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Motores alimentados a algas? Bioenergia terá uma palavra a dizer no futuro da indústria

Entre as várias soluções exploradas pela indústria automóvel, uma das mais intrigantes envolve a utilização de algas como fonte de biocombustível.
Check-up Media algae

A procura por alternativas sustentáveis aos combustíveis fósseis tem sido uma das prioridades da indústria automóvel nas últimas décadas. A crescente preocupação com as alterações climáticas, as emissões de carbono e a dependência de recursos finitos (o lítio de que são feitas grande parte das baterias é, também ele, escasso) colocou a energia renovável no centro do debate.

Entre as várias soluções que estão a ser exploradas, uma das mais promissoras e intrigantes envolve a utilização de algas como fonte de biocombustível. As algas, organismos aquáticos que podem ser encontrados em quase todos os ambientes, têm a capacidade única de produzir grandes quantidades de óleo através da fotossíntese.

Este óleo pode ser transformado em biocombustível, uma alternativa limpa e renovável aos derivados de petróleo. Este conceito não é novo, mas os recentes avanços tecnológicos estão a trazer a bioenergia à base de algas mais perto da realidade prática, com o potencial de revolucionar o setor automóvel. Mas vamos por partes.

Potencial das algas

As algas destacam-se entre outras fontes de biocombustível, como o milho ou a cana-de-açúcar, devido à sua eficiência na produção de óleo. Crescem rapidamente, não requerem solos agrícolas e podem ser cultivadas em ambientes que, de outra forma, seriam inadequados para a agricultura.

Além disso, certas espécies de algas podem produzir até 30 vezes mais óleo por hectare do que as plantas tradicionais usadas para biocombustíveis. Isso significa que, teoricamente, uma área de cultivo de algas poderia produzir quantidades substanciais de biocombustível sem competir com a produção de alimentos.

 Além da sua eficiência, as algas também têm uma pegada de carbono relativamente baixa. Durante o seu crescimento, absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, o que ajuda a compensar as emissões geradas quando o biocombustível é queimado.

Check-up Media car by the sea

Este ciclo de carbono fechado é uma das principais vantagens do biocombustível de algas sobre os combustíveis fósseis tradicionais, que libertam carbono armazenado há milhões de anos sem qualquer processo compensatório.

E funcionam como biocombustíveis?

O processo de produção de biocombustível a partir de algas envolve várias etapas. Primeiro, as algas são cultivadas em grandes tanques ou lagoas, onde são expostas à luz solar e a nutrientes para promover o seu crescimento. Quando atingem uma massa crítica, são colhidas e o óleo é extraído das suas células.

Este óleo pode, então, ser refinado para criar biocombustível. O “biocombustível de algas” pode ser usado de forma semelhante aos combustíveis fósseis tradicionais em motores de combustão interna. Na verdade, alguns estudos indicam que os motores convencionais podem ser adaptados para utilizar uma mistura de biocombustível de algas e Diesel comum, com poucas modificações.

Tal torna a transição para este tipo de combustível relativamente simples em comparação com outras alternativas, como a eletricidade ou o hidrogénio, que requerem infraestruturas totalmente novas.

O que dizem os estudos

Nos últimos anos, várias universidades e empresas têm investido no desenvolvimento de biocombustíveis à base de algas. Um estudo conduzido pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, por exemplo, concluiu que a utilização de algas para produzir biocombustível poderia reduzir as emissões de Gases com Efeito de Estufa até 70% em comparação com o petróleo tradicional.

Outro exemplo de avanço significativo é o projeto da Solazyme, empresa de biotecnologia dos EUA que tem trabalhado na produção de biocombustível a partir de algas em escala comercial.  Em 2012, a Solazyme assinou um contrato com a marinha dos EUA para fornecer biocombustível de algas, mostrando que a tecnologia está a ganhar reconhecimento em setores fora do mercado automóvel.

Check-up Media algae lab

Contudo, um dos maiores obstáculos à adoção em larga escala do biocombustível de algas tem sido o custo de produção. Cultivar algas em grandes quantidades e extrair o óleo de forma eficiente continua a ser mais caro do que a extração e refinação do petróleo.

No entanto, os custos estão a cair à medida que as técnicas de cultivo e processamento melhoram. A utilização de novas tecnologias de engenharia genética, por exemplo, tem o potencial de aumentar o rendimento de óleo das algas, tornando o processo mais eficiente e económico.

Obstáculos pela frente

Embora as algas ofereçam uma solução promissora, existem vários desafios que precisam de ser superados antes que o biocombustível à base de algas se torne numa alternativa viável ao petróleo em larga escala. Um dos principais desafios é a necessidade de infraestruturas adequadas para o cultivo de algas.

E esta não é uma questão pequena. As lagoas ou tanques de cultivo requerem grandes áreas e um fornecimento contínuo de nutrientes e luz solar. Ou seja, a logística de implementação de tais infraestruturas em áreas urbanas ou rurais continua a ser uma questão a resolver.

Outro obstáculo é a necessidade de mais investigação sobre os efeitos de longo prazo do uso de biocombustível de algas em motores de combustão. Embora os estudos preliminares sejam promissores, a durabilidade dos motores e a eficiência do combustível em diferentes condições climáticas precisam de ser melhor compreendidas.

Além disso, o transporte e a distribuição do biocombustível também representam algumas dores de cabeça. Será necessária a criação de uma rede de distribuição que permita que os veículos a biocombustível de algas reabasteçam de forma eficiente, algo que ainda está distante de acontecer em muitos países.

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