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“Canto muito no carro, mais do que no duche, mas não me lavo lá dentro”, diz Peter De Cuyper

Vocalista dos Barry White Gone Wrong é amante das quatro rodas e até já teve um dos carros da sua vida, um Chevrolet Camaro creme. Só não lhe peçam para passar o volante.
Check-up Media Peter De Cuyper

No início da sua carreira, Peter De Cuyper “apenas” escrevia letras para imaginárias músicas, mas ainda não lhes juntava a sua voz. Foi preciso deixar o seu país de origem, a Bélgica, e rumar a Portugal, para o atual vocalista dos Barry White Gone Wrong, convidado da Oficina Vip, juntar estas duas expressões artísticas.

“Tinha este sonho desde muito novo. Quando tinha seis ou sete anos, andava na minha bicicleta chopper, amarela, na rua, e cantava e imaginava que algum descobridor de talentos tinha posto escutas na minha ‘bicla’ e que ia ser descoberto assim”, recorda.

Não foi exatamente assim, mas o caminho fez-se. “O meu percurso na música só começou mesmo a sério em Portugal. Dantes só escrevia letras. A minha primeira banda, Peephole, teve um bom andamento logo. As rádios receberam muito bem a maqueta, inclusive, a Antena 3. Conseguimos chegar à final do Festival Termómetro, em 1997, e até tocamos no palco secundário no Festival Paredes de Coura, em 1998”, revela.

“Curiosamente, toquei lá uma segunda vez com os Barry White Gone Wrong, 20 anos depois! É o meu festival preferido”, conta Peter De Cuyper, que não esconde ter contas a ajustar com a pandemia de covid-19. “Não quero entrar em choros, mas, obviamente, tem sido complicado desde março do ano passado. 2020 ia ser o nosso grande ano, depois de muitos anos de trabalho e investimentos”, lamenta.

“Em fevereiro, já tínhamos muitos concertos, em salas e festivais, e duas tours marcadas. Entretanto, os membros da banda estão espalhados pelo país, porque já não conseguiam pagar as rendas em Lisboa, a logística está complicada. Temos trabalhado na mesma em músicas novas, cada um em sua casa. Felizmente é possível, com as tecnologias de hoje em dia. Mas estamos ansiosos para voltar aos ensaios e concertos”, confessa.

Peter De Cuyper
Foto: José Carlos Nero

Durante o confinamento, Peter De Cuyper exercitou a sua criatividade. Nunca parou. Aproveitei para escrever muitas letras e também crónicas para o meu programa na esradio.pt”, explica. Mas nem tudo foi positivo. “Infelizmente, também aproveitei para cozinhar e comer demasiado. No ano passado, descobri uma empresa espanhola que vende Duvel, online, por um preço muito bom e foi uma grande consolação, no período de Natal e Ano Novo, visto que, normalmente, nessa altura, vou para a Bélgica, e por causa da pandemia não deu, claro. Assim, trouxe um pouco da Bélgica para minha casa”, adianta o músico.

Mas se as saudades de uma cerveja belga foram já saciadas, o apetite pelos palcos terá de aguardar um pouco mais. Não muito. “Voltamos aos palcos em junho, dia 4, no CAE, em Sever de Vouga, e dia 26, no Centro Cultural Malaposta, em Olival Basto/Odivelas. Cada um destes concertos já mudou três vezes de data. Espero que não tenhamos de adiar novamente”, afirma.

Mãos ao volante

Como músico, Peter De Cuyper conta muitos quilómetros de estrada. Literalmente. Só não lhe peçam é para passar o volante. Ele prefere tê-lo nas suas mãos. Não gosto de ser conduzido. Aliás, até há dois anos eu era o único a conduzir quando entrava numa viatura, morria de nervos a ser conduzido. Tem a ver com o facto de que eu já ter conduzido tanto, mas tanto, e também porque a condução dos portugueses é diferente da dos Belgas… Ai, as travagens em cima do momento!”, acusa.

Mas já foi pior. “Agora, com a banda, deixo o nosso roadie e guitarrista suplente, João Repolho, conduzir. Custou um bocado, no início, mas, entretanto, estou habituado e ele conduz bem. Há outra exceção, a minha namorada, ela tem um Land Rover Defender e não tenho medo com ela ao volante”, admite o vocalista dos Barry White Gone Wrong.

Qual a música perfeita para ouvir numa fila de trânsito a caminho de Sesimbra, onde vive? “Numa fila tem de ser Morphine ou Nick Cave. A conduzir pode variar, mas tenho boas memórias de andar demasiado rápido nas autoestradas do centro da Europa com o álbum Overpowered, da Róisín Murphy, a bombar nas colunas, e eu a abanar a cabeça e a cantar bem alto”, recorda.

De resto, as viagens servem para treinar a voz. “Sim, canto muito no carro, mais do que no duche, mas não me lavo lá dentro”, dispara o músico ao Check-up.

Das muitas histórias vividas ao volante, umas ficam para quem lá esteve, não são para revelar. Outras podem ser partilhadas. Como quando comprou um Chevrolet Camaro. “Saí do stand, nem conduzi 500 metros e estavam duas raparigas a pedir boleia. Parei e elas ficaram de boca aberta, a olhar para esse muscle car”, revela.


“Dei-lhes boleia e lembro-me de uma dizer: fogo, nunca me deram boleia num carro de casamentos”, conta. Ou uma história ainda mais antiga: “Quando era puto, a minha avó obrigava-me ir com ela ao Bingo, porque ela via muito mal. E quando voltávamos para casa, à noite, tinha de avisá-la quando havia curvas”.

Mas nada que se compare com uma aventura a duas rodas. “A minha maior história na estrada não foi ao volante, mas sim ao guiador de uma scooter, uma Honda Foresight. Ofereceram-me a moto, mas estava em la Rochelle, França. Fui lá de avião e voltei para casa nela. Foram quase 1.800 km, em três países: França, Espanha e Portugal”, diz.

“Isso em pleno outono e com muita, muita chuva e vento. Mas adorei cada quilómetro na mesma. Andei nela cinco anos e foram os únicos cinco anos, desde os meus 18, que não tive um carro. Podem ler a história completa em https://sosureaboutmylackofconfidence.wordpress.com/2021/03/06/a-scooter/”, convida.

Do Camaro à station wagon

Peter De Cuyper tem um “velho Peugeot 306 carrinha, desde há três anos”. Uma station wagon com “muito espaço para carregar instrumentos, amplificadores e derivados. Até agora, pegou sempre”, garante. “Já fui dono de um dos carros dos meus sonhos, um Chevrolet Camaro de 1968 (o ano em que nasci), era creme e o interior completamente vermelho, que saudades!”, recorda.

Peter De Cuyper band
Peter De Cuyper bridge

“Nos anos 80, tinha uma grande pancada com o Chrysler Lebaron descapotável. Achava lindíssimo. Na Bélgica, via-se muito e, em Portugal, só encontrei uma vez um, que estava à venda em Marco de Canavezes. Nunca vi um a andar numa estrada portuguesa. Atualmente, ficaria muito feliz com um Audi A4 ou A6 Avant, mas sou um pobre músico e fiel ao meu Peugeot. Vai ter de durar ainda um bom tempo”, reconhece ao Check-up.

A ideia é que a carrinha “dure muito tempo”. Mas será que o músico a estima o suficiente para assegurar a sua longevidade? “Sou terrível, o meu carro está completamente desarrumado, parece que sou um colecionador compulsivo de lixo. Limpar o meu carro significa tirar o lixo. Penso que mandei fazer apenas uma revisão nos últimos três anos”, confessa.

“Claro que os últimos 14 meses fiz muito poucos quilómetros, mas isso não é desculpa. Honestamente, sinto-me um bocado envergonhado a dizer isso. Vou já marcar uma revisão mal acabe esta entrevista”, assegura Peter De Cuyper, que não tem quaisquer problemas em mudar pneus ou a verificar o nível de óleo. Até costuma ser um processo seguro, por vezes. “A não ser quando fiz 40 anos e fui assaltado enquanto estava a trocar um pneu, isso saiu caro! Como sei que sou um desleixado com as revisões, vejo regularmente o nível do óleo e meto lá mais um litrozito quando é preciso”, conta.



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