Há entrevistas que passam à história. E entrevistas que fazem história. Como a de Carlos Jorge Gonçalves. Pragmático e objetivo, o diretor-geral da Filourém foi quem limpou e montou as primeiras prateleiras há mais de 25 anos, nas instalações antigas da sociedade que deu origem à Filourém.
Em 2002, Alzira Reis e Carlos Gonçalves criaram a empresa que iniciou a sua atividade com a comercialização de filtros e que se situa, como o próprio nome indica, em Ourém, cidade renomeada a partir de Vila Nova de Ourém e que pertence ao distrito de Santarém.
Depois de mais de década e meia “apenas” como professor e treinador de futebol, Carlos Jorge Gonçalves começou a “aproximar-se” da Filourém através de pequenas tarefas e em part-time, corria o ano de 2018. Até que, em 2021, decidiu ficar na empresa de forma mais definitiva.
Um popular cantor português “assumia”, em 1980, ter dois amores. O diretor-geral da Filourém revelou ao Check-up que tem três. Nesta entrevista, sem filtros nem tabus, Carlos Jorge Gonçalves fala da empresa e das suas paixões, sem nunca perder a lucidez analítica nem o foco no negócio.
No passado dia 22 de abril, quando estivemos convosco em Ourém, cumpriu-se um ano desde a abertura do novo armazém. Como olha para esta efeméride?
Foi uma “coincidência” engraçada, existindo até muitas pessoas que não acreditam que elas existam. De qualquer forma, foi um ano que passou demasiado rápido. Entre o trabalho diário habitual e um conjunto de iniciativas que organizámos, foi um ano dinâmico e intenso.
O ano anterior, com obras em diversas zonas (armazém novo, piso superior do antigo, coberturas e pisos, entre outras), já tinha sido algo desgastante, mas penso que continuámos a dar uma boa resposta a todos os parceiros que nos procuraram.
Acima de tudo, ficámos com mais espaço para introduzir novas gamas e novas marcas e, também, com melhores condições para os nossos colaboradores.
Além da família e do Sporting Clube de Portugal, a Filourém é um dos “grandes amores” de Carlos Jorge Gonçalves?
É, sem dúvida alguma. Todos diferentes, mas com o seu espaço. A família, porque é o nosso suporte, o nosso apoio e inspiração. Porque é o nosso sangue e os valores que partilhamos.
O Sporting Clube de Portugal… bem, é difícil de explicar: é uma paixão quase no domínio do inconsciente. Não tenho um grande passado familiar de desporto ou de apoio a um clube, mas segui carreira desportiva e uma enorme admiração e devoção pelo clube de Alvalade de forma autodidata, quase que por geração espontânea.
Tento não passar qualquer mau humor às pessoas que me rodeiam quando o Sporting perde, mas este ano o sorriso é sempre mais natural e sincero às segundas-feiras!
Quanto à Filourém… Está presente na minha vida desde a sua génese: fui eu que limpei e montei as primeiras prateleiras há mais de 25 anos, nas instalações antigas da sociedade que deu origem à Filourém. Colaborava ao final do dia e trabalhava, também, nas férias de verão quando estudava no liceu e, mais tarde, na faculdade.
Depois de 16/17 anos “apenas” a ser professor e treinador, comecei a aproximar-me em pequenas tarefas e em part-time em 2018/2019, até ficar, de forma mais definitiva, em 2021.
Aproveitando um lema bem conhecido, o “Esforço, a Dedicação e a Devoção” devem estar sempre presentes em todos os colaboradores da empresa, procurando a “Glória” ou, neste caso, o sucesso, a sustentabilidade e a continuidade da empresa.
A JAPKO é a marca que maior expressão assume no portefólio da Filourém. Mas existem muitas outras que compõem o “plantel” da empresa, nomeadamente as representações exclusivas Original BIRTH, BREMSI e Zeta Erre. Quer falar-nos um pouco sobre elas?
Sim, tentando ser sucinto, até porque todas elas têm alguns pontos em comum, mas são mais as diferenças do que as semelhanças. A JAPKO acaba por ser a marca com maior volume de vendas. Tem uma grande variedade de linhas (componentes de motor, travagem, filtração, suspensão e direção, entre outras), com forte incidência em veículos asiáticos, mas, também, para os restantes. É uma marca com muitos anos dentro da nossa empresa e queremos continuar a promovê-la.
A Original BIRTH dispõe de um material de extraordinária qualidade, focado em três linhas fortes (suspensão/direção, refrigeração e componentes para motor e chassis). Trata-se de uma marca italiana com a qual temos uma ótima relação e com quem nos identificamos em termos de valores e estratégia.
“A JAPKO é a marca com maior volume de vendas no nosso portefólio. Tem uma grande variedade de linhas, com forte incidência em veículos asiáticos, mas, também, para os restantes”
Quanto à BREMSI, temos tido um crescimento muito interessante, notório e constante a cada ano que passa. Iniciou-se com a linha de travagem e, recentemente, introduziu no seu portefólio filtros, amortecedores e escovas, entre outros componentes. Estamos muito satisfeitos com a qualidade e apresentação das diferentes gamas, existindo uma grande procura dos nossos clientes.
Por fim, e estou a seguir uma linha cronológica, adicionámos a Zeta Erre à nossa oferta no início de 2023. Estamos muito satisfeitos. Há uma recetividade muito positiva por parte dos nossos parceiros, mas temos de entender que uma linha de transmissões e seus constituintes não é um material de altíssima rotação, não é um consumível para fazer stock.
A marca tem uma imagem muito moderna e está absolutamente focada na sua gama, desde o controlo de qualidade, identificação e, muito importante, na venda da transmissão completa ou de todos os seus componentes em separado.
Em fevereiro de 2024, a última adição da Filourém foi a marca Delphi, mas apenas na linha de gestão de motor. Qual foi a razão que esteve na génese desta decisão?
Essencialmente, prendeu-se com a oportunidade de juntarmos uma marca premium ao nosso portefólio e reforçármos uma linha de material que vem aumentar a nossa oferta. Foi mesmo o cruzamento destes dois fatores.
Considera-se um diretor-geral que veste o fato de “Bombeiro Voluntário” quando é preciso, nomeadamente para dar uma ajuda no armazém quando chegam as encomendas?
Percebo a analogia e, de facto, gosto de ajudar em situações de maior necessidade em tarefas variadas no armazém e, também, de assumir o “posto de comando” no processo da receção das encomendas.
Conferir o material, ver as novidades, organizar a arrumação nas prateleiras em novos lugares, mais funcionais… Penso que nos ajuda a medir o pulso de como está a dinâmica do armazém e corrigir pequenos procedimentos se acharmos pertinente.
Existe alguma tarefa que não goste de realizar a nível profissional?
Naturalmente que existem tarefas que gosto mais de fazer do que outras, mas definimos prioridades e faço aquilo que for mais importante em determinado momento.
Não faço aquilo que aprecio mais, mas o que consideramos necessário ou urgente para o bem da empresa. De facto, não posso afirmar taxativamente que existe alguma tarefa que “não goste de fazer”, pois executá-la-ia na mesma.
Qual o “segredo” para o sucesso da empresa, que começou a sua atividade, em fevereiro de 2002, com a comercialização de filtros e que tem, hoje, um vasto leque de produtos para diversas áreas?
Trabalho, dedicação, criação de uma relação de confiança e empatia com os clientes. Procurar criar valor aos nossos parceiros, ouvi-los e tentar responder no limite das nossas possibilidades às suas necessidades.
Não sei se são “segredos” … Mas é muito importante verem em nós honestidade e transparência. Quando erramos, pedimos desculpa e agradecemos, das mais variadas formas, a confiança que depositam em nós nesta caminhada. É fundamental ter, também, um crescimento gradual e sustentado de forma a manter a estrutura equilibrada.
Crescer de forma progressiva, sistemática e sustentada no aftermarket faz parte da visão da Filourém desde o primeiro dia. É este o legado que pretende perpetuar?
Sem dúvida. Passar esse “legado”, numa “visão” que definimos para nós, num horizonte de médio-longo prazo, é muito importante. Sabendo que neste setor, extremamente dinâmico e competitivo, dá muito trabalho e obriga a uma capacidade de adaptação constante.
Embora se encontre sediada na região centro, a Filourém chega a todo o território nacional (incluindo Madeira e Açores, onde têm forte expressão), além de Cabo Verde…
Correto… Temos cobertura, através do sistema de logística, de Portugal continental e, também, um mercado consolidado na Madeira, Açores e Cabo Verde.
Os três armazéns da empresa totalizam cerca de 4.000 m2 de área. O espaço é suficiente ou virá a revelar-se limitado a curto prazo?
A mais recente infraestrutura e as alterações que fizemos, apesar de estarmos sistematicamente a referir a “falta de espaço”, tem ainda algum potencial de crescimento e margem de manobra. Temos de rentabilizar o espaço que temos mais alguns anos, mas parece sempre pouco na verdade.
Que qualidades mais aprecia nas pessoas que consigo trabalham?
Existem duas/três qualidades absolutamente indispensáveis e outras tantas que aprecio e que distingue um “colaborador razoável” de um “colaborador ótimo”. Compromisso, honestidade e pontualidade. Estes três aspetos são vitais.
“Quando erramos, pedimos desculpa e agradecemos, das mais variadas formas, a confiança que depositam em nós nesta caminhada”
Naturalmente que um nível superior de “compromisso” pode traduzir-se em mais dinâmica, mais empreendedorismo e mais criatividade num colaborador que, consequentemente, poderá trabalhar mais motivado, com maior empenho, alegria e proatividade.
O “saber fazer” é muito importante, mas o “saber ser” e “saber estar” são ainda mais. A parte técnica o colaborador poderá ir aprendendo e melhorando se for um bom ser humano.
A Filourém é uma empresa que se preocupa com o bem-estar e a evolução dos seus colaboradores?
Sem dúvida. Naturalmente, que serão os colaboradores as pessoas mais indicadas para responder a esta pergunta, mas, pelo menos, tentamos que assim seja. É, claramente, um objetivo nosso.
No aumento das nossas instalações, um dos principais objetivos foi a expansão da área de stock. No entanto, no edifício novo, não temos uma única peça, apenas serviços e instalações mais modernas, confortáveis e ergonómicas.
Preocupamo-nos com o bem-estar do colaborador e da sua família. Somos flexíveis a alterar dias de férias, facilitamos nas consultas e nas reuniões escolares e tentamos que o local de trabalho, não seja apenas uma “obrigação”, mas que se respire uma atmosfera de confiança, respeito e boa disposição.
A formação é outra das áreas que a Filourém não descura. Qual a importância das ações que realizam?
Pensamos que as formações, nas mais diversas áreas, são de extrema importância para todos os intervenientes. Colaboradores, sócios, clientes (retalhistas), os seus clientes (oficinas) e até para os próprios formadores que ministram essas sessões.
Também eles, pela troca e partilha de ideias, saem sempre mais ricos dessas formações. Os restantes agentes aprendem, interagem, incorporam as novidades mais recentes, as novas tendências e mesmo os mais experientes no setor reciclam conhecimentos.
De 8 a 10 de novembro, terá lugar a edição de 2024 da expoMECÂNICA. Será a quinta participação da Filourém na feira?
Sim, já está confirmada a nossa presença. Tendo em conta o sucesso e crescimento das últimas edições, estamos com uma expectativa bastante elevada em relação à feira deste ano.