Numa oficina, as molas da suspensão nem sempre são o foco principal. Muitas vezes, passam despercebidas nas revisões, ofuscadas pelos amortecedores ou pelos travões. No entanto, são elas que suportam o peso do veículo e garantem que o contacto com o solo se mantém constante. Quando começam a ceder, o conforto, a estabilidade e até a geometria do chassis ficam comprometidos.
Cargas constantes
Detetar um desgaste prematuro nas molas exige mais do que um olhar rápido. Há sinais subtis que denunciam a sua fadiga: uma ligeira diferença na altura entre os dois lados do eixo, ruídos metálicos ao passar por lombas, vibrações anormais ou um comportamento instável em curva. Uma simples medição da altura ao solo, comparada com os valores de referência do fabricante, pode revelar uma mola cansada.
Com o tempo, o aço perde elasticidade devido às cargas constantes, à corrosão e às variações térmicas. Nas molas helicoidais, as espiras começam a aproximar-se mais sob o mesmo peso; nas parabólicas, o arqueamento reduz-se. A pintura estalada ou zonas com ferrugem profunda são sinais de alerta. Um toque de martelo técnico (com som diferente entre molas do mesmo eixo) pode confirmar suspeitas de fragilidade.
Teste de suspensão
As oficinas que dispõem de equipamentos de teste de suspensão podem usar plataformas vibratórias para medir a resposta dinâmica do conjunto. Uma diferença significativa entre os lados indica que uma mola já não reage de forma homogénea. Também é útil observar o desgaste irregular dos pneus — por vezes é o primeiro indício de um desnível estrutural causado por uma mola deformada.
A substituição deve ser sempre feita aos pares, mesmo que apenas uma apresente falha evidente. Misturar componentes com elasticidade diferente compromete o equilíbrio e o controlo do veículo.
Num mercado onde a segurança e o conforto são prioridades, valorizar a inspeção das molas é um sinal de profissionalismo. Um técnico atento não troca apenas peças: antecipa problemas, prolonga a vida útil da suspensão e garante que o carro mantém a postura com que saiu da fábrica.