Poucas coisas são tão frustrantes para os responsáveis de uma oficina como falhas intermitentes na linha CAN: luzes que surgem e desaparecem, módulos que deixam de comunicar por segundos, mensagens de erro sem lógica aparente. O erro clássico é substituir unidades eletrónicas a tentar adivinhar o culpado. A abordagem correta exige método e leitura fria dos sinais.
Resistência da linha
O primeiro passo é verificar terminação e resistência da linha. Com ignição desligada, a resistência entre CAN-H e CAN-L deve rondar 60 ohm. Valores diferentes significam terminação em falta, módulo isolado ou derivação com defeito. Este é o teste base — rápido e indolor — e, muitas vezes, já revela mais do que se espera.
De seguida, é necessário analisar a integridade do sinal. Mesmo sem ferramentas avançadas, observar tensões em repouso e em atividade permite identificar quedas anormais. Se uma unidade começa a saturar a rede, a tensão oscila, a largura de pulso altera-se e a comunicação degrada-se. O ruído eletromagnético de um alternador cansado ou massa deficiente é uma causa recorrente.
Fantasmas digitais
Quando o defeito só aparece em andamento, a técnica mais eficaz é segmentar fisicamente a rede, desligando módulos por blocos para identificar onde nasce o erro. O componente que, ao ser isolado, estabiliza a comunicação, raramente é inocente. Por vezes, não está avariado: pode, simplesmente, estar mal alimentado ou a injetar ruído devido a queda de massa ou chicote danificado.
Outra fonte frequente de intermitências são emendas antigas, conectores com folga ou humidade. O aspeto visual engana — uma ficha aparentemente limpa pode esconder oxidação microscópica. A limpeza química controlada, reaperto e teste de resistência ponto a ponto reduzem noites perdidas a procurar “fantasmas digitais”.
Por fim, nunca se deve esquecer que a CAN é sensível a diferenças de potencial entre massas. Medir quedas de tensão entre massas de módulos diferentes — sobretudo no motor, habitáculo e ABS — ajuda a rastrear irregularidades invisíveis ao diagnóstico tradicional.
