As exportações portuguesas de componentes para automóveis totalizaram 7.900 milhõe de euros entre janeiro e agosto de 2025, o que representou uma quebra homóloga de 3,3% face ao mesmo período de 2024, de acordo com cálculos da AFIA (Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, com base nas informações divulgadas pelo INE.
Em agosto, a retração foi particularmente significativa, com as exportações de componentes para automóveis a diminuir 9,9%. O valor mensal ficou abaixo dos 700 milhões de euros, registando o pior desempenho desde 2015 para este mês.
“Como razões percebidas para a quebra da procura nos principais mercados europeus, temos o abrandamento económico, com retração do consumo e a instabilidade geopolítica”, refere o comunicado.
“Contudo, não podemos deixar de considerar o preço dos veículos elétricos fabricados na Europa, o que é compensado pelas importações, bem como o baixo ritmo de investimento em infraestruturas de carregamento, que são algumas das justificações para os resultados registados no mês de agosto”, acrescenta.
Segundo diz, “a diminuição de compras do mercado dos EUA também concorre para a diminuição da produção europeia. Apesar da queda, o setor mantém a sua relevância, representando 14,9% das exportações nacionais de bens transacionáveis”.

À espera de melhores dias
A Europa continua a “absorver” a esmagadora maioria das exportações de componentes para automóveis, com uma quota de 88,4%, embora tenha registado uma quebra de 3,2% no acumulado até agosto.
Já os mercados de África e Médio Oriente, destacaram-se pela nota positiva, ao crescerem 16,3%. Entre os principais destinos, Espanha manteve a liderança, com 29,1% de quota e um ligeiro crescimento de 1,7%, enquanto a Alemanha, segundo maior mercado, caiu 11,8%, e a França registou uma descida de 1,1%.
Em contrapartida,destaque positivo para os desempenhos da Roménia, com uma subida de 37,9%, e de Marrocos, que aumentou 28,1%. Para José Couto, presidente da AFIA, “estes números confirmam a fragilidade do setor perante um contexto internacional instável e de forte concorrência”.
De acordo com o responsável, “a quebra de quase 10% em agosto é preocupante e deve ser lida como um alerta. Apesar de mercados como Roménia e Marrocos darem sinais muito positivos, a dependência excessiva da Europa deixa-nos vulneráveis”.
O Orçamento do Estado para 2026, entregue na passada semana na Assembleia da República, inclui várias medidas que poderão ter um impacto direto nas empresas, e que a AFIA considera cruciais para a competitividade da indústria automóvel e para o reforço da sua posição internacional.

Medidas apresentadas
Entre as medidas, destacam-se a redução faseada da taxa de IRC, que, em 2026, descerá de 21% para 20%, e a simplificação de processos administrativos. Estas alterações respondem a um dos alertas que a AFIA tem vindo a fazer: a urgência em reduzir os custos de contexto e criar um ambiente mais favorável à iniciativa privada.
O Governo anunciou ainda um reforço da execução dos fundos europeus e do PRR, comprometendo-se a reduzir para 30 dias o prazo máximo de decisão em candidaturas ao Portugal 2030.
Para a indústria automóvel, que vive de fortes investimentos em inovação, digitalização e transição energética, esta medida poderá ser determinante para acelerar projetos e assegurar maior previsibilidade.
“O Orçamento do Estado para 2026 inclui medidas que vão ao encontro de algumas das nossas preocupações, nomeadamente a descida do IRC, a simplificação de processos e o reforço da execução de fundos europeus”, dá conta José Couto.
“Estas decisões podem ajudar as empresas do setor a investir mais, inovar e reforçar a sua competitividade internacional. Contudo, é essencial que as promessas de execução rápida dos fundos europeus e de redução da burocracia se concretizem efetivamente, sob pena de continuarmos a perder terreno nas cadeias de valor globais”, alerta.
Estes temas serão analisados na 12.ª Automotive Industry Week, evento que se realizará de 4 a 6 de novembro, sob o tema
“Thinking Beyond the Transition”. Refira-se que os cálculos da AFIA têm como base as Estatísticas do Comércio Internacional de Bens, divulgadas a 10 de outubro pelo INE – Instituto Nacional de Estatística.
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