A tecnologia automóvel tem evoluído muito rapidamente. E e os fabricantes europeus estão na linha da frente para tornar os veículos autónomos numa realidade segura e acessível, dentro do possível.
Caso para dizer, até, que, nesta matéria, a indústria segue a uma velocidade difícil de acompanhar pelas infraestruturas e legislação necessárias para acolher o Nível 5 da condução autónoma.
Quando pensamos em condução autónoma, pensamos sempre em “tirar as mãos do volante. Mas um dos aspetos mais intrigantes e revolucionários desta transformação é ainda o desaparecimento dos pedais, uma mudança que poderá altera, profundamente, a forma como os condutores interagem com os seus carros e desafiar o conceito tradicional de condução.
Fabricantes como Audi, BMW e Mercedes-Benz, por exemplo, desenvolvem protótipos de veículos autónomos onde acelerador, travão e embraiagem são eliminados, em prol de uma experiência inteiramente automatizada.
Também nos centros de desenvolvimento de Volvo, Volkswagen e Renault estes modelos estão a ser estudados para se adaptarem a um futuro de mobilidade autónoma. Estes veículos, pertencentes ao Nível 5 de autonomia — que não requerem qualquer intervenção humana — podem redefinir o transporte como o conhecemos. Mas vamos por partes.
Breve história dos pedais
Desde a criação dos primeiros automóveis, os pedais foram fundamentais para que o condutor controlasse a velocidade e parasse o veículo. Embora a transição para veículos com caixa automática tenha reduzido o número de pedais para dois (acelerador e travão), o conceito manteve-se inalterado: pedais físicos que dão ao condutor a sensação de controlo direto e imediato. Agora, com os veículos autónomos, a próxima fase será, porventura, um habitáculo sem pedais.
Num estudo recente do Institut für Kraftfahrzeuge (Instituto para Veículos a Motor) da Alemanha, identificaram-se os principais desafios e oportunidades dos automóveis sem pedais, nomeadamente em relação à segurança e confiança dos condutores.
Para quem está habituado a controlar, diretamente, o carro, a ausência de pedais pode gerar alguma insegurança. Com os pedais substituídos por sistemas de Inteligência Artificial, sensores e algoritmos, o automóvel passa a “pensar” e a agir autonomamente, proporcionando uma condução mais precisa, mas, também, levantando questões sobre a adaptação dos utilizadores.
Tecnologia e segurança
A União Europeia tem investido na segurança dos veículos autónomos, através de normas rigorosas e políticas de segurança rodoviária. Em países como Alemanha, França e Suécia, marcas e institutos colaboram com as autoridades para garantir que a remoção dos pedais seja acompanhada por sistemas de segurança avançados, como travagem de emergência autónoma e sensores de deteção de obstáculos. Os fabricantes têm respondido à altura.
A Volvo, por exemplo, é pioneira na integração de sistemas de redundância para aumentar a confiança dos utilizadores, com travões de emergência independentes que intervêm caso o software principal falhe.
Em parceria com o Centro de Inovação e Tecnologia de Munique, a BMW trabalha em sensores de última geração para condições adversas, como neve ou chuva intensa, frequentes em várias regiões do continente.
A experiência de um carro sem pedais irá, sem dúvida, desafiar a forma como encaramos a condução. Marcas como Mercedes-Benz já testam interiores que substituem pedais e volante por painéis táteis, comandos de voz e até sistemas de reconhecimento facial, que identificam o passageiro e ajustam o ambiente do veículo de acordo com as suas preferências.
Na prática, isto significa que o “condutor” passará a ser apenas um passageiro, confiando na inteligência do automóvel para realizar cada manobra. A Volkswagen, através do seu centro de inovação na Alemanha, também aposta em interiores flexíveis, com assentos que podem rodar para formar uma área social. Desta forma, o carro é visto como um espaço de lazer ou trabalho, adaptado ao novo estilo de vida urbano.
Para muitos, a ausência de pedais representa um avanço em termos de conforto e acessibilidade. Pessoas com mobilidade reduzida beneficiarão de uma experiência mais inclusiva, pois deixam de depender de comandos físicos para controlar o carro. Para condutores mais tradicionais, esta nova configuração poderá causar algum desconforto inicial, especialmente na questão da confiança na tecnologia.
Transição para futuro
A transição para carros sem pedais não acontecerá de um dia para o outro. A Agência Europeia de Segurança Automóvel (EASA) estima que, até 2035, uma percentagem significativa dos veículos novos seja autónoma, com funcionalidades automatizadas que vão ganhando, gradualmente, a confiança dos consumidores.
Até lá – e a acreditar nesta data – os veículos autónomos irão, muito provavelmente, coexistir com os automóveis tradicionais, permitindo uma adaptação gradual a esta nova experiência. Mais: como é evidente, nem todos os países conseguirão seguir ao mesmo “ritmo” autónomo.
Nos Países Baixos e Suécia, já foram criadas faixas de rodagem exclusivas para veículos autónomos em alguns corredores de mobilidade urbana, facilitando a segurança e a aceitação pública. Em França, o “Projet Paris Autonome” testa frotas de transporte público autónomo, sem pedais ou volante, em rotas específicas no centro de Paris.
Os carros sem pedais representam uma transformação profunda, alterando não só o design dos automóveis, como, também, a relação das pessoas com a mobilidade. Com a confiança em sensores, algoritmos e sistemas de segurança reforçada, esta nova realidade promete simplificar o transporte e melhorar a experiência dos passageiros.
No entanto, a adaptação das infraestruturas e a aceitação pública serão essenciais para o sucesso desta mudança. O desaparecimento dos pedais — há poucos anos impensável — emerge como um marco no progresso da mobilidade, preparando o caminho para um novo conceito de condução que pode tornar as estradas mais seguras e o transporte mais eficiente.