Para a GravityPaint, não basta fazer parte do “jogo”. Pretende muito mais do que isso. Indicar sentidos, ajudar a definir as cores do futuro do negócio da repintura, sem nunca perder a nitidez das suas causas. Ou o seu brilho próprio.
“Queremos estar no mercado de uma forma positiva”, diz Mário Rui Ferreira, em entrevista ao Check-up. Mas esta frase do responsável da empresa que nasceu há cinco anos, na Venda do Pinheiro, é mais do que um título. É uma tomada de posição inovadora no mercado.
Durante a pandemia, a empresa aumentou a sua capacidade e eficácia logística no armazém, contratou e inaugurou uma loja em Torres Vedras, para estar mais próxima dos muitos clientes que conta na zona oeste.
Juntamente com o seu sócio, Nuno Neves, sabem para ondem querem ir. E não querem ir sozinhos. Faz mais sentido acompanhados. Exemplo disso, é o “Fair Paint” que promoverão dia 19 de novembro, distinguindo e premiando três profissionais que, mesmo pertencendo aos quadros de empresas concorrentes, tenham demonstrado “respeito, admiração e uma postura positiva em relação à nossa empresa, nos últimos dois anos”, revela. Mas voltemos um pouco atrás na história da GravityPaint e comecemos pelo passado recente.
Como é que uma empresa ainda nova, que entrou agora no quinto ano, tem enfrentado uma situação tão complicada, com uma pandemia à solta e com diversos confinamentos. Tiveram de adaptar a estratégia para superar estes dois anos tão difíceis?
Foram realmente tempos de grande incerteza, bastante desafiantes e que, no fundo, obrigaram-nos a ir um bocadinho mais além do que era a dinâmica normal da empresa, que já estava muito bem definida, em termos de modelo de negócio e de trabalho, pré-covid.
Os primeiros meses, talvez mesmo o primeiro ano, arrisco dizer, foram duros. Tivemos de fazer ajustes na abordagem a alguns clientes – não o automóvel, mas do setor de aeronáutica, um dos mais afetados e que até tinha uma faturação interessante dentro da empresa. A faturação, nesta área, caiu para zero e obrigou-nos a repensar produtos e equipamentos.
Apostámos, também nessa altura, nos EPI (Equipamento de Proteção Individual), nas máscaras, nos fatos, nas luvas, o que acabou por dar-nos uma certa compensação do que foram as quebras de vendas durante esses tempos.
Prevíamos que a pandemia não iria ser só uma dúzia de meses, porque íamo-nos mantendo em contacto com os nossos fornecedores no estrangeiro. E pela informação que eles nos iam dando, íamos fazendo uma ponte para Portugal: se lá está dentro destes moldes, muito provavelmente também aqui passaremos pelo mesmo.
Creio que o pior já passou. Felizmente, mantivemos os postos de trabalho todos. Inclusivamente, contratámos mais duas pessoas durante o mês de setembro deste ano.
E investiram neste período. Uma nova loja em Torres Vedras e a ampliação do armazém na Venda do Pinheiro…
Sim, sim. Este armazém tem cerca de quatro vezes mais área do que tinha o anterior. Era realmente uma necessidade que tínhamos para poder crescer um pouco mais. Para poder, também, dar melhores condições a quem cá trabalha. E a nível logístico é completamente diferente.
A equipa é composta, atualmente, por quantas pessoas? E para que funções foram as contratações?
Sete. Contratámos mais uma pessoa para a logística e outra para a nova loja, que funcionará com dois colaboradores a dar apoio direto na loja, ao balcão e, também, na rua, às solicitações que surjam.
Temos uma viatura e um colega que, rapidamente, se desloca e faz uma leitura de uma cor, uma entrega ou esclarece alguma dúvida técnica que possa aparecer. Todos eles estarão habilitados a prestar esse serviço e esse acompanhamento.
A nova loja é, também, uma forma de estarem próximos dos clientes da zona oeste…
Certo. Todos os nossos clientes são muito importantes. Desde o mais pequeno ao maior, seja a que nível for. De estrutura, de compras. Respeitamos todos da mesma forma. Todos foram – e são – importantes desde o nascimento da empresa e durante todo este tempo de atividade.
Demos alguma prioridade à zona oeste, porque tem um grande potencial ao nível do automóvel e da indústria do metal e da madeira. A área da construção também tem crescido brutalmente. E queremos estar perto dos clientes. É uma das nossas bandeiras.
Outra das bandeiras é a qualidade do vosso apoio técnico…
Acho que sim. Apesar de não termos um técnico exclusivamente para essa função, a nossa equipa comercial tem essas duas vertentes. Tem a vertente comercial e a vertente técnica.
Sente-se confortável e habilitada para fazer aplicações e demonstrações, como fazemos semanalmente e quando é necessário. Não somos tão bons como os profissionais com quem lidamos nas oficinas, mas também acho que não envergonhamos.
Dentro da vossa atividade, neste momento, quanto representa a área automóvel?
Representa entre 65 a 70%.
E a tendência será para crescer?
A tendência será para crescer, fazendo aqui alguns ajustes e mudanças de dinâmica. É um setor que está a atravessar uma fase muito exigente a todos os níveis. A principal – e já venho a falar nisso há uns anos – tem a ver com a mão de obra. Tem vindo não só a escassear, mas, também, tal como nós, a envelhecer.
Já não tenho 30 anos. O profissional da repintura que tinha 40 anos vai envelhecer e não está a haver uma passagem de geração. Nem 2%. É o que vejo, diariamente, nos meus clientes e no mercado.
Confesso que é o que me pode assustar um pouco mais, porque, ao nível do profissionalismo e da qualidade do serviço prestado, do conhecimento que tenho, de alguns países onde já fui e das oficinas que visitei, creio que, em termos europeus, estamos num patamar superior ao nível da qualidade final.
Em Itália, onde estive há pouco tempo, passei por várias oficinas e todas elas me diziam que quando sabem que há um pintor português a trabalhar por perto só descansam quando o levam para ao pé deles. Porque sabem que há muita qualidade na mão de obra portuguesa. A mesma coisa acontece em Portugal.
O que se pode fazer para contrariar esta falta de mão de obra na repintura?
É um pouco difícil. Não sei se tem a ver com o facto de a profissão ser pouco digital.
Já foi menos…
Já foi menos e a tendência é para ser ainda mais. Porque, antigamente, tínhamos o leitor das microfichas para ver as cores. Hoje, já temos o computador. Já temos as aplicações no telemóvel. Os catálogos de cor já estão a entrar em desuso e em desatualização porque temos o espectrofotómetro com que fazemos a leitura da cor do carro.
Em dois, três minutos, estamos prontos para pintar. O processo de leitura manual das lamelas ainda demoraria muito mais tempo. As atualizações software, tudo feito online, à hora… Realmente é um pouco estranho.
Na minha opinião, não vejo qualquer tipo de incentivo ou de apoio para que isso seja invertido, nomeadamente na parte da colisão. Falamos da pintura, mas temos de associar à parte da chapa, porque uma não vive sem a outra. Não há incentivos à captação de mão de obra mais jovem que possa olhar para a categoria de pintor automóvel (ou de técnico de reparação de carroçarias) de uma forma diferente.
Muitas vezes, até está associado a uma profissão suja, que lida frequentemente com produtos químicos. Não é totalmente mentira, mas as coisas, de há 20, 30 anos para cá, tiveram uma evolução brutalíssima. Não só ao nível digital, das cores, dos computadores, mas, também, dos equipamentos. Hoje, estamos a lixar uma carroçaria de um carro e temos a lixadeira com o devido prato, com a lixa e o aspirador a trabalhar e zero pó no ar.
Vamos fazer a lixagem manual… Temos um bloco, com a sua aspiração, ligamos o aspirador, e não há pó. Se estivermos a sorte de trabalharmos numa oficina com uma área de aspiração, melhor ainda: o ar que entra e está em contacto com o profissional é, constantemente, renovado e filtrado.
É fantástico. As máscaras tiveram, também, uma evolução muito interessante. Existem máscaras completas, já com sistema de arrefecimento do ar, humidificação, um conforto brutal. Mas. mesmo assim, há um estigma em relação à profissão.
A mensagem não está a passar…
Não, não está. E posso dizer-vos, em primeira mão, que, no mês de novembro de 2021, estarei fora para ver um simulador de pintura automóvel. Um conceito completamente novo. Inovação a todo o nível. Tecnologia norte-americana. Neste caso, até serão dois equipamentos: 2D e 3D. Embora esteja mais inclinado para o 3D.
Apesar de ser um investimento um pouco maior, tem outras características muito mais apelativas. Temos um projeto para isso com as escolas de formação e junto até de algumas entidades governamentais para ver se será aprovado ou não. Porque, de outra forma, não vamos lá. É uma aposta nossa para 2022. Vamos ver como corre.
Inovação, por aqui, a 200%. Claro que é diferente estarmos com uns óculos de realidade virtual e com uma pistola na mão e a ver o carro à nossa frente e a pintar – e dá tudo, consumos, sítios onde caiu menos tinta, onde está mais coberto… eu acho que será o futuro.
Falando de marcas, a Finixa continua a ser uma âncora para a GravityPaint. Quanto representa?
A nível de volume de vendas, a Finixa tem a particularidade de conseguirmos encaixá-la em todos os setores. Temos o automóvel, onde tem um peso maior; na indústria também vendemos bastante; na aeronáutica também estava a consumir muito, mas agora menos. A náutica também consome Finixa. Na construção, é pouco. Mas toca em todos os setores de pintura. Foi o nosso primeiro parceiro.
Entraram já com a Finixa…
Sim, sim. Quando abrimos a empresa, no início de 2017, arrancámos logo com a Finixa, com a Festool e com a R-M. Foram logo os três primeiros.
E a marca própria quando surgiu?
Foi no decorrer de 2018. Demos um pouco mais de ênfase e melhorámos a imagem, registámos a marca a nível europeu. Vernizes, primários, diluentes, alguns esmaltes sintéticos, também, para o automóvel e para a indústria. Um segmento, no fundo, sem tintas, mas de complementos de repintura.
Qual a sua expressão em termos percentuais?
A nível do automóvel, representa uns 10, 11%. Dentro dos 65% das vendas do automóvel, entre 10 a 11% estamos a falar da marca própria. Como é uma gama de produtos com a nossa imagem, também lhe quisemos dar um upgrade de qualidade e um preço competitivo.
Para que quem esteja a gastar o produto com o nosso nome veja a qualidade e se sinta confortável e confiante com o produto. Não é um produto de baixa qualidade. Isso seria impensável.
Do que se orgulham mais de tudo o que construíram nestes últimos cinco anos?
É uma boa pergunta… Nunca me tinham perguntado isso (risos). Acho que é chegar onde chegámos. Estarmos, hoje, com uma posição positiva no mercado. E do nosso trabalho, a todos os níveis: serviço, honestidade, a forma positiva e inovadora de estar no mercado.
Do que mais me orgulho é da mentalidade que a empresa tem e da sua dinâmica de crescimento e de evolução. Tenho, também, muito orgulho nas pessoas que trabalham connosco. Muito mesmo! Sem elas, não tínhamos chegado onde estamos.
São embaixadores da BeActive. Como é que a GravityPaint se envolveu nesta causa?
Pela nossa forma positiva de estar no mercado, como eu falava. O mercado não são só as oficinas, não é só o vender e o comprar, a cobrança e tudo mais. No fundo, estamos inseridos numa sociedade.
Não só de uma forma particular, mas, também, empresarial, acho que devemos estar sempre atentos às necessidades que vão surgindo na sociedade e nas pessoas mais próximas. E até outras um pouco mais afastadas. Na minha opinião, temos o dever de olhar as coisas de outra forma. Há pessoas com problemas graves. Ou que não tinham e de um momento para o outro elas aconteceram. Isso temos feito de uma forma saudável.
Em relação a essa causa… apoiamos deste o início os Iron Brothers. Foi um projeto que veio ter connosco de uma forma indireta, mas pelo qual nos apaixonámos no primeiro minuto. Decidimos logo que íamos ajudar os dois – o Miguel e o Pedro – na luta e na missão que eles têm pela inclusão desportiva e social de crianças e adultos, de jovens e não jovens, com paralisia cerebral, principalmente da APCL (Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa). E temos outras situações em que também temos dado o nosso apoio, o nosso contributo, na medida possível. Temos essa responsabilidade e essa missão.
Querem fazer parte de um todo…
É isso mesmo. Tentamos responder às necessidades sociais que vão surgindo. Não conseguimos ajudar todas, mas temos cumprido a nossa missão de uma boa forma.
O que podemos esperar da GravityPaint nos próximos tempos?
A nível logístico central, armazém, faremos alguns upgrades na separação de material, com os pickings e com um controlo de stock mais afinado.
Nos próximos quatro anos, está prevista a abertura de mais duas lojas. Uma nos arredores de Lisboa e outra em Sintra. São duas zonas onde reconhecemos potencial. Temos bastantes clientes nessas zonas.