro dos nossos objetivos. Já tínhamos começado a fazer uma estratégia inicial de abordagem ao mercado em pneus de turismo e de camião em Espanha, portanto encaixava-se perfeitamente no nosso propósito.

A gama da Fortune era (e é) interessante (automóveis, SUV, veículos comerciais e camiões), estava dentro daquilo que era a nossa oferta em termos de segmentos e achámos que era muito compatível. Mas temos a noção de que o mercado de pneus consumer e de camião em Espanha é muitíssimo grande. Vamos ver se conseguiremos ter êxito. Não vai ser fácil, temos plena consciência disso, mas temos vontade.

Goodride e Semperit são outras marcas nas quais a S. José Pneus aposta forte…

Sem dúvida. A Semperit foi a marca com a qual começámos o projeto de distribuição de pneus em Portugal, na altura GES (Grupo de Especialistas Semperit). Foi, digamos, o “embrião” da distribuição de pneus na S. José, que, até então, não fazia nem sequer aquilo que, na altura, se chamava a revenda de pneus aqui na zona. Dispúnhamos de recauchutagem e tínhamos o posto de assistência, através de outra empresa.

A Semperit é-nos muito querida, porque foi o início. E, como tal, sempre a acarinhámos e procurámos dar-lhe grande destaque. Nomeadamente em camião, continua a ser uma marca de referência no segmento quality em Portugal.

Quanto à Goodride, foi a primeira marca asiática com que começámos a trabalhar em pneus consumer. É uma marca à qual somos muito próximos e temos vindo a desenvolvê-la cada vez mais. A Goodride tem uma ligação muito forte à S. José. O projeto Goodride não concorre com o projeto Fortune. Até porque as formas de trabalhar das duas são distintas. De qualquer modo, ambas estão, efetivamente, muito próximas do nosso leque de clientes.

A combinação eficaz entre logística interna e rede de parceiros logísticos permite à S. José Pneus apresentar-se como a escolha ideal para todos os clientes e anunciar a oferta mais diversificada do mercado. Sente que o setor reconhece estas valências?

Sinto. A partir de 2019, com a mudança para as novas instalações, alterámos o paradigma na empresa. Passámos a dispor de uma capacidade de armazenamento que não tínhamos até então e que nos inibia de poder crescer e de ter oferta. Com esse passo, aumentámos muito a nossa gama e os clientes começaram, rapidamente, a aperceber-se que passámos a ter uma oferta ainda mais diversificada.

Se, até aí, tínhamos uma gama de pneus fora de estrada (agroindustriais) que era a mais abrangente do mercado, a partir dessa altura passámos a poder dispor, nos pneus de turismo, de uma oferta muito superior (que em camião já tínhamos), seja em tipologias de pneus ou em medidas e homologações para cada marca, apostando bastante na alta gama, incluindo pneus de elevadas prestações e específicos para veículos elétricos. O mercado foi apercebendo-se disso e, hoje, é perfeitamente reconhecido o lema que temos na distribuição: “O pneu que precisa, a S. José tem”.

As novas instalações inserem-se num lote com 52.000 m2 de área, que incluem um armazém com 25.000 m2. A empresa é como o universo, que está sempre em expansão?

Check-up Media Luís Aniceto S. José 1

(risos). Efetivamente, quando inaugurámos, no dia 5 de outubro de 2019, o espaço onde nos encontramos, passámos a ter o dobro de área. E, na altura, achámos que seria suficiente para acompanhar o crescimento do mercado.

Mas surgiu uma pandemia que ninguém tinha programado e que foi, porventura, uma oportunidade, uma vez que a distribuição de pneus mudou, concentrando as vendas menos nas marcas enquanto distribuidoras e mais no mercado dos distribuidores puros propriamente ditos, fruto da capacidade de armazenamento muito superior, que as marcas não podiam ter.

Isto levou à possibilidade de atingirmos um crescimento maior do que era suposto. De tal modo que, três anos depois, em 2022, tivemos necessidade de aumentar em 5.000 m2 o armazém, uma vez que o anterior estava completamente esgotado.

Esses 5.000 m2 não eram suficientes, mas foram os possíveis, até porque atingimos o limite da capacidade construtiva do lote. No conjunto de todos os armazéns, até porque continuamos a dispor dos antigos, temos 32.000 m2.

Queremos sempre melhorar. O crescimento pode acontecer, é natural e será sem pressa. Acima de tudo, sem ter esse crescimento como objetivo. Não corremos atrás de um crescimento. Corremos, sim, atrás de uma melhoria contínua que, eventualmente, se pode traduzir num crescimento fruto da solicitação do mercado. O crescimento será sempre uma evolução natural e uma consequência face ao aumento da procura por parte dos clientes.

Stock de 300 mil pneus, capacidade de armazenamento total de 32.000 m2, 25 cais de carga/descarga. O que diria o seu pai, José Abrantes Aniceto, se fosse vivo, perante estes números?

Não tenho dúvida nenhuma de que o meu pai teria muitíssimo orgulho do ponto onde a empresa, hoje, se encontra. Da forma como a família e a empresa são vistas no mercado, com seriedade (algo que não tem preço), do bom relacionamento que existe entre a gestão e todos os colaboradores e fornecedores. Infelizmente, não conseguiu assistir a tudo. Esteve presente na compra dos primeiros terrenos, portanto sabia o que perseguíamos.

A construção das novas instalações foi um processo moroso, uma vez que tivemos de juntar 23 terrenos para fazer um lote com 52.000 m2. Nós é que procedemos à expansão da zona industrial onde nos encontramos hoje.

Check-up Media Luís Aniceto S. José 2

Foi um trabalho bastante árduo. Em 2019, na inauguração, fizemos uma homenagem ao meu pai através do descerrar de uma placa evocativa do seu nome. Mais tarde, a Câmara Municipal de Cantanhede atribuiu à rua o nome de José Abrantes Aniceto.

A solidariedade faz parte do ADN da S. José Pneus. Com que sentimento abraça as causas humanitárias e sociais em que se envolvem?

Tem muito a ver com o ADN que nos foi transmitido pelos nossos pais. Devemos sempre olhar para o lado, olhar para os outros. Não podemos estar bem e não ajudar quem possa necessitar. A solidariedade é um dos valores que defendemos e faz parte do nosso código genético.

Temos vindo a colaborar com muitos serviços de assistência social, seja no apoio a crianças desfavorecidas, seja a ajudar pessoas com doenças oncológicas e respetivas famílias. A Obra do Frei Gil, a Associação Acreditar e as várias entidades de apoio desportivo e social do nosso concelho, são alguns exemplos.

Depois, a Bolsa de Mérito, que conta já com três edições (2021, 2022 e 2023). É uma forma de proporcionarmos a alunos carenciados a possibilidade de ingressarem no Ensino Superior. Tudo para ajudar Portugal a alcançar aquilo que mais precisa: qualificação.

A instalação de painéis fotovoltaicos em 2021 e 2023, um projeto em modelo de autoconsumo que visa reduzir a pegada ecológica, demonstra que a sustentabilidade para a S. José Pneus não é uma palavra vã?

Precisamente. Este ano, instalámos mais 850 painéis fotovoltaicos, que se juntam aos aplicados em março de 2021, totalizando 1.500 painéis. Passámos a ser produtores de eletricidade nas duas instalações, quer na parte da recauchutagem, quer no armazém logístico. No conjunto, dispomos de cerca de 600 kVA instalados.

Injetamos muita corrente elétrica na rede, até para colmatar a necessidade que temos de consumir eletricidade durante a noite. É uma forma de contrapor ao consumo. O nosso objetivo é contribuir, de forma ativa, para proporcionar um futuro melhor para as gerações vindouras. Nas nossas instalações, contamos ainda com pontos de carregamento para veículos elétricos.

Pensa muito na sucessão dentro da empresa ou prefere nem ouvir falar do dia em que tiver de retirar-se?

Penso muito nisso. É a evolução natural da vida e das coisas. Vai ter de acontecer. Mas espero que seja o mais tarde possível, por razões óbvias (risos). A empresa vai tendo, cada vez mais, uma estrutura autónoma e muito profissional, que não depende já tanto dos sócios, como aconteceu no passado.

A minha maior preocupação é criar uma boa estrutura capaz de ajudar a geração vindoura a continuar a levar a empresa para a frente. Naturalmente e consequentemente, isso significa que essa estrutura tem, também, de ir começando a fazer a transição entre os sócios que continuam a trabalhar e o futuro. E, isso, vai acontecer de uma forma natural, progressiva e sem dor, cremos nós (risos).

A tendência aponta para que os sócios sejam, cada vez mais, um órgão de cúpula e que o funcionamento da empresa passe a ser assegurado pela tal estrutura profissional. Encaro isso com naturalidade. Até porque estou à espera de saber quando terei direito a descansar mais do que aquilo que, hoje, descanso.

A empresa ganhou uma dimensão tal, que não pode ter apenas uma gestão familiar. Tem de ter uma gestão profissionalizada também. Passo a passo isso está a acontecer. A empresa, hoje, já funciona perfeitamente sem a nossa presença.

Mas estamos a enriquecer a estrutura. Já existem pessoas da terceira geração da família a trabalhar connosco. No fundo, trata-se de aplicar o ADN e os valores familiares, que não se podem perder, a uma estrutura mais profissionalizada e mais vertical.

 

 

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