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“Mercado laboral – o desafio”

Num contexto económico em grande mutação (e em grande velocidade) ouvimos, várias vezes, algo como “não há ninguém para trabalhar” ou, bem pelo contrário, “não consigo contratar ninguém porque auferem um nível salarial muito elevado”.

Nesta conjuntura, vivem-se duas realidades: o mercado menos qualificado (onde há excesso de oferta pela total desregulação da imigração) e o mercado dos quadros médios e superiores. Neste último caso, basta ver o estado da saúde (faltam médicos e enfermeiros), da justiça (nunca se formaram tão poucos magistrados), da educação (faltam professores em todo o país) para sentirmos na pele que algo está mal.

Se quisermos apenas falar das empresas privadas, o cenário não é melhor: os nómadas digitais não são apenas aqueles que decidem vir viver para Portugal. Há cada vez maior predisposição para que os jovens qualificados se tornem candidatos de multinacionais que privilegiam o trabalho remoto com uma remuneração bem mais elevada, o que, rapidamente, tem levado a que seja cada vez mais difícil encontrar “talento” ou captar a sua atenção para as empresas que requerem trabalho presencial ou que, mesmo com a versatilidade laboral/digital, não conseguem competir com o nível salarial proposto por multinacionais não estabelecidas no nosso país.

Numa opinião pessoal, existem demasiados fatores que, de forma diversa mas objetiva, contribuem para este novo paradigma: as pequenas e médias empresas portuguesas terão cada vez mais dificuldades em captar mão de obra qualificada ou altamente qualificada, tudo devido a que os fatores do parágrafo anterior levam a que o nível salarial atual no mercado esteja muito acima da realidade das nossas PME, até porque a eventual contratação de um novo recurso com um vencimento desproporcional aos restantes criará clivagens muito difíceis de contornar.

Para além disto, existe ainda um perigo adicional: se não “entram” pelo vencimento, o mercado procura o que está “lá dentro”, bastando, para tal, aliciar os seus recursos com melhores condições para que o problema ainda se agrave mais e onde, por vezes, trabalhadores formados desde tenra idade nas empresas e crescendo profissionalmente nas mesmas “saltam” em busca de uma vida melhor, algo que é, absolutamente, legítimo.

Não existe uma fórmula mágica para resolver esta problemática. Se, por um lado, as folhas salariais poderiam resolver toda esta conjuntura (pagando mais internamente retendo o atual staff e conseguindo, assim, atrair novos talentos a preço de mercado), é notório que grande parte das PME nacionais não dispõem de uma margem de contribuição suficientemente alargada para acomodar essas atualizações, ficando, assim, à mercê dos “ataques” das empresas mais sólidas (maioritariamente grandes empresas ou PME multinacionais com maior poderio financeiro) ou deixando amadurecer a sua força de trabalho, não a renovando e perdendo o comboio que a renovação geracional lhe permite.

“Se pensarmos de forma mais abrangente, por que motivo são as empresas obrigadas a pagar aos seus RH as horas de formação não ministradas e quando os trabalhadores mudam de local de trabalho essa mesma formação deixa de ter qualquer valor?”

Se pensarmos um pouco mais além, existe ainda uma possibilidade (cada vez mais remota devido à altíssima taxa de jovens com formação superior) de captar recursos técnico-profissionais e dotá-los de conhecimentos que lhes permitam crescer, formando-os e acompanhando a sua progressão com a evolução salarial necessária.

Mas, neste caso, existe, também, um risco importante: ao custo dessa formação deve ficar associado o custo relativo à sua progressão, dotando-o de um pack retributivo que permita defender-se dos ataques externos. E, isto, por norma, não sucede e merece uma reflexão profunda acerca da formação e “construção” de um recurso qualificado pelas empresas que se “substituem” ao papel das escolas.

Na minha humilde opinião, isto merece um estudo aprofundado, com a intervenção dos vários setores da sociedade, sob pena de o comboio da competitividade ser totalmente perdido e Portugal ficar convertido a um país de agricultura (intensiva e enquanto durar…) e de turismo, alicerçado em mão de obra barata proveniente da imigração e hipotecando o futuro do país, delapidando a captação de impostos e minando a sustentabilidade da Segurança Social.

Este tema também interessa (e muito) ao próprio Estado enquanto prestador de serviços, até porque se fala, atualmente, do custo de formação dos médicos que, concluídos os estudos, emigram ou passam para a esfera privada.

Se pensarmos de forma mais abrangente, por que motivo são as empresas obrigadas a pagar aos seus RH as horas de formação não ministradas e quando os trabalhadores mudam de local de trabalho essa mesma formação deixa de ter qualquer valor?

São imensas variáveis a ponderar por um painel abrangente, da esquerda à direita, dos empresários aos trabalhadores, das associações patronais aos sindicatos, das Universidades aos Politécnicos… se nada se fizer (como é, infelizmente, habitual no nosso país), seguramente que estão reunidas as condições para que tudo… corra mal!

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