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“Estamos a desbravar caminho e entusiasmados com o futuro”, dizem administradores da B-Parts

Manuel Monteiro e Luís Vieira, administradores da B-Parts, acreditam que a “inovação” é a palavra-chave do seu sucesso. Em cinco anos, cresceram 30 vezes.
Check-up Media Manuel Monteiro Luís Vieira B-Parts

A manterem o ritmo de crescimento da portuguesa B-Parts, Manuel Monteiro e Luís Vieira (esquerda e direita, respetivamente, na foto), administradores da empresa, depressa necessitarão de um “sofá” bastante maior.

Nos últimos cinco anos, a empresa especialista em peças usadas para automóveis conseguiu crescer “30 vezes” e ainda conseguiu apoiar dezenas de outros pequenos negócios – fornecedores – a crescerem e a superarem períodos difíceis, como foi o caso da pandemia.

Em entrevista dupla ao Check-up, os responsáveis da B-Parts explicam a forma como este sucesso tem sido um contributo válido para o ambiente: “Por cada peça usada que é aplicada, é menos uma peça nova que é construída”. Além disso, o cliente pode poupar até 70% em relação a uma peça nova e ter a garantia de autenticidade.

Com clientes em mais de 160 países e fornecedores em nove países da Europa (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Itália, Lituânia, Países Baixos e Portugal) e nos EUA, a empresa é responsável pela agregação de peças usadas provenientes de centros de abate certificados (o inventário já conta com 7,5 milhões de peças), e respetiva transação e distribuição. A estratégia futura? Evoluir e crescer, sempre, alimentar novas parcerias e marcar presença em quatro continentes.

O crescimento da B-Parts, nos últimos cinco anos, é digno de registo. Quais foram os principais fatores que impulsionaram essa expansão do negócio?

Manuel Araújo Monteiro (MAM): Nascemos de uma necessidade e esse é o principal fator do nosso sucesso. Os centros de abate funcionavam muito a nível local e era necessária uma plataforma que permitisse que peças no Porto chegassem a um cliente em Lisboa, por exemplo.

Além disso, também não existia, em Portugal, um serviço de digitalização e catalogação de peças usadas. Hoje, o nosso stock supera os 7,5 milhões de itens, o que significa que estamos preparados para responder às necessidades dos clientes que nos procuram.

De que forma tem a B-Parts ajudado pequenos negócios e fornecedores a crescerem e superarem desafios – como a pandemia – nos últimos anos?

Luís Vieira (LV): A B-Parts é uma plataforma digital onde pequenos negócios – centros de abate – podem listar e vender as suas peças. Esta digitalização ajuda os fornecedores a alcançarem um mercado mais amplo, nacional e internacional, sem a necessidade de uma infraestrutura de e-commerce própria.

Check-up Media B-Parts

Durante a pandemia, por exemplo, altura de grande escassez de peças novas, as peças usadas foram tidas em consideração. A B-Parts teve um grande papel na agregação e distribuição das mesmas.

Como avalia a B-Parts o impacto ambiental das suas operações? Pode dar-nos exemplos específicos de como a sua atividade encara a área da sustentabilidade?

MAM: É um grande desafio que temos em cima da mesa – conseguirmos quantificar quanto é que estamos a “poupar” em termos de ambiente ao vendermos uma peça usada. O que sabemos é que, por cada peça usada que é aplicada, é menos uma peça nova que é construída e que isso tem um impacto ambiental significativo.

Além disso, ao reduzir a distância entre a origem das peças e os clientes, a B-Parts está, também, a diminuir a sua pegada ecológica. Quantificar é muito complexo, mas vamos chegar lá.

Como promove a B-Parts a economia circular e quais são os principais benefícios desta abordagem para a indústria automóvel?

MAM: Acreditamos, firmemente, no poder da economia circular. A indústria automóvel é extremamente poluente, mas dar uma nova vida a uma peça significa aumentar o seu ciclo e promover a sua reciclagem.

Na B-Parts, garantimos que as peças estão em boas condições para que sejam reutilizadas. Isto envolve, claro, um processo rigoroso de catalogação, mas cria, também, uma rede eficiente de fornecedores comprometidos com práticas sustentáveis.

Com clientes em mais de 160 países, que estratégias utilizam para responderem, de forma eficaz, a uma clientela tão diversa?

LV: O nosso website está disponível em vários idiomas e temos operadores multi-lingue, o que faz com que nos diferenciemos no apoio ao cliente. O facto de termos stock localizado em vários países europeus e uma operação doméstica nos EUA, permite-nos ainda assegurar tempos de entrega muito curtos e adequados às necessidades de quem nos procura.

Como definiriam, neste contexto, o mercado nacional?

MAM: O mercado português continua a ser o nosso melhor mercado. Foi por aqui que decidimos começar e ainda bem. O mercado entendeu a nossa oferta, o que nos deu confiança para nos expandirmos para o resto da Europa.

LV: O mercado que tem maior expressão é o mercado europeu. Além de Portugal, França, Alemanha, Itália e Espanha estão entre os países com melhor desempenho para a B-Parts.

Check-up Media B-Parts 2
Como escolhem os fornecedores em diferentes países para garantir a qualidade e autenticidade das peças?

LV: O processo de onboarding é exigente, apenas centros certificados e regulados por lei são elegíveis para fornecimento de peças. As peças têm de ter rastreabilidade da sua origem, através do VIN do veículo doador ou aquisição às fábricas.

A qualidade das peças é realizada pelo parceiro, seguindo as nossas guidelines, que passam por uma inspeção visual, testes funcionais e diagnóstico eletrónico, dependendo do tipo de artigo.

Quais foram os maiores desafios que a B-Parts enfrentou ao longo destes anos e como foram eles superados?

MAM: A ambição da empresa é ser uma marca global e os nossos desafios são inerentes a esse objetivo. Temos tido crescimentos muito acelerados, mas para continuar a escalar é preciso reorganizar. Em 2023, reorganizámos toda a área operacional da empresa, tudo o que diz respeito a contacto com clientes ou fornecedores.

A entrada nos EUA está a correr bem, mas foi, também, um desafio. É uma cultura diferente, tanto em termos económicos como de recursos humanos. Foi preciso muito estudo e adaptação para entrar num mercado desta dimensão.

Que tecnologias e inovações adotou a B-Parts para melhorar os seus processos de agregação, transação e distribuição de peças usadas?

LV: Não existia, em Portugal, uma plataforma de catalogação de stock de peças usadas. Esse foi e continuará a ser o maior contributo da B-Parts para a inovação. A nossa tecnologia é toda feita in house e assenta em três pilares base: agregação e normalização do catálogo de peças num portal simples e user friendly; logística transfronteiriça, com apoio de operadores de larga escala, permitindo tempos de trânsito rápidos a um custo reduzido; um serviço de pós-venda especializado. No fundo, a B-Parts veio organizar o setor.

Quais são os planos e metas da B-Parts para os próximos cinco anos?

MAM: Um dos nossos objetivos para o futuro é ter presença em quatro continentes. Ainda não temos definidas as geografias exatas que temos pensadas para os próximos cinco anos, mas é essa a nossa ambição. Em números, queremos garantir um crescimento sempre a dois dígitos até 2030.

Como se posiciona a B-Parts no mercado internacional e quais são os principais desafios e oportunidades nesse contexto?

LV: O mercado das peças usadas está, agora, a dar os seus primeiros passos. Temos alguns países mais avançados nesta corrida, como França, mas a verdade é que há espaço para muitos mais. O potencial de crescimento é enorme e os fabricantes de automóveis estão, agora, a aperceber-se desse facto.

Check-up Media car parts

É, por isso, que a B-Parts se posiciona na linha da frente da inovação e da sustentabilidade no setor automóvel. Estamos a desbravar caminho e isso tanto traz desafios como oportunidades, mas tal não nos assusta. Estamos entusiasmados com o futuro.

Como garante a B-Parts a satisfação do cliente e lida com eventuais reclamações e devoluções?

LV: Uma das grandes vantagens que os clientes da B-Parts têm é, precisamente, a garantia em todos os seus produtos, sempre e quando a montagem das peças seja realizada em oficinas reguladas por lei. Temos ainda um pacote de dois anos de garantia para profissionais do setor, sendo esta uma distinção que temos no mercado, já que o prazo se estende além do estabelecido pela legislação, que indica apenas ano e meio.

A acrescentar, sempre que há um problema com uma caixa de velocidades, por exemplo, além de fazermos a devolução do produto, oferecemos uma compensação financeira referente à mão de obra. Temos ainda uma equipa de Customer Success, dedicada a lidar com qualquer questão de pós-venda. Na B-Parts, cada problema é tratado de forma individual para garantir a satisfação do cliente sem prejudicar os nossos fornecedores.

Quem são os principais concorrentes da B-Parts e como se diferenciam deles?

LV: Ainda não há nenhum país que consiga fazer o que nós fazemos, uma vez que temos uma estratégia de sourcing e uma máquina logística muito bem montada para fazer vendas transfronteiriças.

Há muitos concorrentes em França, por exemplo, mas só operam em mercados limitados. Dito isto, os nossos principais concorrentes continuam a ser as empresas de peças de automóveis novas.

Como pode a venda de peças usadas ter impacto na economia em comparação com o comércio de peças novas, tanto para o consumidor como para a empresa?

LV: Como referido acima, por cada peça usada que é aplicada é menos uma peça nova que é construída. Na ótica financeira, a reutilização traduz-se numa poupança média de 70% face ao mesmo produto novo.

A B-Parts dispõe de alguma iniciativa de responsabilidade social, além da sustentabilidade ambiental?

MAM e LV: Ainda não, mas é algo que gostaríamos muito. Num futuro próximo.

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