Lembra-se do Dieselgate? Volta hoje aos tribunais

Escândalo que abalou a indústria automóvel volta esta segunda-feira aos tribunais com o julgamento de quatro ex-executivos da Volkswagen.
Check-up Media dual exhaust pipes

Quase uma década depois do escândalo que abalou a indústria automóvel mundial, o Dieselgate volta a marcar a atualidade. Esta segunda-feira, quatro ex-executivos da Volkswagen enfrentam a justiça alemã, acusados de fraude no esquema de manipulação de emissões de gases poluentes que envolveu milhões de modelos Diesel.

O caso rebentou em setembro de 2015, quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) revelou que a Volkswagen tinha instalado um software fraudulento em cerca de 11 milhões de veículos em todo o mundo, programado para detetar quando o veículo estava a ser testado em laboratório e, nesse momento, reduzir, artificialmente, as emissões de óxidos de azoto (NOx). Na estrada, os níveis de poluição eram até 40 vezes superiores aos limites legais.

Ponto de viragem

Na altura, o escândalo fez cair o presidente executivo da marca, Martin Winterkorn, que começou a ser julgado em setembro de 2024. Agora, são quatro os antigos responsáveis da empresa que se sentam no banco dos réus, num processo que promete reavivar o debate sobre a ética empresarial e o futuro do automóvel.

O impacto do Dieselgate foi sísmico. Para a Volkswagen, o escândalo resultou em perdas financeiras superiores a 30 mil milhões de euros em multas, compensações e custos judiciais. A nível reputacional, abalou, fortemente, a confiança dos consumidores. Mas os efeitos não se ficaram pela marca alemã. Todo o setor automóvel entrou em reavaliação profunda.

Check-up Media dual exhaust system

“Foi um ponto de viragem”, afirmou, em 2020, Herbert Diess, então CEO da Volkswagen, numa conferência em Wolfsburg, terra-natal da marca alemã. “A indústria percebeu que tinha de mudar, que a transparência e a sustentabilidade não eram apenas estratégias de marketing, mas condições essenciais para a sobrevivência”, acrescentou o responsável.

Testes reforçados

As consequências fizeram-se sentir nas políticas europeias, com reforço dos testes de emissões em condições reais (WLTP), aumento da fiscalização e, mais recentemente, anúncio da proibição da venda de veículos com motor de combustão interna a partir de 2035 na União Europeia.

O escândalo também impulsionou a transição para a mobilidade elétrica. Marcas como a própria Volkswagen, a Mercedes-Benz e a BMW aceleraram os seus planos de eletrificação, com investimentos de milhares de milhões de euros em novas plataformas e fábricas dedicadas aos veículos elétricos.

“O Dieselgate precipitou uma viragem tecnológica que estava a ser adiada”, analisou o especialista em mobilidade Greg Archer, da associação Transport & Environment.

Para muitos, o julgamento que agora começa é mais do que um acerto de contas com o passado. É uma oportunidade para reforçar a responsabilização dos líderes empresariais e lembrar que a confiança do consumidor é um bem frágil.

Enquanto decorre o julgamento na Alemanha, em Bruxelas continua a discutir-se o futuro da mobilidade europeia. E se hoje os motores são mais silenciosos e limpos, é porque o escândalo de 2015 fez muito barulho.

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