Fomos comer uma francesinha ao Porto no R4 E-Tech

Viajar de automóvel 100% elétrico tem muito que se lhe diga. As novas formas de mobilidade estão em constante evolução e, dependendo da viagem que pretendemos realizar, é fundamental planear o percurso com antecedência para que corra tudo bem.
Check-up Media R4 E-Tech

Nesta aventura elétrica, partimos de Cascais tendo a cidade de Vizela como destino para visitar alguns familiares e amigos. Utilizámos aplicações, como a Miio e a Electromaps, para verificar informações fundamentais, como a localização dos carregadores, a velocidades de carregamento, se tinham sido utilizados recentemente – para evitar postos avariados.

Além disso, as apps foram uma ajuda preciosa para verificarmos os preços tendo como base a informação de que o valor a pagar pode variar entre €0,30 e os €0,60/kWh, dependendo da velocidade de carregamento, da taxa de ativação e dos impostos em vigor. A nossa intenção era “fugir” ao máximo aos carregadores nas autoestradas – mais caros e ocupados.

O eleito para esta viagem de três dias e 800 km foi o Renault 4 E-Tech (100% elétrico) na variante mais potente, com uma bateria de 52 kWh e uma autonomia de 400 km.

Os valores máximos que conseguimos em autoestrada rondam os 350 km de autonomia, mas (e há sempre um mas… nestas coisas dos automóveis) é fundamental utilizar o modo de condução “Eco” que não permite velocidades acima dos 115 km/h.

Ou seja, para conseguirmos os 400 km de autonomia anunciados, teria de ser uma viagem de circuito misto, entre estrada “aberta” e um percurso mais urbano.

Check-up Media R4 E-Tech dashboard
Para realizar mais quilómetros e ganhar autonomia, é fundamental utilizar o modo de condução “Eco”, que não permite velocidades acima dos 115 km/h

Uma viagem de carro elétrico gera sempre alguma ansiedade e a nossa cabeça parecia uma calculadora sobre rodas. Durante as férias de verão, o trânsito aumenta exponencialmente nas estradas nacionais.

O nosso primeiro ponto de paragem foi o Fórum Coimbra, a meio caminho do nosso destino, pois é muito central e tem vários pontos de carregamento nas proximidades.

O carregador desta área comercial situa-se na parte superior e funciona bem. A velocidade não é muito elevada (11 kWh), mas o preço a pagar por minuto compensa. Depois de uma refeição ligeira e de uma breve visita ao centro da cidade, regressámos à A1 (Autoestrada do Norte).

O carregamento colocou mais 100 km de autonomia na bateria e decidimos avançar até perto do Porto. O calor aumentava, ligámos o ar condicionado e decidimos ouvir as notícias no rádio para saber o estado dos incêndios, neste que tem sido um ano dramático…

Ai que isto não chega a Vizela…

Ao volante do Renault 4 E-Tech, o conforto é muito aceitável. Materiais de boa qualidade, na nossa opinião o interior do carro até está ligeiramente mais refinado do que quando comparado com o “primo” Renault 5.

A autonomia total aproximava-se dos 100 km quando faltavam percorrer 70 km para chegarmos ao nosso destino. Decidimos não arriscar, até porque não havia garantia de que o posto de carregamento em Vizela estivesse a funcionar e depois…reboque!

Preferimos conduzir com o auxílio do Waze em estrada, mas, a verdade, é que quando chega a altura de tomar este tipo de decisões em andamento, preferimos recorrer ao sistema by Google visível no ecrã do painel de instrumentos de 10” do Renault 4 E-Tech para procurar carregadores.

A opção mais próxima foram os “rápidos” dos Intermarché na saída da autoestrada, no acesso a Espinho. O cansaço e a ansiedade começaram a dar sinais, mas, uma vez mais, optámos por evitar os pontos de carregamento das áreas de serviço da autoestrada, onde já vivemos péssimas experiências financeiras.

A autonomia desta versão com bateria de 52 kWh é de 410 km em ciclo WLTP (norma europeia de medição da autonomia) e, neste caso, a opção de procurar utilizar as patilhas no volante para utilizar a travagem regenerativa regulável (em 4 níveis) não serviu para grande coisa em autoestrada.

O 4 E-Tech é um SUV e, nesta versão, permite uma velocidade máxima de 150 km/h. Para este tipo de viagem chegou e sobrou, no trânsito citadino não se porta nada mal e no momento do arranque acelera dos 0 aos 100 km/h em 8, 2 segundos. Para um automóvel com 4,144 metros de comprimento e quase tonelada e meia (1.462 kg), é bastante aceitável.

Check-up Media R4 E-Tech interior
O interior é espaçoso e os locais para guardar pequenos objetos são variados. O ambiente é jovem mas, ao mesmo tempo, refinado. A capacidade da bagageira é de 375 litros com os bancos erguidos

No segundo dia, tínhamos previsto carregar no posto de carregamento lento em Vizela, mais barato, junto ao centro, mas esteve sempre muito ocupado e a alternativa foi mesmo carregar no semirrápido de 30 kWh do Pingo Doce. Bom tempo e com o carro carregado, visitámos Guimarães. Os consumos médios continuaram a não fugir muito dos 16 kWh/100 km.

O Renault 4 E-Tech revelou-se um bom companheiro de viagem. Não podemos deixar de referir que a versão mais acessível, de 122 cv, inclui uma bateria de 40 kWh e promete cerca de 300 km de autonomia.

Conforto não falta e as costas agradecem. Conduzir o 4 E-Tech é como um regresso ao passado com o futuro no horizonte. O novo modelo tem muito do ADN do modelo que já foi apelidado de precursor dos SUV modernos e que chegou a conseguir um terceiro lugar no Dakar em 1980.

Temos à nossa disposição os sistemas de apoio à condução mais atuais, onde destacamos a assistência à travagem de emergência com deteção de peões, ciclistas e função de cruzamento; alerta de fadiga e de distância de segurança.

Olhámos para o lado, muito trânsito na estrada. O Renault 4 E-Tech, na cor azul nuage, com tejadilho preto, continua a conquistar os sorrisos de quem nos ultrapassa. Alguns dizem adeus, outros acenam e apontam. Quem não se lembra do clássico 4L e da sua caixa “em vareta” de quatro velocidades?

O sistema de infoentretenimento fornece toda a informação necessária para conduzirmos de forma descontraída. O equipamento conta com a ajuda Google, sempre a monitorizar a capacidade da bateria e a autonomia.

No último dia da viagem, fizemos questão de ir almoçar uma francesinha ao restaurante “O Afonso”, conhecido por ser um “mini-museu” gastronómico de homenagem a Ayrton Senna, com miniaturas, capacetes e várias fotografias do famoso piloto brasileiro.

A partir do meio-dia, a fila aumenta. Dezenas de pessoas (portugueses e muitos estrangeiros) confirmam que estamos na presença de uma das melhores francesinhas do Porto quando falamos de procurar uma boa relação qualidade/preço.

Em 2017, o famoso crítico gastronómico Anthony Bourdain esteve no restaurante “O Afonso” e deu a francesinha a conhecer no seu programa na CNN Internacional. A partir dessa altura, o nome deste restaurante passou a integrar os principais guias da cidade do Porto.

A cidade do Porto continua com uma energia e uma luz muito próprias. O ideal é estacionar o automóvel e percorrer os cantos mais recônditos e as tascas mais escondidas, de forma a evitar o turismo em larga escala e os preços para estrangeiro ver…

Procurámos um parque de estacionamento na rua Duque de Loulé, perto da ribeira do Porto, onde fosse possível carregar o Renault 4 E-Tech durante o nosso passeio. Tivemos pouca sorte. Entrámos e retirámos o bilhete, mas os postos de carregamento (os antigos e brancos da Mobi.E) encontravam-se todos avariados…

A opção foi dar um “salto” a uma área de serviço para um carregamento rápido, mas, claro, com prejuízo para a carteira. A manutenção dos pontos de carregamento continua a deixar muito a desejar, como tem alertado, constantemente, a UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos.

Uma boa sugestão para um final de tarde diferente no Porto é, sem dúvida, estacionar e percorrer a pé o interior do parque da cidade, ali a meio caminho entre a Av.ª da Boavista, o Castelo do Queijo e Matosinhos. Aconselhamos uma bebida refrescante e uma tosta no “Soundwich” para descontrair e ganhar coragem para a viagem de regresso.

O preço médio das francesinhas no restaurante "O Afonso" ronda os €14. Convém ir cedo...

Rumo a Lisboa com o Renault 4 E-Tech carregado, a opção foi desviar desta vez em Leiria para carregar a bateria. A nossa intenção era não perder muito tempo e a opção foi o posto de carregamento de uma área de serviço.

Na versão ensaiada, que pode ver nas imagens, Iconic, o preço a pagar é de €40.790. É importante referir que a versão Evolution, de 120 cv, está à venda a partir de €29.500.

Custo em eletricidade

No total, gastámos €70 em eletricidade nos carregamentos (já com IVA e taxas habituais incluídas). Neste tipo de viagens, a escolha dos pontos de carregamento e a hora a que carregamos faz toda a diferença.

Estamos a falar de cerca de 800 km de estrada em três dias de viagem. Se tem um carro a gasolina ou Diesel, para realizar os mesmos quilómetros, a despesa não deverá fugir muito deste valor (desde que não seja um V8 biturbo ou outro carro “guloso”). A poluição será maior, a ansiedade será menor… Como dizia um antigo primeiro-ministro, é fazer as contas.

Duas últimas notas. Primeira: A cidade de Guimarães é visita obrigatória. O centro histórico está repleto de esplanadas e aproveitámos para visitar a igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos, bem como o jardim do Largo da República do Brasil (ver galeria em cima).

Segunda: O Renault 4 E-Tech é mais do que um revivalismo à procura de sucesso comercial. Há semelhança do que acontece com modelos como o bestseller Fiat 500, VW ID. Buzz, e, mais recentemente, 5 E-Tech, também o R4 100% elétrico interpreta o que de melhor podemos encontrar num automóvel retro.

Mais sobre a Renault aqui.

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