Depois de um almoço animado no interior da Exponor, o público regressou ao auditório principal. A luz desceu e o som ganhou vida. O palco encheu-se de cor, ritmo e movimento com os Tron Dancers, num espetáculo eletrizante de dança e efeitos luminosos inspirado no filme Tron: Ares.
A performance, acompanhada por uma voz off intensa e motivacional, fez vibrar as mais de mil pessoas presentes. O ambiente voltou a ganhar força, preparado para um novo ciclo de apresentações que misturariam emoção, conhecimento e inspiração.
“A ilusão do mecânico”
Chamado ao palco por Pedro Proença, CEO da Drive360, Tiago Rocha subiu descontraído, com o à-vontade de quem fala de coração. Conhecido por ser o criador do primeiro canal português de mecânica no YouTube, tendo mais de 50 mil seguidores nas redes sociais, o fundador da Oficina tiagorochauto partilhou com a plateia a história da sua vida — uma narrativa de esforço, determinação e reinvenção.
“Vim de uma família humilde”, começou. “Aos 15 anos quis deixar a escola para ajudar a minha mãe. Recebia €200 por mês para aprender a profissão. Foram tempos duros”, confidenciou.
Em 2014, abriu a sua primeira oficina. “Tinha 100 m2. Cabiam quatro carros em fila. Mas não tinha dinheiro. Só vontade”, revelou. Em poucos anos, o negócio cresceu: em 2015, abriu a segunda oficina, em 2017 a terceira, em 2018 a quarta. Trabalhou 12 horas por dia, estudou sozinho e aprendeu com os vídeos que via.
Mas o sucesso aparente escondia um problema. “Em 2021, abri uma segunda oficina sem fechar a anterior. Foi um erro completo. Não conseguia gerir dois negócios.”
O desabafo gerou cumplicidade na plateia, onde muitos empresários do setor se reviam. “O mecânico, dono da oficina, normalmente, é um operacional. Quer resolver problemas, ficar até tarde a tentar perceber o que falha num carro. Mas o negócio de uma oficina não é reparar carros — é ganhar dinheiro”, afirmou, convicto.
Tiago Rocha descreveu o ponto de viragem: “Começava o dia com 95 créditos da minha energia e a meio já tinha gasto tudo. Estava cansado, a minha bateria estava viciada.” Foi então que percebeu que tinha de mudar.
“Passei a estudar a gestão da empresa e do meu tempo. Percebi que não bastava ser bom mecânico — tinha de ser empresário.” A sua palestra, intitulada “A Ilusão do Mecânico”, terminou sob um aplauso demorado, com o público visivelmente tocado pelo relato sincero de quem vive, todos os dias, os desafios do aftermarket.
Negócios e oficinas
Depois da emoção, a tarde ganhou novo ritmo. Subiram ao palco os Sons do Minho, grupo de Viana do Castelo, distinguido, em 2024, com o prémio “Play”, num momento de pura energia e boa disposição que animou o auditório.
O espírito de festa deu lugar, em seguida, a um dos momentos mais aguardados do dia: o debate sobre o negócio das oficinas, moderado por Pedro Proença, CEO da Drive360, na companhia da apresentadora, Sónia Araújo.
Em palco, quatro convidados representaram diferentes perspetivas do setor: Rita Prata, da Corauto; Mário Moreira, da FLS Motor — a primeira oficina Bosch Car Service em Portugal com certificação SERMI pela SGS; Fábio Domingos, da Parceirauto, especializada em veículos elétricos e híbridos e aprovada pela Tesla; Tiago Rocha, agora na pele de empresário experiente e administrador da Oficina tiagorochauto.
A conversa fluiu num tom prático e realista, centrado em três eixos: rentabilidade, mão de obra qualificada e gestão do fluxo de trabalho.
“Não é fácil gerir o movimento de viaturas em parque”, disse Fábio Domingos, respondendo a uma pergunta colocada por Pedro Proença.
“A evolução do mercado tem de ser acompanhada por software. Quando o sistema é bom, tudo se torna mais simples”, disse. Referiu o OfficeGest como exemplo de uma ferramenta que “transformou a gestão, permitindo informação em tempo real”.
Rita Prata, por sua vez, focou-se na vertente humana. “Trata-se de gerir pessoas. Fazer com que acreditem no que fazem e se sintam confiantes”, afirmou. “É difícil encontrar pessoas qualificáveis, mas, na Corauto, olhamos primeiro para a atitude. Formamos dentro de casa e criamos futuro para quem connosco trabalha”, enfatizou.
Revelou ainda um dado que emocionou a plateia: “A maioria dos nossos colaboradores é de São Tomé. São profissionais extraordinários, com enorme vontade de aprender e fazer parte”. O público reagiu com aplausos e Pedro Proença destacou o exemplo como “uma inspiração e uma lição de humanismo num setor que vive de pessoas”.
Mário Moreira, da FLS Motor, trouxe a tecnologia para o centro do debate. “O que nos motiva é fazer parte do que é novo”, explicou. “Quando conseguimos adaptar a tecnologia à nossa realidade e deixar nela o nosso toque, ganhamos sentido de propósito”, sublinhou.
E foi novamente Tiago Rocha quem fechou o painel com uma mensagem prática: “Não conseguimos medir o que não sabemos. É preciso ter ferramentas que mostrem, em tempo real, o que acontece na oficina — e saber usá-las. Ter o programa não chega”, alertou.
A força das decisões
O encerramento do Evolution360 ficou a cargo de Gonçalo Monteiro, fundador da Winners, com uma intervenção sobre liderança e tomada de decisão.
“Como é que o cérebro decide o que é melhor para nós?” Foi a pergunta que lançou, conduzindo a audiência por uma reflexão sobre a importância da clareza emocional e da estratégia racional na gestão empresarial.
O final fez-se em tom de festa, com o regresso dos Sons do Minho, que encerraram o evento em ambiente de alegria contagiante — desta vez, à desgarrada, num improviso cheio de humor e referências “mecânicas” que arrancaram gargalhadas e palmas.
Assim terminou o Evolution360, entre energia, partilha e inspiração. Um evento que juntou mais de mil pessoas na Exponor e que, ao longo de um dia inteiro, mostrou que o aftermarket português está em movimento, com histórias de vida, conhecimento e emoção.
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