Ferramentas e fé: superstições que continuam a viver nas oficinas nacionais

Das moedas coladas ao chão aos carros que “não querem ser arranjados”, há um mundo de rituais silenciosos em várias oficinas nacionais.
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No universo altamente técnico e racional do aftermarket automóvel, seria de esperar que pouco espaço restasse para superstições. Mas a realidade no terreno mostra outra coisa: em muitas oficinas de norte a sul do país persistem rituais discretos, hábitos inexplicáveis e crenças passadas entre colegas de geração em geração.

Algumas práticas são quase invisíveis para quem vem de fora, mas bem conhecidas entre os profissionais. Uma delas, é a colocação de moedas junto à entrada da oficina ou sob o balcão — supostamente para atrair trabalho e manter o movimento constante. Outras superstições envolvem pequenas imagens de santos, como São Cristóvão, frequentemente vistas nos quadros de ferramentas ou junto à receção, colocadas ali “por precaução”.

Não assobiar

Certos comportamentos também são evitados. Há quem considere má sorte assobiar dentro da oficina, mexer em carros com boné virado para trás ou começar o dia com música demasiado alta. Mesmo alguns modelos de automóveis, consoante a experiência passada, ganham fama de “dar azar” e são recebidos com uma dose extra de respeito e cautela.

Em zonas do interior, é ainda comum evitar varrer a oficina ao fim do dia — acredita-se que isso “leva o trabalho embora”. Já em algumas equipas, existe a tradição de dar três pancadas leves no capot antes de um diagnóstico complexo, como forma de “quebrar o enguiço”.

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Estes gestos, embora sem base científica, não são encarados como substitutos da técnica ou da formação, mas sim como parte de uma herança cultural que atravessa décadas. São práticas transmitidas informalmente, não ensinadas nos cursos, mas aprendidas no dia a dia — com respeito, curiosidade e um certo sentido de humor.

Hábitos e símbolos

Curiosamente, a maior parte dos profissionais admite estas crenças com naturalidade. Não se trata de convicções profundas, mas de pequenos rituais que fazem parte do ambiente. E, num setor onde o imprevisto é rotina e o erro pode custar caro, qualquer gesto que ajude a manter a concentração ou a moral da equipa é bem-vindo.

Num tempo de diagnósticos digitais e manuais online, estes gestos quase invisíveis lembram que muitas oficinas continuam, em parte, a ser um ofício humano — feito não só de técnica, mas, também, de hábitos, símbolos e histórias que não vêm nos catálogos.

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