Muitos mecânicos conhecem o aperto de uma chave 13, mas ignoram os efeitos de um aperto nas costas ao fim do dia. Trabalhar numa oficina é um esforço físico diário que exige posições desconfortáveis, força repetida e longas horas em pé — e o corpo cobra a fatura.
A ergonomia é uma ciência pouco falada no mundo da mecânica, mas devia estar na caixa de ferramentas de qualquer profissional. Saber proteger o próprio corpo é um investimento com retorno garantido: menos dores, mais energia, menos baixas, mais longevidade profissional.
Nunca improvisar
Um dos maiores “crimes” é trabalhar de forma improvisada. Substituir uma bomba de água com o corpo torcido, trocar amortecedores de cócoras, ou usar o mesmo braço para apertar sempre os parafusos pode parecer inofensivo — mas repetido dezenas de vezes, todos os dias, acelera o desgaste físico.
Pequenos hábitos fazem diferença. Ter tapetes anti-fadiga junto às bancadas de trabalho. Ajustar a altura do elevador consoante a reparação e o técnico. Usar bancos baixos ou almofadados para trabalhar junto ao solo. Fazer pausas curtas para alongamentos ou rotações articulares. Até a escolha de calçado pode aliviar a pressão nas articulações.
Ergonomia é prevenção
Outro ponto esquecido é o transporte de peças pesadas. Levar alternadores ou jantes ao ombro, subir escadas com caixas ou baixar depósitos de combustível sem ajuda são gestos que sobrecarregam coluna, joelhos e ombros. Investir em pequenos equipamentos de elevação ou pedir ajuda a um colega pode prevenir lesões crónicas.
Aos 30, parece fácil aguentar. Aos 50, o corpo já não responde da mesma forma. E numa profissão cada vez mais exigente, tanto na parte técnica como física, cuidar da postura e do bem-estar é, também, cuidar da carreira. Ergonomia não é luxo. É prevenção. É qualidade de vida dentro e fora da oficina.