Tom pausado, palavras firmes e uma determinação invulgar na forma como explica o seu pensamento, sem nunca perder a calma, a simpatia ou a edução. Não é tarefa fácil quando o tema é futebol, clássico incendiário de paixões, por vezes, exacerbadas.
Não com Daúto Faquirá, nosso convidado da Oficina Vip. Treinador de currículo firmado, passou por clubes como SC. Covilhã, Estoril Praia, Estrela da Amadora e Vitória de Setúbal, entre outros.
Quando não está a treinar? Está a fazer comentário desportivo na CNN Portugal, por exemplo. Sempre com a mesma maneira de ser e de estar. Pacificada. Ora, como confessa ao Check-up, tem um pequeno truque para manter limpo o espírito: a pintura. Um amor antigo.
“Todos os treinadores têm algo para fugir ao stress da competição. Eu gosto de refugiar-me nas tintas e nas cores. Sinto-me tranquilo e sozinho. Preciso dessa paz”, conta.
Agarrar o volante
Daúto Faquirá nunca teve “carros de sonho” na juventude. “Havia dois modelos que, em miúdo, fosse pelos livros de banda desenhada que lia, fosse pelas conversas com entendidos na matéria, achava bonitos. O Rolls-Royce e o Ford Mustang. Tinha alguma preferência pelas linhas gerais destes carros. Mas nada de sonhar com eles”.
Hoje, conduz um SUV: Mercedes-Benz GLC 250d. Gosta de conduzir. “Não passo o volante a ninguém. Só confio na minha condução”, admite o treinador, que, apesar de “muito distraído”, garante ser “muito prudente e consciente” quando vai ao volante.
Só não lhe peçam para mudar o pneu, que já nem se lembra da última vez que o fez, nem tão-pouco desliguem os sistemas do veículo que o recordam do nível de óleo entre outros cuidados a observar em matéria de manutenção. “O carro dá-me sinal. Se não fosse isso, estava tramado”, reconhece ao Check-up.
Quem melhor o conhece, sabe perfeitamente qual é a única situação capaz de irritar Daúto Faquirá. “A falta de civismo das pessoas. O chico-espertismo, as constantes quebras de regras de respeito e altruísmo que vemos nas estradas em Portugal. Isso deixa-me louco. Acho que é o único lugar onde me ‘passo’. Pelo menos a minha família diz isso”, confidencia.
Treinar vs comentar
Será possível estabelecer um paralelismo entre a atividade de treinador, o comentário desportivo – e até a condução? “Ser treinador é incomensuravelmente mais exigente (atenção que não falo de condução de competição), mas o treino e, depois, a competição têm algo em comum com a condução e a estrada”, diz.
“Infelizmente, não dependemos só de nós. São sistemas abertos, onde sofremos influências exteriores. Mas, também, é válido para as duas tarefas: quanto melhor estiveres preparado, melhor dominas o que podes controlar e estás menos dependente dos outros e de fatores exógenos. Antecipas melhor os cenários. Mas em ambas as atividades é preciso ser criativo”, remata.