“Em breve, seremos, também, uma referência nas caixas automáticas”, garante Diamantino Costa

Após o falecimento do Sr. Peter Sparkes, a Sparkes & Sparkes segue firme no caminho traçado pelo fundador, como revela o diretor-geral da empresa ao Check-up.
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Check-up Media Diamantino Costa

A Sparkes & Sparkes iniciara o ano de 2024 de forma dolorosa, com o desaparecimento do seu fundador, Peter Sparkes, aos 86 anos. Homem de visão, pioneiro na reconstrução de caixas de velocidade em Portugal, deixou não só um nome na fachada da empresa que criou, em 1990, mas, também, um legado de rigor, humanidade e inovação que continua a inspirar toda a equipa. A perda foi profunda, mas não travou o caminho de crescimento da Sparkes & Sparkes. Deu-lhe ainda mais sentido.

Em entrevista ao Check-up, Diamantino Costa, diretor-geral da empresa desde 2013, recorda a importância do Sr. Peter Sparkes com emoção e respeito, ao mesmo tempo que revela as novas direções da empresa: uma aposta cada vez mais firme na internacionalização – com especial foco em Espanha – e o reforço e alargamento da atividade à reconstrução de caixas de dupla embraiagem e… automáticas. Porque o futuro não espera por ninguém.

Com um portefólio consolidado nas caixas mecânicas, uma estrutura técnica altamente especializada e uma parceria estratégica com a FUCHS, a Sparkes & Sparkes prepara-se, agora, para abraçar o futuro sem receios, mas com os olhos bem postos nas mudanças do setor automóvel.

Entre a consolidação no mercado ibérico, a evolução tecnológica e uma identidade renovada, a empresa de Santo Tirso promete continuar a fazer jus ao nome que a fundou.

Como tem sido este primeiro ano sem o Sr. Sparkes, que faleceu no dia 30 de janeiro de 2024, aos 86 anos de idade. Têm sentido muito a sua falta?

O Sr. Sparkes era alguém muito importante para a Sparkes & Sparkes. Mesmo que nos últimos tempos não estivesse tão presente como gostaríamos, os seus ensinamentos, a sua forma de ser e a sua visão do negócio estiveram sempre cá.

Portanto, o que mais sentimos falta é do sentido de humor que tinha, da sua humanidade, do gosto que era sentarmo-nos com ele e falar das mais diversas coisas e “beber” inspiração da sua longa vida.

Check-up Media Diamantino Costa expression
Tendo sido um dos pioneiros nos produtos recondicionados no nosso país, o Sr. Sparkes ajudou, através da empresa que criou, em 1990, a dar forma ao mercado da reconstrução de peças para automóveis em Portugal. Pode dizer-que há um antes e um depois da Sparkes & Sparkes?

Em Portugal, não tenho nenhuma dúvida! Ele contava-me, muitas vezes, a dificuldade que sentia para que os clientes “entregassem a caixa velha”. Hoje, todas as empresas fornecem produtos reconstruídos com a entrega do core, mas não foi sempre assim.

Muitos clientes não queriam entregar a caixa velha. A Sparkes & Sparkes teve mesmo de colocar nas próprias condições de venda que só fornecia a quem entregasse a caixa velha. E havia cientes que preferiam pagar a sobretaxa a entregar a unidade velha. Hoje, isto pode parecer esquisito, mas era mesmo assim.

No dia 13 de setembro de 2024, a Sparkes & Sparkes comemorou 34 anos de existência. São já mais de três décadas a reconstruir caixas de velocidade manuais para veículos ligeiros. Considera que este mercado está cada vez mais “engrenado” ou a precisar de afinar os “carretos”?

A Sparkes & Sparkes já é uma empresa com alguma idade, com muita experiência e com muita vontade de evoluir, de se tornar mais internacional, mais abrangente e, ainda mais importante, no que diz respeito às caixas de velocidade.

Quanto às caixas manuais, temos o conhecimento, a dedicação e a qualidade que todos reconhecem, mas queremos muito mais… Queremos evoluir para ser uma referência em tudo o que diga respeito a caixas de velocidade, de todos os tipos.

“O Sr. Sparkes era muito importante para nós. Mesmo que nos últimos tempos não estivesse tão presente como gostaríamos, os seus ensinamentos, a sua forma de ser e a sua visão do negócio estiveram sempre cá”

Proporcionamos, nos últimos meses, formação especializada aos nossos colaboradores para podermos alargar o nosso leque de produtos às caixas de dupla embraiagem. Investimos muito dinheiro em todo o tipo de ferramentas para que possamos servir bem o nosso cliente.  Isso demora tempo e é preciso adaptarmo-nos todos a esta nova realidade, mas estamos muito confiantes.

Rapidez de serviço, qualidade do processo de reconstrução, garantia sem limite de quilómetros e parceria com a FUCHS. Serão estes os principais trunfos da Sparkes e Sparkes?

Sem dúvida! Hoje, ninguém pode ter um carro parado à espera que seja reparado, nomeadamente as transportadoras… Por outro lado, quem paga por uma caixa reconstruída, quer receber um produto que não lhes dê problemas.

A Sparkes & Sparkes, que reconstrói todas as caixas nas suas instalações de Santo Tirso, pode garantir a qualidade desses componentes, o que leva a que ofereça uma garantia melhor do que as próprias marcas oferecem.

O óleo da FUCHS é apenas “a cereja no topo do bolo”, já que nos garante que a lubrificação das caixas de velocidade é feita corretamente, com a quantidade e qualidade de óleo indicadas para elas.

A Sparkes & Sparkes passou a ter de assumir muito menos garantias a partir da data em que as passou a fornecer com o óleo indicado. Por isso, a parceria com a FUCHS é muito importante.

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Como está a correr a incursão no mercado espanhol, onde a Sparkes & Sparkes tem uma presença cada vez mais “musculada”?

Está a correr muito bem! É uma tarefe muito difícil, porque nós não temos nenhum distribuidor ou vendedor na rua. Damo-nos a conhecer “apenas” nas exposições e pelo “passa a palavra” o que atrasa, naturalmente o crescimento. Mas nós somos resilientes, pacientes e acreditamos que chegamos lá.

Hoje, o nosso principal cliente é espanhol! Felizmente, este mercado está a tornar-se cada vez mais importante e mais significativo para nós. Estamos com muita expectativa em relação à Motortec já daqui a alguns dias, uma vez que sendo muito mais conhecidos em Espanha, será, acreditamos nós, muito mais fácil chegar a mais potenciais clientes.

A empresa planeia novos produtos e novas áreas de negócio, numa altura em que os carros novos equipados com caixa automática têm vindo a ganhar expressão?

Como disse anteriormente, investimos muito dinheiro em formação, em ferramentas e nas próprias instalações para podermos alargar o leque de ofertas que temos para os nossos clientes.

É obvio que cada vez há menos viaturas com caixa de velocidades manual.  Não podemos fazer de conta que isso não nos importa. Por outro lado, as caixas de velocidade de dupla embraiagem são caixas mecânicas, que nós já estávamos perfeitamente aptos a fazer.

Claro que há a parte hidráulica e eletrónica, que as tornam diferente e desafiantes, para nós. Mas, com a formação que garantimos para os nossos colaboradores, temos a certeza de que, brevemente, seremos, também, uma referência nestas caixas.

Alargar a atividade à reparação de caixas de velocidade automáticas seria uma forma de a Sparkes & Sparkes assegurar o futuro do negócio ou tal ainda não é uma preocupação, atendendo às características do nosso parque automóvel?

Sem dúvida que sim. E é isso que já estamos a fazer. Não consigo olhar para uma empresa e perceber que estão a olhar a cinco ou 10 anos. Para os próximos cinco ou 10 anos, parece-me que não teríamos muitos problemas ao nível de serviço.

A Sparkes & Sparkes reconstrói caixas de velocidade com idades até 20 anos, pelo que, em princípio, diria que para os próximos 20 anos estaremos tranquilos… Mas isso é teoria. E nos automóveis as coisas têm mudado muito rapidamente.

Por outro lado, era, para mim, muito difícil dizer todos os dias aos nossos clientes que não fazíamos um produto que eles precisam e querem, sem uma razão verdadeiramente válida.

Em 2013, chegou à empresa Diamantino Costa. Ainda se vê, pelo menos, mais uma década à frente dos destinos da Sparkes & Sparkes?

Gosto muito de trabalhar nesta empresa. Criei uma relação com a Sparkes & Sparkes, com os seus sócios, colaboradores, clientes e fornecedores que muito me agrada. Tenho o gosto de poder dizer que vou trabalhar à segunda-feira com a mesma vontade com que vou à sexta-feira. Não há muito que me pudessem oferecer que me fizesse ter vontade de mudar neste momento.

Agora, gostava muito que a Sparkes & Sparkes daqui a 10 anos fosse uma empresa diferente, maior, mais internacional, com um leque de produtos mais alargado, mas com o mesmo cuidado com o cliente, com a mesma qualidade e com a mesma vontade de fazer cada dia mais e melhor.

O que modificaria na companhia se a Sra. Ruth Sparkes lhe desse “carta branca” para alterar o que entendesse?

Na verdade, neste momento, tenho “carta branca” para fazer o que entender. E é isso que estou a fazer. A internacionalizar a empresa, principalmente para Espanha, e a tratar de garantir o futuro da organização, alargando o nosso leque de produtos.

Considera que a renovação total da imagem, em 2021, e a digitalização foram as maiores mudanças ocorridas na Sparkes & Sparkes?

Diria antes que foram dois passos importantes. A imagem, porque nos tornou mais jovens, mais modernos e de mais fácil reconhecimento. A digitalização, porque, hoje, não podemos andar atrás de pessoas e de papéis para saber o que o cliente precisa ou o que lhe oferecemos.

“Gosto muito de trabalhar nesta empresa. Criei uma relação com a Sparkes & Sparkes, com os seus sócios, colaboradores, clientes e fornecedores que muito me agrada. Posso dizer que vou trabalhar à segunda-feira com a mesma vontade com que vou à sexta-feira”

A digitalização é um passo difícil, mas, depois de estar implementado, faz tanta diferença que ninguém quer voltar ao que tinha antes.

Quantos colaboradores tem a empresa e como se processa a “mecânica” da vossa atividade, a partir do momento em que uma caixa de velocidades avaria até ser restituída ao cliente?

Neste momento, somos 12 pessoas, o que dá muito trabalho para cada um. Cada caixa de velocidades que reconstruímos é desmontada componente a componente, sendo as peças de desgaste automaticamente descartadas.

Depois, todas as peças são devidamente lavadas e analisadas para ver o seu estado. As que não estiverem em condições, ou as que, por experiência, já soubermos que podem falhar, são, também, descartadas e substituídas por novas. Depois, a caixa é montada e enviada para o cliente.

O stock de peças novas, de rolamentos e de mais de 1.000 caixas de velocidade que têm fazem a diferença no mercado?

Entendemos que sim, por um motivo que já disse acima. Hoje, ninguém quer ou pode ter um carro parado à espera de reparação. O facto de nós termos todo esse stock, de caixas e de peças, faz com que sejamos muito rápidos a resolver o problema do nosso cliente. E, isso, é fundamental. Chegamos ao ponto de termos clientes a não acreditar que já temos a sua caixa pronta.

Como olha a empresa para a eletrificação cada vez maior do automóvel que temos vindo a assistir?

Com muita naturalidade. Não fazemos de conta que não existe, não achamos que é uma moda, mas também não achamos que é o fim do mundo. Estamos atentos (muito atentos, aliás) e ativos a perceber para onde vai o mercado e para onde temos/queremos ir.

A aposta em feiras do setor, como a expoMECÂNICA a Motortec, e em eventos desportivos, como o ciclismo, é para manter?

As feiras, como a expoMECÂNICA ou a Motortec, são indispensáveis para nós. É aí que podemos falar com os nossos clientes e mostrar o que fazemos aos nossos potenciais clientes. Não tendo vendedores na rua, nem distribuidores, as feiras são a nossa montra.

Check-up Media Diamantino Costa smile

A participação em eventos desportivos é para continuar. Pode ser no ciclismo (temos um pequeno patrocínio do Maia, e um grande patrocínio na equipa da Reguenga, que consideramos a “equipa da terra”), mas, também, noutros desportos.

Temos apoiado a Federação Portuguesa de Basquetebol, patrocinamos, também, alguns veículos ligados ao ISEG e vamos tentando estar presentes onde achamos que temos visibilidade a um custo que nos interesse.

Qual foi o melhor ano de sempre para a Sparkes & Sparkes? E como terminou 2024, que começou com um acontecimento triste?

O ano de 2024 teve um sabor muito “agridoce” para a Sparkes & Sparkes. Começámos com o falecimento do nosso sócio-gerente e fundador da empresa, o Sr. Peter Sparkes, o que nos causou muita consternação.

Ao mesmo tempo, sabíamos que tínhamos de seguir o seu legado, fazer o nosso trabalho da melhor forma possível e continuar a levar o seu nome, o nome Sparkes, o mais longe possível.

Felizmente, conseguimos chegar ao final do ano passado com o melhor registo de sempre a todos os níveis. Maior faturação, maior número de unidades vendidas, maior percentagem de vendas para “exportação”… Pelo que, no final, contas feitas, foi um bom ano.

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