A BASF Coatings está de boa saúde e recomenda-se. Apesar do contexto internacional desfavorável, a divisão de revestimentos do “gigante” alemão tem previsto um aumento significativo dos lucros, assim como da quota de mercado.
No caso das marcas premium que detém, R-M e Glasurit, os resultados obtidos são considerados ótimos, sem esquecer a prestação da Baslac, mais direcionada para um segmento médio, quem tem registado um crescimento anual da ordem dos 30 a 40%.
A defender as cores da BASF desde 2009, Vítor Santos, atual responsável técnico, entrou para o setor automóvel no final de 1982. Nesta entrevista, no tom assertivo que lhe é conhecido, responde, sem tabus nem meias palavras, a 15 perguntas.
Da análise ao difícil contexto geopolítico internacional ao futuro da profissão de pintor de automóveis, Vítor Santos deixa, ainda, uma mensagem aos profissionais da repintura.
Agora que já entrámos em 2025, que balanço faz a BASF Coatings do ano passado, apesar do difícil contexto geopolítico internacional?
Apesar do contexto ser, de facto, desfavorável a nível internacional, onde o equilíbrio entre as potencias dominantes passa por uma fase de redefinição, na BASF Coatings, apesar dos custos energéticos estarem em alta, está previsto um aumento significativo dos lucros, assim como da quota de mercado.
E no caso concreto das marcas premium R-M e Glasurit, sem esquecer a Baslac, mais orientada para um segmento médio, que análise faz?
No caso das marcas premium, temos obtido resultados ótimos, obviamente aliados ao crescimento de cada uma das marcas. No caso da Baslac, temos conseguido, principalmente através da nossa distribuição, um crescimento da ordem dos 30 a 40% ao ano.
Como é ser responsável técnico da BASF?
Ora bem, ser responsável técnico não é fácil. Há que gerir a equipa, sempre focada e orientada para o cliente, que é o nosso foco, assim como as formações e toda a logística inerente.
Na formação, está previsto para 2025 um plano bastante ambicioso que iremos tentar cumprir ao máximo. De momento, as viagens são estritamente as necessárias para a formação interna e a dada também pelos nossos parceiros.
Existe alguma tarefa que não goste de realizar a nível profissional?
Absolutamente nenhuma. Ainda que, obviamente, existam tarefas que prefira mais do que outras.
Considera existir falta de profissionais no setor da repintura automóvel? De que forma se poderia promover esta profissão?
Sem dúvida que sim. Há imensa falta de profissionais no setor da repintura. Apesar de, pessoalmente, entender que é uma profissão de futuro. Os incentivos são diminutos, aliados à questão da remuneração.
“Há imensa falta de profissionais no setor da repintura, apesar de entender que é uma profissão de futuro. Os incentivos são diminutos, aliados à questão da remuneração”
Face a isto, não é de estranhar que os jovens enveredem por outro caminho. Com a constante evolução no mundo das tintas, também é necessário que os responsáveis do setor vejam a repintura com outros olhos.
Para onde caminha o setor da repintura automóvel, numa altura em que processos e produtos estão cada vez mais evoluídos?
O setor da repintura é um mercado em constante evolução, quer a nível tecnológico quer ambiental. Sobretudo neste último, onde, cada vez mais, os consumos são menores, os tempos de processo são mais reduzidos e as ferramentas são mais eficazes. E, sem dúvida alguma, caminhamos, a passos largos, para a digitalização.
A Agilis, da R-M, e a Série 100, da Glasurit, foram as novidades mais recentes apresentadas na expoMECÂNICA 2024. Quer falar-nos um pouco sobre elas?
As linhas mencionadas são gamas baseadas na sustentabilidade e rentabilidade, que significa um imenso salto tecnológico, quer a nível de rentabilidade, quer a nível ambiental.
Neste momento, o máximo de VOC não ultrapassa os 250 g/l, ou seja, 40% abaixo do limite, tendo mesmo cores prontas a aplicar que não ultrapassam os 80 g/l.
Em tempos de processo de aplicação, conseguimos, também, reduzir em 50%, o que faz baixar os custos energéticos, assim como o consumo de produto.
São linhas já maduras em alguns países, que, por estratégia da empresa, só agora foram lançadas em Portugal. Já existem mais de três mil oficinas com ambas as linhas a nível mundial.
A literacia digital na área da repintura automóvel é baixa ou situa-se num nível razoável?
Considero que é baixa, tendo vindo a aumentar nos últimos anos. Tal deve-se à idade dos pintores, que é cada vez maior, e devido à inexistência de incentivos à profissão.
Na BASF, a realidade digital está a aumentar a olhos vistos, tendo a empresa investido seriamente nesta área, principalmente nos dois últimos anos.
Considera que as ações “Best Painter Contest” e “WorldSkills”, patrocinadas, respetivamente, por R-M e Glasurit, marca a diferença no setor?
Sem dúvida alguma. Fomos inovadores neste aspeto e as ações marcam a diferença, assim como contribuem para melhorar a imagem da profissão e torná-la atrativa aos jovens, sendo um exemplo seguido por outras marcas premium.
Qual será o grande desafio da BASF Coatings para 2025?
O grande desafio da BASF Coatings será aumentar a sua quota de mercado em Portugal, passando a ser líder neste setor competitivo. Estamos confiantes que vamos atingir esta meta nos próximos anos, pois temos uma equipa profissional e produtos inovadores no mercado.
“O grande desafio da BASF Coatings será aumentar a sua quota de mercado em Portugal, passando a ser líder neste setor competitivo”
Trabalha na área “mais colorida” do aftermarket automóvel. Quer revelar-nos o seu percurso profissional até chegar à BASF?
De todas, esta será a resposta mais fácil… Comecei nas oficinas em finais de 1982 e interrompi para ir para a Alemanha estudar. Quando regressei, dirigi-me, obviamente, para as oficinas.
Tendo passado por diversas áreas, aquela que mais me atraiu foi, sem dúvida, a repintura, onde trabalhei em algumas oficinas e aprendi imenso, devido às oportunidades que me foram dando, aliadas à vontade de evoluir.
Em 1990, com um sócio, estabeleci-me por conta própria, com uma oficina onde chegámos a ter cerca de 20 colaboradores. Devido ao facto de as instalações se situarem na zona da Parque Expo, tivemos de sair e fechar as instalações em virtude da construção da Expo 98.
A seguir, fui convidado pelas tintas Cin para ingressar nos quadros técnicos para a área da repintura automóvel. Em 1999, comecei a dar formações aos clientes em Barcelona, com o apoio da BASF. Até que, em 2009, ingressei nos quadros da BASF.
Como gostaria que o setor da repintura fosse daqui a 10 anos?
Gostaria que fosse uma arte mais reconhecida e, principalmente, mais valorizada.
Teme um decréscimo do negócio no dia em que os carros autónomos circularem nas nossas estradas, caso ocorram, como indicam vários estudos, menos acidentes?
Caso venha a verificar-se esse cenário, o decréscimo de acidentes pode ser uma realidade para a qual devemos estar preparados. Ainda assim, penso que a nossa área de negócio deverá manter-se rentável.
Considera ser difícil, hoje, montar uma oficina de colisão, tendo em conta o cumprimento das normas ambientais e o investimento em equipamentos?
Montar e gerir uma oficina de colisão é uma tarefa que envolve uma série de desafios e requer um conjunto diversificado de habilidades e planeamento estratégico.
Desde escolher o local ao investimento em equipamentos, recursos e ao cumprimento de todas as normas legais, não é, de todo, fácil, exceto aos grandes grupos, que já estão consolidados no mercado.
Quem pensa em abrir uma oficina, aconselho a que seja inovador para se poder diferenciar no mercado. E recomendo que faça, em primeiro lugar, um estudo de mercado, avaliando, principalmente, o retorno financeiro.
Que mensagem final gostaria de deixar aos profissionais da repintura?
Gostaria que os pintores insistissem na sua valorização profissional e, principalmente, na digitalização, que é o futuro para onde caminhamos. Atualmente, existem cursos onde podem aprender imenso ou aperfeiçoar as suas capacidades.