Há histórias longas e muito ricas. E a do táxi português que brilha no Museu da Mercedes-Benz, em Estugarda, é seguramente uma delas. Falamos do Mercedes-Benz 200D W124, que percorreu 1,9 milhões de km ao longo de 13 anos como táxi, no Porto, nas mãos de José Mota Pereira.
No âmbito da rubrica SocInterview, a Soc. Com. C. Santos entrevistou José Mota Pereira (Mota & Pires, Lda.). Na entrevista, que pode ser vista na íntegra no vídeo abaixo, o profissional, que, aos 77 anos, continua a trabalhar, desvenda o desenrolar do processo da ida do seu táxi W124 de 1988 para o Museu da Mercedes-Benz, onde está desde 2006.
“A Mercedes-Benz procurava, segundo depois eu soube, um carro que tivesse muitos quilómetros e, naturalmente, se calhar também o estado de conservação do carro. As duas coisas terão motivado a marca alemã a interessar-se. Depois, mais à frente, entraram em contacto comigo para negociarmos o carro e eu dispensar a minha viatura à Mercedes-Benz”.
“Rolar” para a Alemanha
Na altura, a Daimler pediu à Mercedes-Benz para ver junto da rede oficial de oficinas da marca os registos de quilometragem das viaturas assistidas, tendo chegado a José Mota Pereira através da Soc. Com. C. Santos. O Mercedes-Benz 200D W124, de 1988, foi adquirido pela Mercedes-Benz por €5.000, o valor comercial da viatura em 2006.
https://www.youtube.com/watch?v=Sp-0o0e0LTg
O automóvel tinha, entretanto, sido substituído, pelo táxi que José Mota Pereira conduz atualmente (um Mercedes-Benz Classe E W210 de 2001, que já tem quase a mesma quilometragem do veículo que está, agora, no museu da marca). O W124 era, em 2006, utilizado por um dos dois filhos do motorista de táxi.
“Tinha-lhe oferecido o carro porque ele adorava-o. O meu filho mais velho dizia ‘tu não tens garagem suficiente para guardar o carro, vais ter dificuldades. Deixa ir o carro, porque ao menos assim vamos à Alemanha dar um passeio e vemos o carro lá na Mercedes-Benz, porque eles lá vão estimá-lo melhor do que tu estimas aqui”, conta o cliente da Soc. Com. C. Santos.
Tomada a decisão de venda, a história teve mais um foco de interesse. É que o normal nestas situações é os veículos serem transportados para o Museu Mercedes-Benz por camião, dado o estado de conservação não ser o melhor. Mas não no caso do 200D de José Mota Pereira. O técnico da Daimler que veio buscar a viatura ao Porto cancelou o transporte por camião assim que viu o excelente estado de conservação, tendo decidido, no momento, que ia regressar à Alemanha a conduzir. E a viagem correu lindamente.
Membro da família
Para José Mota Pereira, recordar o W124 é como falar de um membro da própria família. É um carro que fez parte da sua vida profissional e pessoal. Por isso, é ainda hoje automóvel muito especial para o motorista de táxi, que até quase que se comove quando fala no automóvel.
“Evito muitas vezes falar muito desse carro, porque às vezes a gente faz um papel assim um pouco chato de emocionar-se por causa de um carro. Não é o carro. O carro fez parte da nossa vida e foi uma peça de ferramenta que nos ajudou”, conta.
“Acompanhou-me em várias situações difíceis, muito difíceis em que foi ele que suportou a carga maior”, explica José Mota Pereira, depois de sublinhar que “o carro nunca andou em cima de um camião por avaria”.
A relação que tem com a Mercedes-Benz e com a Soc. Com. C. Santos é histórica e de proximidade. Aliás, o Mercedes-Benz Classe E W210 de 2001 (o já referido automóvel que tem quase a mesma quilometragem do veículo que está, agora, no museu da marca), vai pelo mesmo caminho em termos de bom estado de conservação.
“As pessoas não acreditam, por exemplo, que o tablier é de origem e nem que aquela consola de madeira é de origem. Eu às vezes digo assim: Se calhar, tenho de fazer aqui umas riscadelas, para perceberem que isto é de origem”, brinca José Mota Pereira.
A ligação à marca e à Soc. Com. C. Santos tem décadas e o motorista de táxi não se poupa a elogios. “Sou muito estimado na Mercedes-Benz e as pessoas são muito atenciosas comigo… Acho que são com toda a gente. É uma casa que respeita muito quem lá vai com sua viatura. As pessoas são muito respeitadas”, sublinha.
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