A Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) manifestou a sua profunda preocupação com o aumento de furtos e atos de vandalismo em postos de carregamento de veículos elétricos (PCVE) em várias regiões do país.
“Estes incidentes estão a causar sérios constrangimentos aos utilizadores, comprometendo a confiança na rede pública de carregamento e provocando prejuízos significativos aos operadores, ao mesmo tempo que colocam em causa o esforço coletivo de transição energética e descarbonização da mobilidade”, avança a UVE, em comunicado.
Rede vandalizada
Segundo dados do Ponto de Acesso Nacional (PAN), a 30 de setembro de 2025 “existiam 2.630 postos rápidos e ultrarrápidos, representando mais de 6.100 cabos distribuídos por 245 municípios, o que cobre 80% do território nacional”, pode ler-se.
Desde abril de 2025 foram registados “327 postos afetados e 720 cabos furtados, correspondendo a 10,3% da rede nacional de postos de carga rápida e ultrarrápida”, dá conta.
Estes equipamentos, que em condições normais “somam mais de 12.000 horas de utilização mensal, têm vindo a ser desativados temporariamente, com um impacto financeiro que ultrapassa um milhão de euros por mês para os operadores, agravado pelos custos de reposição e pelas dificuldades logísticas de restabelecimento do serviço”, lamenta a associação, no mesmo documento.
Efeito secundário
Além dos prejuízos diretos, a UVE alerta para um “efeito secundário” ainda mais preocupante: a redução do investimento no setor da mobilidade elétrica.

“A instabilidade e a insegurança criadas pelos furtos de cabos e atos de vandalismo podem levar os operadores e investidores privados a adiar ou redimensionar os seus projetos, travando o crescimento da infraestrutura e comprometendo o ritmo de adoção dos veículos elétricos em Portugal”, avisa a UVE.
Tendo em conta que os postos de carregamento são, hoje, infraestruturas essenciais para a mobilidade elétrica, algumas delas reconhecidas como projetos de Potencial Interesse Nacional (PIN), a associação defende que os “furtos e atos de sabotagem devem ser enquadrados como crimes contra infraestruturas críticas, com agravamento das molduras penais”, diz. A UVE considera que apenas uma resposta firme e dissuasora” poderá travar este fenómeno, que se tem tornado cada vez mais frequente.
A associação recorda, também, que o Decreto-Lei n.° 22/2025, de 19 de março, que transpõe a Diretiva Europeia 2022/2557 sobre Resiliência das Entidades Críticas, aborda precisamente esta problemática e encontra-se em fase de implementação. Nesse contexto, a UVE considera essencial que as “recentes ocorrências sejam tidas em conta no processo legislativo, reforçando a proteção destas infraestruturas vitais”, afirma.
Programa de apoio
Em paralelo, a UVE propõe a criação de um “programa urgente de apoio às infraestruturas de carregamento”, estruturado em dois eixos complementares: o primeiro dedicado à prevenção e segurança, com apoio à instalação de sistemas de monitorização, alarmes, sensores, iluminação reforçada, revestimentos anti-corte e bloqueios de cabos. O segundo centrado na recuperação rápida dos equipamentos afetados, através de mecanismos de compensação que incentivem a reparação e reposição do serviço em prazos curtos, minimizando o impacto para os utilizadores e para a rede.
A associação reforça que está “inteiramente disponível para colaborar com a tutela e com todas as entidades relevantes no estudo e implementação de soluções eficazes que protejam e valorizem a rede nacional de carregamento, um pilar essencial para o sucesso da mobilidade elétrica e da descarbonização em Portugal”, conclui.