O timing é tudo. E (quase) tudo decide. A entrevista do Check-up a Carlos Silva devia ter acontecido nos primeiros dias de outubro. Na véspera da data combinada, depois de um telefonema para confirmar o encontro, ficámos a saber do falecimento de Markus Krautli e da esposa, Lisa, na sequência de um acidente rodoviário ocorrido na ilha da Sardenha.
Havia que dar tempo para que o mundo voltasse a girar. E para que fosse possível falar de futuro, sem nunca esquecer o passado. Os alicerces. Foi o que fizemos, quase dois meses depois do trágico acidente que vitimou o fundador da empresa que continua a crescer, ano após ano – já lá vão 33 de presença no mercado – e que continua a usar o seu nome e a sua filosofia, como fez questão de sublinhar o diretor de vendas e marketing da Krautli Portugal. Na foto de abertura, da autoria de Estelle Valente, posa com Lucas Krautli, como prova de vida.
Gostava de começar de outra forma, mas não é possível contornar o que aconteceu em outubro passado. Não vamos falar de sentimentos, que existem. Mas de que forma o falecimento de Markus Krautli afeta a estratégia e estrutura da empresa?
Foi uma fatalidade. Não estávamos à espera que pudesse acontecer. Nada sequer parecido. Infelizmente, este tipo de acidentes podem acontecer. Bateu-nos à porta.
Mas, felizmente, na Krautli temos uma estrutura profissional muito sólida, consolidada. Tanto em Portugal como na Suíça e na Bélgica – são empresas independentes.
Obviamente que a perda de Markus Krautli é irreparável. Era uma pessoa marcante, com a sua visão, o seu positivismo. Todavia, a empresa tem a sua identidade, o seu ADN. E temos uma estrutura muitíssimo preparada para enfrentar os desafios.
Em termos estratégicos, nada se altera dentro da empresa. Nada muda na nossa missão de continuar sempre a crescer. Temos uma série de projetos, que já estavam definidos e que serão concretizados.
Um deles, já conseguimos concretizar: a abertura de uma loja de revenda na margem sul, que, em função de uma oportunidade que surgiu, foi concretizada no passado mês de outubro.
Uma estratégia definida em função de uma oportunidade surgida. Vamos abrir, também, um armazém, em Coimbra, no início do próximo ano – estava previsto para o início deste ano, mas, por uma questão de espaço, não foi possível.
Mas a empresa continua na sua dinâmica de crescimento e, obviamente, vai manter o legado e a memória do senhor Markus Krautli. Estarão sempre presentes. Não podemos nunca esquecer.Porque são 33 anos de atividade, sempre com a sua grande inspiração. Isso vai-se manter, diariamente, dentro desta empresa.
Falando da atividade da empresa, 2022 foi o melhor ano de sempre da Krautli Portugal. É possível elevar ainda mais a fasquia? Qual é o balanço possível do negócio da empresa em 2023?
Este será o melhor ano de sempre. Vai ficar ligeiramente acima do que tínhamos desenhado no projeto para este ano. Vamos superar todos os nossos objetivos. A inflação de preços, principalmente no início do ano, ajudou um pouco o setor, também. Há aqui um efeito inflacionário. Mas existe uma continuidade dentro da nossa ambição de continuarmos a crescer.
Temos uma filosofia própria: “Se não crescemos, morremos”. É a nossa forma de estar e de ver o negócio. Daí a continuidade dos investimentos que temos vido a fazer, mesmo com os constrangimentos que existem no mercado, a nível de oferta – que é muita. Mas, dentro deste contexto, estamos muito bem preparados e estruturados. São o fruto daquilo que semeámos.
Este tem sido um ano de grande investimento no Nexus Shop. Ainda há pouco tempo houve um encontro em Alenquer com os membros. Como está a correr este projeto, lançado no ano passado?
Está a correr bastante bem. Também dentro daquilo que eram os nossos objetivos. Temos um conjunto de parceiros Nexus Shop que têm desenvolvido diversas soluções que temos dentro deste projeto, nomeadamente, redes de oficinas.
Temos já um conjunto de oficinas, quer sejam Nexus Auto quer Profissional Plus ativas. E temos parceiros de negócio que estão, de facto, a apostar forte, não só na imagem, como nos serviços, designadamente, na parte da digitalização do negócio: plataformas de webshop para os seus clientes.
Temos uma pessoa, a Sandra Oliveira, que tem feito um trabalho notável a esse nível. Tudo corre dentro do que tínhamos perspetivado. Vamos ter mais membros a entrar para o projeto. Entendemos que são projetos que necessitam de algum tempo para criar tração e, muitas vezes, existe alguma desconfiança por parte dos players do mercado. É necessário tempo para que eles possam, efetivamente, valorizar as valências de todo este projeto.
Fazem encontros regulares com os membros. Ouvir os parceiros continua a ser a melhor receita?
Certo. Infelizmente, devido à fatalidade, não foi possível realizar o encontro em Barcelona, como tínhamos previsto.
Iria decorrer nas instalações da Service Next, que é central em tudo o que é formação, parte tecnológica e digitalização do negócio. Não foi possível fazer. Acontecerá no próximo ano.
Fizemos, no final deste ano, a retrospetiva do que foi o ano e projetámos já uma série de iniciativas para 2024, que queremos implementar e que sentimos, cada vez mais, como importantes neste ecossistema Nexus Shop.
Estamos a colocar todas as soluções que temos à disposição dos nossos parceiros de negócio, de forma a torná-los mais fortes. Esse é o nosso lema: juntos, somos mais fortes.
Têm algum número em mente para os membros Nexus Shop ou isso não é importante?
Não. Queremos ter uma cultura geográfica mais abrangente. Não temos nenhum, nem procuramos ter um número definido. Temos, naturalmente, objetivos para alcançar. 15 membros era o que tínhamos desenhado no curto prazo e estamos quase lá. Não é tanto a quantidade, mas a qualidade do que estamos a acrescentar dentro do negócio dos nossos parceiros.
E é esse o nosso compromisso com o projeto. Fazermos bem feito e de uma forma consistente. E os nossos parceiros podem realmente acreditar no que estamos a fazer. Em conjunto, podemos desenvolver todas essas soluções para tornar o ecossistema Nexus Shop o mais consistente possível, num contexto altamente competitivo, como é o atual em que nos movimentamos.
Quais são as principais características que procuram num parceiro Nexus Shop?
Acima de tudo, procuramos uma visão estratégica no que é o seu desenvolvimento. Empresas que queiram apostar nas soluções que temos dentro deste conceito, de forma a que possam diferenciar-se dentro do contexto competitivo em que vivemos, dentro da sua independência.
Para os nossos parceiros, é importante sentirem-se independentes nas suas decisões. Também queremos empresas com uma solidez financeira significativa, com uma presença local e que tenham alguma consistência para desenvolver as suas atividades e continuar sempre a crescer no mercado.
Qual a importância da parceria com o Grupo Serca, neste contexto? É crucial ter um “chapéu” desta dimensão, num mercado tão competitivo…
Sim, a Serca acaba por ser uma interface com a Nexus neste projeto, a nível ibérico. As soluções e os serviços existentes estão disponíveis para toda a rede e já estão muito maduros, em função da sua experiência, do número de oficinas que têm, da plataforma digital, constantemente a ser melhorada e desenvolvida para entregar soluções tecnológicas dentro da rede de parceiros Nexus Shop.
O reforço do portefólio é outro aspeto importante para manter a empresa no bom caminho?
É verdade. Tem sido assim, durante estes 33 anos de existência. Costumo dizer que arrancámos no final da grelha de partida e fomos avançando, gradualmente, nesta corrida do aftermarket. Ano após ano, fomos incorporando marcas que nos permitiram chegar onde estamos hoje.
Orgulhamo-nos de ter, hoje, o portefólio que temos. Incluímos, este ano, a ATE na área da travagem premium, as ferramentas para profissionais da JBM, bem como a Lizarte na parte da direção. E, agora, recentemente, em função do projeto Nexus Shop, incluímos também a Autel no diagnóstico, o que nos permite ser um fornecedor cada vez mais global e agregar aos nossos parceiros um portefólio mais abrangente.
Somos quase um one-stop-shop – tirando a parte de carroçaria e de pneus. Dispomos de uma oferta eclética, não apenas ao nível da qualidade e das marcas equivalentes ao original e que são a nossa referência enquanto segmento onde nos posicionamos.
Mas, hoje, numa lógica muito budget, o mercado também nos obriga a ter uma oferta mais elástica, para poder chegar a veículos mais antigos, com uma oferta mais competitiva para esse parque circulante.
A qualidade não é aqui um pormenor no vosso portefólio…
Para nós, é uma condição essencial, porque é aí que nos posicionamos. O nosso slogan é: “Paixão pela qualidade”. Temos essa abordagem. Posicionamo-nos nesse segmento, não apenas ao nível de produtos. Tentamos que toda a empresa e toda a nossa proposta de valor encaixe dentro de um padrão de qualidade elevado. É essencial para nós.
Costumas dizer: “As empresas que não crescem acabam por morrer”. Continuas a pensar assim?
É verdade. Porque este é um mercado altamente competitivo e agressivo.
Sentimos, também, a falta de profissionalismo em alguns momentos. Tentamos, de facto incutir esse espírito. A rentabilidade é essencial nesta atividade – não só nesta, mas em todas. Mas, isso, é algo que nos preocupa muito, porque existe uma ilusão significativa sobre as margens do negócio.
E o desafio é (e será sempre) esta: vender peças a ganhar dinheiro. Esta é a chave do negócio. Se estamos a vender peças e não estamos a ganhar dinheiro, algo está errado. Este é o nosso papel dentro da cadeia de distribuição. É um papel importante para a cadeia de valor e tem de gerar as receitas necessárias para que a empresa continue a ganhar dinheiro e a investir no negócio.
Como consegues manter-te em forma para correr atrás de tanto dinamismo da Krautli Portugal?
(Risos). Para já, acho que tem a ver com a genética. Os meus pais transmitiram-me essa qualidade. De resto, tento manter uma atividade física regular, corro, faço caminhada, jogo padel…
Temos de ser saudáveis. Corpo são, mente sã. Respeito muito essa filosofia. São muitas horas de trabalho, muito empenho, muita dedicação à causa e é necessário estarmos minimamente em forma para conseguirmos enfrentar um dia de trabalho.
Que novidades tem a Krautli Portugal reservada para 2024 e que possas contar?
A grande novidade será a abertura do armazém de Coimbra, no mês de janeiro. Também a área de negócio dos tacógrafos – que terá uma lufada de ar fresco em 2024, com a obrigatoriedade da instalação da segunda geração de equipamentos inteligentes para os veículos que fazem transporte internacional – terá um volume de negócio adicional.
Esta é uma área de que dispomos desde a nossa génese enquanto empresa. E vamos, além disso, continuar a adicionar marcas que sentimos importantes no nosso portefólio, para conseguirmos corresponder aos pedidos dos nossos parceiros de negócio. Já temos na calha algumas marcas que vamos começar a distribuir no próximo ano, mas só as divulgaremos mais adiante.